sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

MAIONESE SELIC


A questão hoje é verificar se existe maneira de salvar os ingredientes se a maionese começar a desandar.


A questão central é a gema, e se a maionese fosse a economia, o cerne do ovo seria a taxa básica de juros, a SELIC.

O SELIC - Sistema Especial de Liquidação e Custódia - é o depositário central dos títulos da dívida pública federal interna. Em última análise é a rentabilidade mínima do capital que tem garantia governamental. Empreste para o governo e ele devolve seu capital acrescido da taxa SELIC vigente, hoje em 13,75% ao ano.

Sabe-se que o óleo e a água não se misturam. Como isso acontece na maionese?

O segredo está na gema, que serve de ponte entre dois líquidos. Ela tem lecitinas, moléculas com afinidade tanto pela água como pelo óleo.

Sabe-se, também, que não se misturam, o especulador, aquele que pretende ganhar a partir do nada, com o trabalhador, aquele que espera ganhar pelo suor de sua camisa. Então quando se é oferecida uma taxa elevada é um convite à especulação, e o contrário um convite ao investimento.

No entanto, o governo não está somente querendo captar, para financiar seus gastos, recursos na moeda local. Claro, inserido como está no mercado global, quer promover o desenvolvimento com a importação de tecnologia e produtos que de alguma maneira beneficiem o público nacional.


Isto, em adesão à nossa metáfora, pode ser comparado aos temperos que se adicionam à mistura, como o limão, mas que trazem junto quantidades de óleo e água em proporções diversas.
Falando como gourmet(não há quem não seja), recomendo que a maionese comece a ser batida pelo vinagre, limão ou óleo. Coloque então algumas ervas como salsa e cebolinha, bem picadas. Só depois entre com a gema e, pouco a pouco, com o azeite.

O dólar em baixa no mercado internacional fez com que os investidores procurassem alternativas de ganhos nos mercados emergentes, como forma também de se proteger contra a corrosão da moeda. Os recursos, que aqui chegavam, eram trocados pelo real cada vez mais forte e remunerados pela taxa Selic, cada vez mais alta. Existia a confiança que era como o batedor da mistura até que...desandou.

“Quero pedir para que a gente retorne à atividade econômica com uma certa normalidade. Por isso, atendemos imediatamente à indústria automobilística, porque ela representa 24,5% do PIB industrial.” (Suposta fala do presidente Lula em reunião com Meirelles e Mantega – Correio Braziliense 04/12).

Ao que parece, os recursos, em última instância, repassados aos bancos das montadoras para o crédito, foram canalizados para o mercado cambial, afinal a valorização do dólar vem a passos muito mais largos que qualquer Selic + juros extorsivos, o que definitivamente prova que apagar incêndio com gasolina ou óleo não é adequado, assim como muito óleo na maionese, como veremos a seguir.

Se a maionese desandar, não tente salvar as coisas colocando mais óleo. Coloque água. O creme desanda porque há pouco espaço para as gotículas de óleo e elas, na falta de espaços vazios, acabam por se chocar. A água resolve o caso, ao abrir mais espaços.

Último conselho: quanto menos gema, melhor. Ela só é necessária em pequenas quantidades e o excesso prejudica o gosto do produto final.

Bom, espero que no final de tudo isso nossa equipe econômica tenha aprendido a, pelo menos, fazer maionese.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

DESERTOS


“O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, exaltou nesta quinta-feira a forte regulação e o provisionamento dos bancos brasileiros, que conseguiram manter o sistema bancário local afastado do epicentro da crise financeira global. "A prudência compensa", disse Meirelles em discurso no jantar anual da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).”

O que teria querido dizer a eminente autoridade com as assertivas acima?

Exaltou a forte regulação e o provisionamento.

Segundo o Aurélio, quem exalta torna alto, sublime, grandioso, alguma coisa. No caso, o que a autoridade diz ser grandiosa ou sublime é a forte regulação e o provisionamento dos bancos brasileiros. Podemos entender que a regulação é efetuada pelo BC, só que aí deparamos com o primeiro entrave em nossa análise; qual seria o objeto da exaltação?
Descartada a hipótese que o presidente estaria a exaltar si mesmo, nos resta somente a de que ele estaria a exaltar, na posição de presidente da instituição reguladora do sistema financeiro nacional, o bom trabalho das entidades reguladas em se auto-regular e no tocante à questão do provisionamento.


Mas o que seria provisionamento?

O nosso habitual socorro, o Aurélio, falha em nos transmitir o significado de tal vocábulo. Talvez tenha sido inventado em função de algum tempero excêntrico presente nas iguarias servidas no jantar.
O que nos salva, contudo, é que a raiz da palavra é conhecida, e tem a ver com provisão.

A idéia coloquial de provisão é de abastecimento, fornecimento, sortimento, provimento, mas no caso, conhecido o ambiente contábil em que se desenrolava a conversa, a idéia é de separação de um valor para uma determinada conta, como na “provisão para devedores duvidosos” em que se separa um valor que se acredita perdido mas que ainda os custa a admitir o fato.

A dificuldade, agora, em nossa análise é que a provisão, qual como é definida, sempre antecede o que se quer prover, ou antever um valor para. Assim, é desprovido de qualquer sentido o fato da provisão acompanhar o que se quer “provisionar”, como o ilustríssimo senhor deixou a entender em sua fala:

“Meirelles ainda defendeu, durante seu discurso, que o Brasil poderia ter um sistema de provisionamento de crédito que acompanhasse a concessão deste crédito. Atualmente, os bancos fazem o provisionamento de acordo com o tipo de financiamento dado e com o nível de risco que considera ter ao fazer a operação.”

Contabilmente, o financiamento é que teria que acompanhar o “provisionamento”.

Contudo, analisando no contexto e atento à chave “A prudência compensa” o Sr. Presidente, de fato, elogia a atitude dos bancos em se expor menos a riscos, separando uma parcela (provisão) menor do dinheiro disponível para financiamentos e empréstimos apesar dos tentadores ganhos prometidos pelas taxas de juros (prudência).

Embora, se saiba que menos dinheiro para o financiamento do desenvolvimento significa mais dinheiro para a especulação e para outros fins menos nobres, a seguir passam para as apostas em quanto deverá crescer o país em 2009, apesar de todos esses entraves.

“Já o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse durante a sua fala que as conseqüências da crise são menores no Brasil, inclusive na comparação com os demais países emergentes. Por esse motivo, continua mantendo a sua aposta de que o PIB (Produto Interno Bruto) crescerá 4% em 2009.
A maioria dos analistas apostam que o PIB ficará em 3%, segundo o último boletim Focus, do Banco Central. "É uma meta ambiciosa, mas exeqüível", disse o ministro.”

Qual seria a aposta do ministro, 3 ou 4% ?

