sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

UM DIA O CAVALO CAI


Sempre que abro a página de meu banco pela internet aparece lá que tenho uma linha de crédito pré-aprovada de x reais à taxa módica de 1,89% ao mês.

Interessante que o valor x corresponde ao saldo de uma pequena poupança que tenho com o banco, e claro que, quando fui investigar, parece existir mecanismos que assegurem a poupança como garantia do empréstimo oferecido.

No frigir dos ovos o banco faz a intermediação entre a pessoa e ela mesma lhe cobrando uma polpuda taxa para que ela tenha acesso às suas próprias economias.


A oferta é perturbadora por levantar a seguinte questão: haveria alguém propenso a remunerar o agente financeiro (nem estamos discutindo o valor das taxas) para utilizar suas próprias economias?

Sim, deve ser a resposta, a oferta não permaneceria no ar se não rendesse resultados.

Os agentes financeiros gostam de denominar ofertas deste tipo como “produtos”.

A origem é arquetípica.

Produtos dão a idéia de mercadorias em que haja trabalho humano e, portanto, passíveis de que lhe sejam atribuídas um valor, na visão acertada de Karl Marx.


No entanto, o próprio pensador preconiza que uma mercadoria para ter um valor necessita ser de alguma utilidade.


Imagino as noites de verdadeiro “brainstorm” dos criadores desses “produtos”, muito trabalho intelectual, sem dúvida, mas onde estaria a utilidade para que pudesse conferir algum valor a estes?

É desafiante, chegando às raias do ridículo, imaginar alguma utilidade de um produto que, no final, redundasse no pagamento de uma tarifa para a utilização de um bem próprio, a não ser que imposto pelo Estado.

E quando se fala em “produto de crédito” o pasmo se converte em revolta. Que crédito é conferido a alguém quando se lhe confisca a poupança para retorná-la em forma de empréstimo? Haveria algum exercício de confiança?

Haveria a incursão em algum risco?

Não.

Então, literalmente, as instituições só estão realmente oferecendo crédito a quem não precisa dele e esses “produtos” inúteis, como uma forma cabal de aumentar os lucros a partir do nada, um embuste que vem aderindo aos contornos da confiança, fazendo com que todo o sistema faça água.

Hoje, comenta-se que o sistema capitalista deverá ser protegido dos próprios capitalistas.

Isto faz todo um sentido.

Os especuladores são necessários para dar sensibilidade ao sistema, no entanto, como eles não produzem, realmente esperam ganhar a partir do nada, a sua proliferação descontrolada tende a arruinar todo o modelo, pois rapidamente fazem com que os gastos suplantem a produção gerando crises como a atual.

Não significa que se pode imputar a alguém alguma culpa.

Se há um culpado, este é o Estado que falha em enxergar os desvios de rumo e corrigi-los a tempo.

O país pratica as maiores taxas de juros do mundo e ainda pretende que isto é normal dentro de uma conjuntura própria, um erro crasso.

Por exemplo, se medirmos a temperatura corporal da população de certa região e encontramos, digamos, 42 º C . O que é mais fácil concluir, que é normal para a região devido às peculiaridades climáticas ou esta população está doente?

O patamar dos juros hoje permite que os bancos captem a 6% e emprestem à taxa Selic sem nenhum risco já que o tomador é o próprio governo, ou seja, com um só computador dá para operar um banco lucrativo fazendo somente uma operação.

Mas não poderiam ficar só nisto, tentaram cobrar de seus clientes um excedente na emissão de cheques que foi vedada pelo Banco Central, mas ainda cobram excedente na utilização de caixas eletrônicos que ainda é permitido pela autoridade reguladora, como se pudesse existir diferença no fundamento da cobrança.


Tarifas malucas, e por aí vai.

E foi. uma enorme bandeira de certo banco na frente do trio elétrico da Timbalada, a música era outra, mas a que eu ouvia era um refrão muito divulgado nas rádios de Salvador como parte do comercial deste banco:
E vinha o “i”
depois o “a”
E depois o “uuuu” ....... sugerindo rimas óbvias para a alegria de Joãozinho.