terça-feira, 23 de setembro de 2008

A CRISE FINANCEIRA AMERICANA


Como disse James Kunstler, parece que o furacão Ike passou realmente pela Wall Street e não pela pacata ilha de Gavelston no Texas. A segunda-feira (15/09/2008) em Manhattan amanheceu atolada em escombros do sistema bancário e até o presente momento não se tem idéia da extensão dos danos. O maior medo é que poderemos estar testemunhando uma situação clássica de “castelo de cartas” ou “efeito dominó” em que a morte do Lehman Brothers e Merrill Lynch poderia desencadear o colapso generalizado de um sistema que por muitos anos tem sido um dos pilares centrais da Wall Street.
Tudo começou, a exemplo dos furacões, a partir de movimentos simples em que o cidadão sem dinheiro para entrada, com comprovação de rendimentos do tipo, como dizem lá, “mickey mouse”, e pouco capaz de suportar mensalidades, foi beneficiado com financiamento a baixa taxa de juros para a aquisição da casa própria. Desconfia-se que os mutuários foram até mesmo laçados pelos intermediários (brokers) sedentos de comissões, que aliados ao capital disponível mais a ganância dos bancos comerciais turbinaram sobremaneira o processo.
A adoção do crédito frouxo era suportada pela premissa de que os imóveis sempre se valorizavam e assim poderiam ser refinanciados, em caso de inadimplência, rolando uma imensa bola.
Os assim chamados “créditos podres” migraram dos bancos comerciais para os bancos de investimento que, misturados a outros mais confiáveis, foram securitizados, graduados pelas agencias de investimento, segurados e vendidos a investidores ao redor do globo a que se prometia pagar a taxas proporcionais ao risco contra o pagamento dos mutuários. O que não se conseguiu graduação, o lixo do lixo, foi conservado e jogado no balanço de uma instituição em paraíso fiscal, camuflado sob o título de operações complexas. A instituição, no entanto, cuidava de remunerar a si mesma a altas taxas pela conservação desse lixo, lógico.
A coisa ia bem até que o número de execuções começou a gerar grandes quantidades de imóveis vazios e à venda, forçando o preço para patamares cada vez mais rasteiros ameaçando detonar um efeito dominó.
A intervenção do governo foi parodiada àquela piada polaca em que o alfaiate para aumentar o tamanho da túnica em quatro centímetros, corta essa medida nos ombros e a costura à barra e a coisa seguiu efervescente até rolar de barriga para cima, tal qual uma baleia arpoada, o primeiro banco gigante, o Bear Stearns. De efervescência a ebulição, a quebra de mais duas grandes instituições e o balançar da AIG, pode fornecer indícios de que a crise ainda está em expansão e pode estar ainda sendo minimizada pela retração do preço do petróleo, atribuído à retração da demanda, e a ajuda governamental.
Ou seja, está ruim mas ainda pode piorar.
Esta idéia parece ser compartilhada pelo FED. Afinal, o ganho de valor obtido pela moeda americana frente as principais moedas, talvez justificaria outro corte na taxa básica de juros, mas o banco central americano preferiu deixar como está quando se reuniu na terça feira, dia 16/09.
Não existe possibilidade de estabilização da economia sem a diminuição de volatilidade dos preços da energia, assim, com a chegada do inverno no hemisfério norte, em novembro, a crise promete esquentar ainda mais com o aquecimento da demanda pelo óleo. Os americanos podem estar dirigindo menos mas não vão poder se adaptar tão rapidamente à temperatura agradável aos pingüins.
Ao que parece, o prato principal para a festa de entrega deste governo ao próximo, deverá ser “recession au poivre”.