Outra coisa a lamentar é a redação dos jornais. Ao final da leitura, a impressão que se tem é que ficou um espaço em branco na memória. Mas é só impressão porque, em raros casos, existe alguma matéria que a inteligência aproveite.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A FILA DA SOPA


O grande problema desses planos de resgate é, que conhecendo um pouco da natureza humana, uma operação deste tipo tende a se transformar em buraco negro.
Depois de ajudar os bancos, formou-se rapidamente uma fila que vem aumentando de tamanho de forma estonteante e de final incerto, podendo culminar estar todo o país disputando por um lugar nessa fila como na outrora sopa do Zarur.
Isto, apesar do país ter antecipado a ajuda aos bancos,de antes da crise, permitindo a cobrança de juros escandalosos e tarifas indecentes e ter durante muitos anos sustentado as empreiteiras que, organizadas em cartel, manipulavam os resultados das licitações mantendo os preços em patamares ultrajantes, e as multinacionais banido qualquer ameaça de existência de uma montadora genuinamente brasileira O ciclo da baderna se fechava na majoração dos velhos impostos e não bastando, na criação de novos.

Sabemos que depois de algum tempo e, muitos devem ter experiência própria deste fato, a ajuda vira obrigação. Da mesma forma que quase toda ajuda de custo virou salário, o governo se verá de alguma forma construindo uma estrutura de novos subsídios e a coisa pode mesmo não ter fim.

O próximo, por favor.

Aparecem as montadoras. Isto tem muito a ver com os nossos irmãos do norte e a triste situação em que se encontra a GM. A gigante está enfileirada para quebrar, e se isso realmente acontecer, as conseqüências serão catastróficas lá, e caóticas aqui. Diferentemente de outras companhias, como as aéreas por exemplo, o público não costuma adquirir produtos de fabricantes que estão passando por dificuldades e com futuro incerto na manutenção de suas garantias, inviabilizando uma possível recuperação da empresa. Ao contrário, levando-os por uma espiral rapidamente à extinção.


Com os lucros, em dólar, decrescentes em todo o mundo devido à valorização da moeda americana, queda nas vendas e crédito difícil já são ingredientes bastante para uma perfeita tempestade, quero dizer, a tempestade ainda não chegou.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

NOTICIAS ENLATADAS


Por que temos que ajudar as montadoras?
As últimas novas são que O BCE (Banco Central Europeu) decidiu nesta quinta-feira reduzir a taxa básica de juros na zona do euro em 0,5 ponto percentual, para 3,25% ao ano, e o Banco da Inglaterra ( O BC Inglês ) também decidiu hoje reduzir sua taxa básica de juros do país de 4,5% ao ano para 3%.
E Mantega confirmou
R$ 4 bilhões do BB, para ajudar os bancos de montadoras a elevar o crédito aos consumidores. No discurso, Mantega afirmou que o dinheiro é suficiente para garantir as vendas nos meses de novembro e dezembro --após esse período, o ministro disse esperar uma normalização do crédito nesse setor. Haja otimismo.

Enquanto isso, o BC já fez atuações no mercado de câmbio no valor de US$ 39,95 bilhões entre os dias 19 de setembro e 05 de outubro para segurar a disparada do dólar.

Está, portanto, aberta a temporada de ajuda aos pobres ricos.

Corre nessas conversas de botequim, uma lenda em que um certo parlamentar nos idos anos 70, um dia se deparou com uma Mercedes conversível na porta de casa, presente para sua esposa segundo a boca rota de alguns, “só para não mencionar a palavra “ferrovia” no plenário” . Coincidência ou não, nossas ferrovias foram desaparecendo a ponto da CSN única fabricante de trilhos nacionais ter abandonado o negócio.
Trilhos, hoje, só chineses.
A construção das estradas de rodagem, ao contrário, tomaram um ímpeto desenvolvimentista espetacular junto com a indústria automotiva, e hoje nos achamos com os pilares de nossa economia assentados sobre essa coisa... movediça!
Curioso, é que, diferentemente da China, da Índia e da Rússia, nossos parceiros na palavra “Bric” , não conseguimos desenvolver uma indústria genuinamente brasileira, ou se desenvolvemos, foi às custas do trabalho heróico do engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, mas que no final deu atolado na praia do Ceará.

Mas por que temos que ajudar as montadoras?

Segundo alguns piadistas americanos, os EUA devem querer nacionalizar ( sim, nacionalizar, porque lá não é politicamente correto falar em estatização) a industria automotiva para continuar fabricando seus jeeps militares, mas é claro que no Brasil isso não faz qualquer sentido.
Também não faz sentido entupir as saturadas vias de mais veículos, pois olhando o minhocão de longe, mais parece uma imensa composição ferroviária tal como andam engatados os carros. A única diferença é que se fosse um trem, se moveria.

Por que temos que ajudar as montadoras?

Sim, acho que posso responder. Deve ser tal qual a ajuda que o psicólogo, místico ou religioso prestam aos doentes terminais, no final de linha, segurando suas mãos para transmitir uma certa sensação de conforto...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

MONEY TALKS


O Brasil pode ter maioridade econômica de fato, mas psicologicamente está preso à época do império. Diante de tanto barulho não consegue discernir para que lado a banda toca.
Dizem os mestres que o primeiro passo para a reabilitação de um erro é reconhecer que errou, e não estar infantilmente à caça de justificativas, mesmo porque o passado já não interessa, e o tempo é precioso.

A recessão chegou para os EUA e pelo jeito bateu forte para inverter o caminhar de uma economia tão gigante, tão pesada.

Segue o pânico e desespero. O primeiro monstro a enfrentar, a deflação.

A primeira evidência de que o desespero tomou conta, é o corte pelo FED da praticamente inexistente taxa básica de juros, e a segunda derramar mais dólares no mercado global.
A escassez da moeda americana vem forçando os preços (em dólar) para baixo e a tendência do cambio dos parceiros comerciais é, ainda, reforçar menores preços para os produtos exportados por aquela nação.

Diante disso, veio o ato desesperado de conter a valorização cambial via swap entre bancos centrais, últimos países contemplados: Brasil, México, Coréia do Sul e Singapura. Trata-se de uma operação de crédito em que se tomam dólares a pagar com as respectivas moedas locais.

Não se trata de um acordo, e também não visa conter efeito da turbulência sobre a economia desses países, como se tem noticiado, mas, sim agir sobre o cambio tentando minimizar os efeitos das variações cambiais nas relações com esses países. ( No Brasil, por exemplo, a moeda americana chegou a valorizar perto de 50%, significando que os produtos importados também ficaram mais caros em cerca de 50%).

É ingenuidade pensar que um país em crise estaria a administrar a crise de outros, mesmo que quisesse não lhe sobraria tempo

Enquanto isso, permanecemos sentados à beira do cais a olhar navios, ou melhor, caravelas, ou mesmo moinhos, embora torcendo para que tudo dê certo.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O OLHO DO FURACÃO



O olho do furacão é saudado pelo bom tempo que proporciona, mas o ar é sinistramente carregado. Com o passar do olho, o vento volta com igual fúria de antes e em sentido contrário. O que se viu fragilizado antes, se verá arrancado depois com a mesma perícia que os mestres de carpintaria extraem um prego.

Após a passagem do furacão só resta aos flagelados, um árduo trabalho de reconstrução.
A atual turbulência no sistema financeiro vem ganhando proporções de furacão, talvez até mais intenso que o que ocorreu em 1930, e o que se especula, não é quando passará e sim, o quão distante do “olho” estamos.

Cresce o temor de que a recessão realmente se instale gerando no primeiro momento um processo deflacionário decorrente da falta de crédito e liquidez no mercado. Sem dinheiro e sem crédito, os preços só podem mesmo recuar, esmagando os lucros do sistema produtivo e inviabilizando empreendimentos, enquanto permanecer a força atuando neste sentido.

Segue um breve período de paz, com a passagem do “olho”.

A necessidade de reconstrução num cenário de infra-estrutura desolada, proporcionará o surgimento da força em sentido contrário, a inflação.

Essa pode ser perniciosa a ponto de tomar décadas antes que o mundo se organize de novo em algum tipo de progresso sustentável.
Os indicadores econômicos apontam para alguma coisa parecida com a depressão de 1930, mas com um cenário muito menos favorável energeticamente falando, uma população muito maior para um planeta bem mais depredado, além de um povo muito mais cansado.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A CRISE FINANCEIRA AMERICANA II



O que temos visto noticiado pela imprensa da área econômica é, em suma, um contínuo bombear de dinheiro do governo, ou seja do público, para os bancos privados.

As cifras são astronômicas, e por isso, muitas vezes traduzidas em porcentagem do PIB.


Fala-se em meio a muito alarde, de planos de resgate do sistema financeiro mundial, uma coisa de tamanha complicação que só mesmo os computadores entendem. Porém, as razões e os efeitos deste atual desvario mundial não podem estar apartados dos fundamentos a partir dos quais foram montados. Sendo o sistema financeiro uma criação humana, ele deve ser compreensível e acessível pela mente humana a partir de um raciocínio simples.

Observar um fluxo de dinheiro do sistema público para o sistema bancário privado, considerada a elite do capitalismo ou os donos do dinheiro, é deveras, e a qualquer tempo, uma coisa surpreendente. Como poderia os donos do dinheiro estar a necessitar do que sempre tiveram?
Considerando que o mundo ainda preserva um mínimo de sanidade, podemos deduzir que os ricos perderam muito dinheiro, e pelo pânico, mais que o razoável em uma jogatina em Las Vegas.

Segundo o que se diz, eles foram pouco responsáveis em suas apostas, concedendo crédito à pessoas pouco confiáveis, os ditos “subprime”, que de alguma forma se uniram em um “balão” generalizado, deixando os pobres ricos menos ricos, quiçá pobres.

Sim, é surpreendente, mas devemos acreditar porque os eventos que se sucedem fornecem prova cabal de que o inimaginável ocorreu.

Os pobres, agora, se vêem pressionados a emprestar dinheiro aos ricos, sob a ameaça do colapso total do sistema desenvolvido democraticamente, ou a favor da maioria pobre por definição e por concepção.

Os vários planos de resgate que vem sendo noticiados pela imprensa mundial é literalmente “resgate”, motivado pela dependência psicológica ou apego no que se quer resgatar, não interessando no primeiro momento se a coisa vem viva ou morta, ou se vai continuar operante ou não.

Na língua inglesa, essa alusão é feita pela expressão “shore up” que significa mais ou menos “colocar na praia”.

Como disse Benn Steil, diretor do Conselho de Relações Exteriores EUA “ Isto se parece como alguma coisa levada pelo pânico.” Segundo ele, se referindo ao plano de Paulson , o objetivo do governo é colocar um piso no valor dos ativos antes que virem pó.

A mesma idéia de emergência com o que o plano se reveste foi sentida pelo Premio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, quando disse que o plano “não é mais que uma solução de curto prazo”.

Letras grandes e gráficos coloridos, como se estampam as notícias nos jornais, dão a impressão de que a coisa não é tão séria e até toma um ar festivo quando o que se passa é por culpa daquele vizinho chato.

A verdade é que o produto, que agora explode na mão deste vizinho, nós também temos, usamos e dormimos com ele debaixo do travesseiro, e com isso corremos o risco, de um dia, acordarmos sem a cabeça.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Mary Lu


A ação coordenada dos bancos centrais em cortar a taxa básica de juros significa uma permissão para a entrada da inflação mundial a ser computada como custo para o controle da crise que tomou dimensões tsunamicas e ainda ameaça engolfar o mundo.

A despeito de todo o socorro, a monstruosa e pesada economia mundial vem perdendo velocidade como um navio que tenha desligado os motores. Todo o pânico que acomete os investidores é que o monstro pare (estagflação) ou mesmo ande para traz (recessão).

O que vem a seguir?

Menor consumo significa menor produção. Menor produção significa custo mais alto por unidade produzida, portanto, menos lucro. Menos lucro significa menos investimentos além da prática de preços mais altos pelas indústrias que queiram se manter no mercado.

Assim, os EUA tomam o mesmo caminho das crises anteriores que é a desvalorização de sua própria moeda, agora em consonância com a desvalorização das moedas de outras nações desenvolvidas, ou seja, vem aí uma outra onda de inflação mundial, na melhor das hipóteses.

No entanto, pode ser que a retração do consumo seja tão violenta que não se consiga evitar uma quebra generalizada. A falta de dinheiro no mercado (crise de liquidez) leve a uma continua desvalorização dos ativos, a deflação, e essa leve à máxima: “por que consumir hoje o que estará mais barato amanhã?”

Portanto, o momento é de cautela.

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, lançou um alerta sobre possíveis "emergências bancárias" no mundo em desenvolvimento e crise nas balanças de pagamentos na medida em que a atual crise financeira avance. Já o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, pediu que os países da União Européia colaborem na busca de uma solução para a crise financeira e não adotem medidas unilaterais

E o nosso BC? Queimou largada e disparou na frente, só que para o lado errado.

É curiosa é a posição da autoridade monetária nacional diante destes últimos fatos. Aumentar a taxa de juros. significa colocar o país em recessão e, ainda, com uma inflação enfiada goela abaixo; deixar como está para ver como é que fica, é arriscar-se a ficar com a cara de perdido, como cachorro em procissão; cortar a taxa de juros é admitir que nunca deveria ter elevado e, assim, ficar com a cara de Mary Lu.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A CRISE FINANCEIRA AMERICANA


Como disse James Kunstler, parece que o furacão Ike passou realmente pela Wall Street e não pela pacata ilha de Gavelston no Texas. A segunda-feira (15/09/2008) em Manhattan amanheceu atolada em escombros do sistema bancário e até o presente momento não se tem idéia da extensão dos danos. O maior medo é que poderemos estar testemunhando uma situação clássica de “castelo de cartas” ou “efeito dominó” em que a morte do Lehman Brothers e Merrill Lynch poderia desencadear o colapso generalizado de um sistema que por muitos anos tem sido um dos pilares centrais da Wall Street.
Tudo começou, a exemplo dos furacões, a partir de movimentos simples em que o cidadão sem dinheiro para entrada, com comprovação de rendimentos do tipo, como dizem lá, “mickey mouse”, e pouco capaz de suportar mensalidades, foi beneficiado com financiamento a baixa taxa de juros para a aquisição da casa própria. Desconfia-se que os mutuários foram até mesmo laçados pelos intermediários (brokers) sedentos de comissões, que aliados ao capital disponível mais a ganância dos bancos comerciais turbinaram sobremaneira o processo.
A adoção do crédito frouxo era suportada pela premissa de que os imóveis sempre se valorizavam e assim poderiam ser refinanciados, em caso de inadimplência, rolando uma imensa bola.
Os assim chamados “créditos podres” migraram dos bancos comerciais para os bancos de investimento que, misturados a outros mais confiáveis, foram securitizados, graduados pelas agencias de investimento, segurados e vendidos a investidores ao redor do globo a que se prometia pagar a taxas proporcionais ao risco contra o pagamento dos mutuários. O que não se conseguiu graduação, o lixo do lixo, foi conservado e jogado no balanço de uma instituição em paraíso fiscal, camuflado sob o título de operações complexas. A instituição, no entanto, cuidava de remunerar a si mesma a altas taxas pela conservação desse lixo, lógico.
A coisa ia bem até que o número de execuções começou a gerar grandes quantidades de imóveis vazios e à venda, forçando o preço para patamares cada vez mais rasteiros ameaçando detonar um efeito dominó.
A intervenção do governo foi parodiada àquela piada polaca em que o alfaiate para aumentar o tamanho da túnica em quatro centímetros, corta essa medida nos ombros e a costura à barra e a coisa seguiu efervescente até rolar de barriga para cima, tal qual uma baleia arpoada, o primeiro banco gigante, o Bear Stearns. De efervescência a ebulição, a quebra de mais duas grandes instituições e o balançar da AIG, pode fornecer indícios de que a crise ainda está em expansão e pode estar ainda sendo minimizada pela retração do preço do petróleo, atribuído à retração da demanda, e a ajuda governamental.
Ou seja, está ruim mas ainda pode piorar.
Esta idéia parece ser compartilhada pelo FED. Afinal, o ganho de valor obtido pela moeda americana frente as principais moedas, talvez justificaria outro corte na taxa básica de juros, mas o banco central americano preferiu deixar como está quando se reuniu na terça feira, dia 16/09.
Não existe possibilidade de estabilização da economia sem a diminuição de volatilidade dos preços da energia, assim, com a chegada do inverno no hemisfério norte, em novembro, a crise promete esquentar ainda mais com o aquecimento da demanda pelo óleo. Os americanos podem estar dirigindo menos mas não vão poder se adaptar tão rapidamente à temperatura agradável aos pingüins.
Ao que parece, o prato principal para a festa de entrega deste governo ao próximo, deverá ser “recession au poivre”.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Agora vamos a Paris


O presidente do Banco Central de Israel, Stanley Fischer, disse que a velha piada de que o Brasil é o país do futuro está ultrapassada. Segundo ele, o Brasil já é um país do presente. Fiquei preocupado com este dito porque sempre depositei fé neste país e por isso nunca pude entender a piada. Fiquei ainda mais inquieto quando vislumbrei a possibilidade da eminente autoridade estar remodelando a piada para o presente, podendo surgir outra, em tempo futuro, mas nem tão futuro, dizer que o Brasil é um país do passado.

A idéia do presente se fixou em minha mente depois que li Delfin Netto dizer que “o Brasil continua sendo o último peru com farofa disponível fora do Dia de Ação de Graças” e, junto com ela, a exigüidade deste momento de glória presente e o tétrico futuro que se vislumbra com a deterioração de nossas contas externas.

Com toda esta catástrofe que vive os investidores brasileiros na Bovespa ainda é lucro para os investidores estrangeiros. Na última semana de julho de 2008, o jornal, The Economist, mostrou que mesmo depois dos ajustes vividos pela Bovespa, ela ainda rendia, quando comparado com a última semana de 2007 (sete meses, portanto), em dólares + 4,6%, enquanto que todas as outras bolsas por esse globo despencavam. (EUA –12,7% , China –42,3%, Japão –8,5% Eurolândia –17,5%, Espanha –16,1% Rússia –7,3%, Índia –31,0%). Deduz-se disso, senhores, que a situação ainda pode piorar. Aliás, tudo se tem feito para que piore na execução da política monetária e cambial. Para Bresser (em seminário na FGV), "a taxa de câmbio do Brasil é suicida e levará para uma crise de pagamentos em dois ou três anos", ainda com seu velho otimismo, qualificou a política cambial de alucinada. Para Yoshiaki Nakano, "O Brasil continua enfrentando um velho problema: “a combinação de taxa de juros absolutamente elevada e a apreciação da taxa de câmbio", no mesmo seminário. No mesmo evento, o ministro Mantega disse considerar que a valorização do real frente ao dólar está quase no limite do que a economia pode suportar "Se for mais adiante, estamos perdidos".
Engraçado que não compareceu ninguém para defender a tal política, a não ser, claro, o autor da própria e as cocotas que trocaram o destino de suas viagens , ao invés de Miami, Paris e os importadores de trilhos chineses.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

HIDROGENIO COMBUSTIVEL


Na época da universidade, eu tinha um professor, o de máquinas térmicas, que entusiasmava a classe com a idéia do uso do hidrogênio como combustível automotivo, “o combustível do futuro” , ele dizia, passando a enumerar as vantagens do “combustível dos foguetes”, “facilmente obtido a partir da eletrólise da água”. Isto foi em 1974.
Vê-se que a idéia não é nova e por muito tempo eu acreditei que o futuro automobilístico estaria associado ao hidrogênio, até que o conhecimento e o tempo desvelaram um mito. Factível mas impraticável. Meu entusiasta mestre era, na verdade, mais um sonhador.
Um artigo de autoria de Alice Friedman em skeptic.com , que reproduzo abaixo, oferece um panorama bastante elucidado da realidade envolvendo o assunto:

Há muito já se provou a impossibilidade do “moto-perpétuo” ou energia gratuita ou mesmo da fusão a frio. Mas o que se sabe a respeito da energia a partir do hidrogênio? Antes de investirmos trilhões em uma economia a hidrogênio, devemos estudar a ciência e a pseudociência por detrás do assunto. Comecemos pelo carro a hidrogênio.
Apesar do Motor de Combustão Interna (MCI) que move seu carro poder também queimar hidrogênio, a idéia é de que em algum dia, células de combustível, que se baseiam em processos eletromecânicos ao invés de combustão (que converte calor em trabalho), se tornarão mais eficientes e menos poluidores que os MCI’s. As células de combustível foram inventadas antes dos motores em 1839 por William Grove. Porém os MCI’s ganharam a corrida usando a abundante e barata gasolina, fácil de transportar e manusear, e grande quantidade em energia armazenada por volume.


Produção
Diferentemente da gasolina, o hidrogênio não é fonte de energia – é um armazenador de energia, como a bateria. Você tem que fazer o hidrogênio e colocar energia nele, ambos processos consomem energia.
O hidrogenio tem sido usado comercialmente por décadas, logo já sabemos como fazer. Existem dois modos de produzir hidrogênio: usando o gás natural como fonte e energia para separar o hidrogênio do carbono (CH4), ou usando a água como fonte e energia renovável para separar o hidrogênio do oxigênio (H2O).
1) Fazendo Hidrogênio a Partir de Combustíveis Fósseis. Atualmente, 96% do Hidrogênio é feito a partir de combustíveis fósseis, principalmente pelo refino e hidrogenação do óleo. Nos EUA 90% é feito a partir do gás natural, com uma eficiência de 72%, o que significa que se perde 28% da energia contida no gás natural no processo ( e não está incluída aí a energia gasta para extrair e transportar o gás natural até a usina de hidrogênio)
Um dos principais argumentos para a mudança da matriz energética é na prevenção do aquecimento global atribuído à queima de combustíveis fósseis. No entanto, quando o hidrogênio é produzido a partir do gás natural, são liberados óxidos nitrosos, que são 58 vezes mais poderosos na retenção do calor que o dióxido de carbono. Carvão libera grandes quantidades de CO2 e mercúrio. Petróleo é muito poderoso e precioso para desperdiçar com a produção de hidrogênio, ele é produto da concentração de energia solar “fermentada” por centenas de milhões de anos. Um litro de gasolina representa aproximadamente 20 toneladas de plantas fósseis, o equivalente a 40 acres de trigo.
O gas natural é ainda mais precioso. Ele é usado para tanto como matéria prima como fonte de energia para a fabricação de fertilizantes. Isto tem levado a multiplicação da produção das safras em várias vezes, permitindo a alimentação de bilhões de pessoas que de outra forma não seria possível. Nós também não temos gás natural suficiente para uso nesta empreitada.
2) Produzindo Hidrogênio a Partir da água. No mundo, somente 4% do hidrogênio é obtido via eletrólise da água. É feito quando se é requerido o gás em alta pureza Desde que a eletricidade provêm, em sua grande maioria, de combustíveis fósseis em usinas com 30% de eficiência, e eletrolise é 70% eficiente, voce acaba usando 4 unidades de energia para criar uma à hidrogênio: 70%*30% = 21% de eficiência.
Produzir hidrogênio usando combustíveis fosseis, tanto como energia como matéria prima, é um total despropósito, desde que o ponto central é se ver livre dos combustíveis fósseis. O objetivo seria o uso de energia renovável para fazer hidrogênio a partir da eletrolise da água. A partir do vento, por exemplo, as turbinas podem gerar eletricidade com 30 a 40% de eficiência e assim produzir o hidrogênio à uma eficiência final de 25%, ou seja, 3 unidades de energia do vento para se obter uma de hidrogênio.

Os melhores painéis solares disponíveis apresentam uma eficiência de 10%, ou 9 unidades de energia solar para obter uma unidade de energia à hidrogênio. Não interessa sob qual ponto de vista voce analisa o assunto, produzir hidrogênio a partir da água sempre vai deficitário em termos energéticos (voce obterá menos energia armazenada na forma de hidrogênio do que a energia aplicada para obtê-lo). Se quiser uma forma mais dramática de dizer isso, mande-me 10 reais que eu te mandarei de volta um real.

Hidrogênio pode ser obtido a partir da biomassa, mas encontraremos numerosos problemas:

é bem sazonal;
depararemos com muita umidade, requerendo energia para armazenagem e secagem antes da gaseificação;
oferta limitada;
as quantidades não são o bastante para produção de hidrogênio em larga escala;
grande quantidade de terra é necessária porque mesmo o cultivo em solo bom tem baixa produtividade – 10 toneladas por 2,4 acres;
o solo se degradará por erosão e perda de fertilidade quando retirada a biomassa;
qualquer energia colocada na terra para crescimento da biomassa, tal como fertilizantes, plantações e colheitas, adicionarão custos ao processo;
os custos de uma usina central de energia deverão ser adicionados ao custo total do processo;
não é recomendável para a obtenção de hidrogênio puro.

Não interessa de como é feito, hidrogênio não tem energia nele mesmo. Ele é a forma de energia menos densa do planeta. Em condições normais de temperatura e pressão, hidrogênio toma três mil vezes mais espaço que a gasolina para a quantidade equivalente de energia.
Para colocar energia no hidrogenio, ele deve ser comprimido ou liquefeito. Para comprimi-lo para a pressão recomendada de 10.000 psi é necessário um processo de vários estágios que custa um adicional de 15% da energia contida no hidrogênio.
Se voce o liquefaz, voce será capaz de colocar toda a energia nele contida em um recipiente menor mas perderá, no processo, 30% a 40% da energia nele contida. O manuseio do hidrogênio neste estado requer precauções extremas porque estará tão frio (-253ºC) que o manuseio só será possível por robôs.

Armazenagem
Para estocagem e transporte de hidrogênio líquido, será necessário um pesado pesado sistema especial. O tanque é frio o suficiente para provocar o emperramento de válvulas e outros problemas. Se acrescentamos isolamento térmico para preveni-los, peso adicional será acrescentado ao já bastante pesado tanque com a adição de custos extras.

Digamos que um carro possa, de acordo com experimentos já realizados, andar cerca de 90 quilômetros com um quilo de hidrogênio. Um tanque que pode conter 3 kg deste gás pode render, então, 270 km e pesar 400 kg. Compare com o tanque do Honda Accord que pesa 11 kgs, custa US$ 100 e tem capacidade de conter 65 litros de gasolina. O peso total seria de apenas 73kg. A autonomia seria de 780 km à 12 km/l.
Veja abaixo a tabela comparativa do tanque de hidrogênio X tanque de gasolina para o Honda Accord:
Hidrogênio
Quantidade de Combustível: 55kg a 3000 psi
Peso do Tanque: 400 kg
Autonomia: 270 km
Custo de Abastecimento: US$ 2.000
Gasolina
Quantidade de Combustível: 65 l
Peso do Tanque: 73 kg
Autonomia: 780 km
Custo de Abastecimento: Us$ 100

De acordo com a NHTSA ( administração de trafego e segurança nas estradas na sigla em inglês, ), “ A redução do peso do veículo é a tecnica mais poderosa para promover economia de combustivel. Cada 10% de redução de peso em novos projetos de veículos melhora a economia de combustível em aproximadamente 8%.”
Quanto mais se comprime o hidrogênio, menor o tanque pode ser. Mas se aumenta a pressão, terá que se aumentar também a espessura da parede do tanque e assim cresce também seu peso. O custo aumenta com a pressão. A 2000 psi é de US$ 400 por kg. A 8.000 psi é de US$ 2.100 por kg. E o tanque será enorme a 5.000 psi, e pode tomar dez vezes mais volume que um tanque de gasolina com igual quantidade de energia.
Células de combustível são pesadas. De acordo com Rosa Young, física e vice-presidente de uma empresa de pesquisa e desenvolvimento de novos materiais na área de energia em Michigan: “ Um sistema de armazenamento híbrido que possa conter 5 kg de hidrogênio, incluindo o tanque e os trocadores de calor, pesaria aproximadamente 300 Kg, o que diminuiria a eficiência do veículo.
As celulas de combustivel são também caras. Em 2003 custavam US$ 1 milhão ou mais embora já estivessem desenvolvidas o suficiente para necessitarem de menos catalisadores caros como a platina. Ainda pouco confiáveis, podem se tornar pesadas e perder potência se existir impurezas no hidrogênio, e não duram mais que 1.000 horas, não alcançam ainda autonomia de 200 Km e perdem de longe para os híbridos como Toyota Prius, que já possuem eficiência energética maior e menor emissão de CO2 do que os ainda projetos de veículos à células de combustível.
Sendo o mais leve de todos os gases, assim que o coloca em um tanque, ele já procura sair, toma um bocado de esforço em mantê-lo confinado. Dispositivos relacionados a estocagem, como selos, juntas e válvulas são de complexidade extrema. Tanques a hidrogênio líquido perdem do gás entre 3-4 por cento ao dia.
O hidrogenio tende a criar fissuras no metal e assim provocar vazamentos. Fissuras em tubulações de hidrogênio são potencialmente catastróficas. Construir um metal robusto o suficiente para trabalhar com o0 hidrogenio acrescenta peso e custo. Vazamentos também se tornam mais freqüentes com o aumento da pressão. Podem ocorrer vazamentos em juntas não soldadas, linhas de combustível, e selos não metálicos como juntas, o-rings, veda-roscas e gaxetas. Um motor à célula de combustível para trabalhos pesados pode ter milhares desses selos. De todos os combustíveis, o hidrogênio é o que possui o menor ponto de ignição, 20 vezes menor que o da gasolina. Logo, na ocorrência de um vazamento ele pode sofrer ignição por diversos dispositivos presentes no motor. E para piorar, os vazamentos não são visíveis- algumas vezes a única maneira de detectá-los é pela baixa performance do motor.
Transporte

Carretas tanque de US$ 250.000 cada, podem carregar combustível suficiente para 60 carros. Essas carretas pesam em torno de 40 toneladas, mas tem capacidade para carregar somente 400 Kg de hidrogênio. Para uma entrega à 250 Km ( em estrada em excelentes condições) a energia usada para transporte corresponderá à aproximadamente 20 % da energia transportada. A 500 Km, 40 %. Uma carreta do mesmo tamanho transportando gasolina, tem a capacidade de 40.000 litros, o suficiente para abastecer 800 carros.
Uma outra alternativa seria os dutos. O custo médio de um gasoduto pra gás natural é de aproximadamente US$ 500 mil por Km, e existe nos USA cerca de 300 mil Km em gasodutos para o gás natural, que não poderão ser reutilizados porque a composição do metal não é apropriada ( o hidrogênio poderá criar fissuras) além do diâmetro incorreto com vistas a maximizar a vazão do gás. Uma infra-estrutura similar para o hidrogênio custaria cerca de US$ 200 trilhões. O maior custo de operação estaria por conta da energia para os compressores e manutenção.
Os compressores no gasoduto é o que mantém o gás em movimento, usando o próprio hidrogênio para manter o fluxo. Após 1.000 Km, 8 % do hidrogênio teria sido gasto neste processo.
Conclusão
Em algum ponto ao longo da cadeia de produção, energia de consumo, estocagem, e distribuição do hidrogênio, estaremos usando mais energia do que recebemos de volta, e isto ainda sem contar a energia para a fabricação das células de combustível, tanques de estocagem, sistemas de distribuição e veículos.
Quando a fusão (nuclear) for capaz de fazer hidrogênio barato, quando células de combustíveis duráveis surgirem das pesquisas, e quando tanques leves e tubulações a prova de vazamentos feitos em polímeros e fibra de carbono estiverem disponíveis a preços módicos, então poderemos pensar em construir uma infra-estrutura econômica á base de hidrogênio. Até lá, é puro sonho. Todos estes obstáculos técnicos têm que ser bem resolvidos antes de qualquer coisa acontecer. Enquanto isso, o governo americano deve parar de colocar dinheiro no programa Freedom Car, que canaliza milhões de dólares para as três grandes da industria automotiva para trabalhar com as células de combustível à hidrogênio. Ao invés disso, os fabricantes de automóveis deveriam melhorar a eficiência de seus veículos, obrigando-os pela revisão das normas vigentes.
Em algum tempo no futuro, o preço do petroleo e do gas natural crescerá significantemente devido ao esgotamento geológico e à crises políticas nas nações produtoras. Desde que a infra-estrutura do hidrogênio será construída aproveitando a infra-estrutura existente para o óleo (i.e. motores de combustão interna, usinas elétricas, plásticos etc..), o preço do hidrogênio subirá também – ele nunca será mais barato que os combustíveis fosseis. Com o crescer do esgotamento, industrias irão saindo do negócio pelos altos custos dos combustíveis e as partes necessárias para a construção de um sistema de estocagem altamente complexo deixarão de estar disponíveis no mercado.

Pelas leis da física, uma economia a base de hidrogênio será sempre inviável em termos de balanço energético. As propriedades do hidrogênio requerem que se gaste mais energia do que se pode obter, porque neste intuito terá que se quebrar a ligação hidrogênio-oxigênio da água, fabricar carros bem mais pesados, prevenir fissuras e vazamentos e transporte e distribuição do hidrogênio. Não interessa que todos estes problemas fiquem resolvidos, ou quanto dinheiro se gaste. Sempre se gastará mais energia para obter, armazenar, transportar e distribuir da energia que se obterá no final do processo.
Qualquer desvio do uso de combustiveis fosseis para a alimentação de uma economia a hidrogênio, significa subtrair seu uso em outras áreas possíveis, tais como plantio, colheita, cozinha, calefação e outras atividades essenciais.

De acordo com Joseph Romm, integrante do Departamento de Energia, que conduziu pesquisa sobre o hidrogênio e transporte durante a administração Clinton: “Os problemas ambientais e energéticos que desafiam o globo, principalmente o aquecimento global, são de longe, muito sérios para nos expormos à riscos de uma política errônea na alocação de recursos escassos.”

Referências


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Romm, 2004. The Hype About Hydrogen, 8.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

SEM MISTÉRIO


O cachorro
O nariz que perdi
O gato
A graça que tenho
A girafa
Minha curiosidade
O javali
A minha carne
O pato
Sou engraçado
O cavalo
Animal
O camelo
Minhas corcovas
A tartaruga
Acumulo águas marinhas
As ondas
Preciso dropá-las

quinta-feira, 19 de junho de 2008

MERA COINCIDÊNCIA

O economista chefe do Deustche bank AG, o maior banco da Alemanha, Adam Sieminski, disse que o petróleo a US$ 200 "quebraria a espinha dorsal da economia mundial.” Considerando que não falta analista a dizer que o preço do óleo pode até passar dessa marca, estamos próximos de ver uma economia mundial paraplégica ou mesmo tetraplégica.

Internamente, o país luta para antecipar o dia do juízo quando a autoridade monetária se arrisca a cair do cavalo e fraturar o pescoço em suas investidas contra os moinhos, resultado de sua política quixotesca.

O Dow Jones recua a níveis de 21 meses atrás e atrás dos rebaixamentos promovidos pelo Goldman Sachs ao Citi e à GM, que por tabela dissolve a bolha criada aqui com o grau de investimento.

Tudo volta ao que era, ou melhor, depois da bebedeira a turma acorda sóbrio, mas na maior ressaca, e subtraído de alguns pertences.

A deterioração de nosso comércio exterior acelera com a valorização cambial ainda mais profunda, a inflação mundial já beira o centro de nossa meta de inflação interna, o BC aumentou para 25% as chances de estouro, e pelo andar da carruagem, deverá anunciar, daqui a algumas semanas, chances de 100% em estourar 25% ou mais.

Todo este desespero deverá se transformar em pânico quando as companhias aéreas não conseguirem mais enrolarem as suas contas com o combustível, obrigando os políticos a atravessarem o final de semana inteiro em Brasília.

Por outro lado, se não puderem mais voltar ao trabalho, a coisa pode melhorar.

Enquanto isso, engrossa a fileira dos críticos à atual política monetária:

Numa entrevista à Folha, Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo alertou para o "risco muito grande de déficit externo" que corre a administração de Luiz Inácio Lula da Silva com um câmbio muito valorizado. Defendeu restrição à expansão do crédito. E afirmou que o BC errou ao não reduzir mais os juros quando o cenário externo era favorável e que esse equívoco traz prejuízos hoje. Motivo: eleva o custo de combater a inflação.

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, disse nesta terça-feira que há espaço para que a taxa de juros Selic caia a níveis semelhantes ao que é praticado no México (hoje em 4%), opinião compartilhada com a do ex-presidente do BC, Armínio Fraga.

Alcides Leite Domingues - professor de Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios - em artigo publicado no Valor Econômico em 14/5 – disse:

"...quando comparamos a taxa básica real de juros de curto prazo, isto é, a taxa básica de juros de curto prazo descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses, chegamos aos seguintes resultados: 0,84% ao ano nos países desenvolvidos; 0,90% nos países em desenvolvimento (exceto Brasil); e 6,73% ao ano no Brasil.
A análise comparativa nos mostra que há, de fato, um preço que está totalmente fora de lugar no Brasil.
Um ponto totalmente fora da curva. Uma anomalia internacional. Trata-se da taxa real de juros, ou do preço do dinheiro, que no Brasil é cerca de 7 a 8 vezes mais caro que no resto do mundo.

Será que todo o mundo está errado e o Brasil certo?

Cabe ao Banco Central, órgão responsável pela política monetária no Brasil, responder esta questão".

Senão só com o macaco Simão.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

CONEXÕES INSANAS


Dizia algum filósofo cujo nome me foge à lembrança: “está tudo conectado”.

Um dos que teorizaram a asserção foi Carl Gustav Yung quando ele trata em seus escritos do que chamou de “inconsciente coletivo” que não passa, em última análise, de uma conexão inconsciente entre todos os seres.
Contudo, não se trata de matéria nova, em verdade uma crença milenar, bem característica dos povos das Antilhas e seus vodus como o candomblé dos afro-brasileiros.
Coisas interessantes e surpreendentes acontecem todos os dias e, sem dúvida, guardam conexão entre si. Eu mesmo saquei algumas de eventos recentes que passo a enumerar abaixo:

Primeiro, a vitória de Barack Obama na indicação do partido para concorrer às eleições presidenciais dos EUA em novembro.

Conservadores (um termo politicamente suave) como demonstraram ser, os norte-americanos ao longo da história, a eliminação de uma mulher da corrida presidencial não chega a ser surpresa.

O espantoso é a preferência demonstrada pelo candidato de descendência afro a uma mulher branca, e surpresa maior será ele bater o candidato republicano e seu plano de retirada das tropas do Iraque em cem anos.

Como inventores da democracia, não podemos eliminar o risco de vermos suas regras alteradas ou adaptadas nem reinventadas, a uma crescente predominância afro na etnia americana.

A segunda, é que o SUS irá efetuar cirurgia de mudança de sexo.

De quem? Seria uma pergunta natural antes de estabelecermos contato com a razão e, voltando a realidade, depararmos com mais um evento improvável.

Mas sempre uma pequena dúvida persiste.

Será que os brasileiros, mais particularmente essa galera do SUS, descobriram como transformar um macho em fêmea e vice-versa?

Testaram antes o procedimento em animais e se precaveram em não anunciar enganosamente alguma coisa híbrida, apartado dos opostos que conhecemos hoje como macho e fêmea?

Desde quando “mudança de sexo” é um problema da saúde pública?

Existe algum plano estratégico em efetuarmos mudanças de sexo em larga escala?


E o que tem isso a ver com Barack Obama e Hillary Clinton?

Muitas perguntas não têm como ser respondidas, mas a conexão entre os dois eventos é clara.

Hillary Clinton transformada em homem seria a opção sonhada pelos ditos conservadores para a presidência dos EUA.

Já o Obama transformado em mulher não bateria a Condolezza Rice, por motivos óbvios.

Terceiro, ontem recebi um e-mail oferecendo para tirar meu nome da lista do SPC e SERASA (sem eu estar na lista, lógico), pela reles quantia de 25 reais. Valor tão baixo, eles justificam, é porque a retirada é temporária. Com o tempo, os registros voltam mas enquanto isso, eu poderia usar meu crédito restabelecido tal qual uma foice e vivendo um verdadeiro carnaval.

A conexão com os eventos anteriores é gritante, nada que se possa fazer a um preço baixo pode ser verdadeiro, e aí é que entramos no país do carnaval com o quarto evento.

Quarto, o Unibanco lançou em minha conta no dia 2 de junho, dia do pagamento, um débito no valor de 22,50 sob o título de “tarifa light jun08”, nada surpreendente, concordo, surpreendente deve ser a tarifa heavy, fazendo-me crer que poderia ser pior que aceitar este alívio em meu bolso feito por mão leve e sem conexões.

No entanto, logo abaixo, aparece outro débito, de 38,70, sob o título *EXCEDENTE SAQUETERMINAL MAI08”.

Até o momento eu não sabia que tinha um banco (realmente nem parece banco) que se preocupava com minhas incursões ao caixa eletrônico impingindo-me uma multa toda a vez que ultrapassar certa quantia ou número de viagens.

Este conhecimento, desculpem-me, não me é dado a saber, para a minha própria segurança, creio.

Não posso deixar de fazer a conexão entre tal evento e a organização tarifária efetuada pelo BCB e os tópicos anteriores.
Daí inevitável que surja outra questão:

se não se consegue levar a cabo tarefas mais simples, como a organização de uma política tarifária para os bancos, o que poderemos esperar na consecução de uma coisa mais séria como a política econômica da nação?

Quinto, e advirto que vou parar por aqui, pois estando tudo conectado a coisa pode não ter fim.


Quinto, em inglês,” Oil surges $5.49 to settle at $127.79 as dollar retreats after European Central Bank president says bank may hike interest rates”.

Ou seja, óleo dispara com a fala do Banco Central Europeu de que pode vir a subir a taxa de juros. A declaração ocorreu após o BCE ter anunciado a manutenção da taxa básica em 4%.


Mas aqui nenhuma conexão deve ser feita com o BCB. O banco central é o europeu e a moeda é o euro.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Maria Fumaça


Quanto mais desagradável soa a verdade, mais tempo o homem demora a assimilar e se acostumar a ela.

Aos poucos, o mundo vai tomando consciência de que a era do petróleo farto e barato ficou para trás.

Falta, no entanto,muito chão entre a conscientização e a mudança de hábitos.

O mundo se tornou viciado ao estilo de vida enquanto reinava a abundância e tenderá a mantê-lo a custo inimaginável, tanto economicamente quanto socialmente.

Na quinta feira passada a International Energy Agency, IEA, um órgão de monitoramento dos recursos energéticos mundiais com sede em Paris, veio a público declarar que, ao contrário do que se previa antes, poderá haver um descompasso entre a oferta e a demanda do óleo em 10%, no curso das próximas duas décadas, como noticiado no Wall Street Journal.

A declaração baseia-se em um estudo em que a IEA promete divulgar os resultados em novembro próximo.

Espera-se alguma coisa surpreendentemente bombástica, como uma nova aferição das reservas petrolíferas mundiais e o estado de esgotamento dos campos de petróleo convencional, principalmente, talvez, evidência de que Oriente Médio não ter em quantidade condizente com o que se pensava.

Isto não é uma novidade para os chamados “peakists”, seres que crêem que a produção mundial atingiu seu pico ou em breve atingirá.

Hoje, até pelas projeções mais otimistas, está presente no cenário macroeconômico, em futuro próximo, custos de energia e alimentação bem mais elevados, em que o equilíbrio só seria alcançado após grotesca dança dos preços relativos, num trabalho menos afeto a economistas do que a videntes.

Mas há os que ousam.


Um desses, o Phd Robert F. Wescott, lançou em 2006, o que poderia representar para a economia mundial o óleo a 120 dólares o barril por um ano inteiro:

1-Efeitos Sobre a Demanda.
Preços mais altos do petróleo reduzem a capacidade de consumo do cidadão e provocam contração da demanda de todas as outras categorias de produtos. Maior gasto para encher o tanque significa menos dinheiro disponível para entradas de cinema, móveis, ou outros itens.

2- Efeitos Sobre a Oferta
Preços crescentes de óleo deprimem a margem de lucro das empresas na medida em que elas não possam repassar esses custos adicionais para os consumidores. Isto é particularmente válido para as “energívoras”, causando a redução de serviços ou corte nos níveis de produção. Por exemplo, uma empresa aérea que experimenta um aumento de 100% no custo da energia sofrerá aperto de caixa causando cancelamento de vôos, redução de pessoal e desistência em novas aquisições de aeronaves.

3-Efeitos Sobre a Política
Apesar dos bancos centrais darem mais atenção à “inflação central” ( que exclui energia e alimentos), preços mais altos do combustível darão lugar a temores sobre a alimentação de uma espiral inflacionária exigindo ação da autoridade monetária em restringir condições de crédito. Isto, ao seu turno, provocará a redução do investimento, construção imobiliária e vendas de produtos duráveis, como os automóveis.

4- Efeitos na Confiança e Psicologia do Mercado
Preços mais altos do óleo afetarão a confiança tanto do investidor quanto do consumidor, enfraquecendo a economia como um todo.

Observamos que, de uma forma geral, vem ocorrendo o que se previa. Como exemplo:

da Efe, em Nova York

A AMR, empresa que controla a American Airlines, anunciou nesta terça-feira (27) o cancelamento de algumas rotas, dentro de um plano para reduzir custos e resistir à forte alta do preço dos combustíveis e à desaceleração da economia.

Ou


da Efe, em Washington

A escalada do preço do petróleo pode levar os países a uma recessão, disse Noureddine Krichene, analista do FMI (Fundo Monetário Internacional), que pediu para que não sejam subestimados os efeitos inflacionários da energia na definição da política monetária.

Mas também, em sentido contrário, podemos ler coisas do tipo:

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, indicou nesta terça-feira, que a instituição ainda estuda novas ações para "facilitar o acesso da população ao crédito" ...
Hoje, o BC revelou que o volume de crédito atingiu o valor recorde de R$ 1,02 trilhão no mês de abril, o que representa 36,1% do PIB.

Mas não cabe aqui iluminar o que ainda está aceso em vivo debate, aprofundando as fissuras em nossa política econômica.

Afora isto, a verdade é que o Brasil vive seu melhor momento.

Enquanto os norte americanos se debatem amargando o preço da gasolina nas vizinhanças de US$ 4 o galão, nós, brasileiros , há muito, achamos normal US$ 6 o galão.

Mesmo que introduzíssemos um fator de correção cambial (o dólar parece estar subvalorizado, segundo a opinião corrente dos economistas antenados), praticamos já ha algum tempo algum valor perto de US$ 4,5 o galão para uma gasolina horrivelmente sulfurosa.

E ainda assistimos a uma demanda crescente deste combustível, incentivada pela facilidade de crédito, a indústria automobilística vem despejando, a taxas recordes, veículos de eficiência discutível, comprometendo o ar e o transito das grandes cidades.

Este é o primeiro grande erro de nossa política econômica.

Por outro lado, vamos aprofundando nossa dependência no diesel. Este chega neste mês a US$ 4,4 o galão nos EUA, aproximadamente o mesmo preço praticado em terra brasilis. Mas jogamos diesel fora em nossas estradas esburacadas, sucateamento , carência de incentivos e investimentos na manutenção e expansão de nossa malha ferroviária.

O diesel também abastece as nossas usinas térmicas, mesmo as que predominantemente queimem outros combustíveis, como o carvão. O programa bio-diesel avança por sobre a agricultura de grãos, inclusive a familiar, provocando escassez de alimentos, além da inflação.

Está claro que o país não tem sustentabilidade em seu sistema de transporte. Em um cenário de altos preços de diesel por algum tempo, estes, rapidamente, seriam repassados aos preços dos produtos alimentando a espiral inflacionária.

Este parece ser o principal ponto de vacilo político.

Diesel é nosso ponto frágil.

Embora, pelas declarações prestadas, o governo parece ciente de nossas deficiências no setor de transportes:

Para se transformar em um grande exportador mundial, "o que ocorrerá nos próximos anos", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, nesta terça-feira (27/05), durante viagem a Minas Gerais, que o país precisa de "ter meios de transporte ágeis e baratos", o que ainda falta no Brasil.
"Noventa e cinco por cento do transporte brasileiro que vai para o exterior, vai de navio. Portanto, temos que fazer as nossas ferrovias chegarem até os principais portos brasileiros, e construir os portos que ainda precisamos construir", disse Lula, que participou da cerimônia de entrega da primeira locomotiva de grande porte produzida no Brasil.

O país toma medidas surpreendentes em sua política monetária inibindo investimentos na infra-estrutura de transportes

Mas não erramos em tudo. A política nuclear brasileira, embora lenta, é boa. A passo de lesma vamos construindo um submarino nuclear.

Sim, mas faz mais de 20 anos. Não por esta máquina estúpida, imprestável em tempos de paz, mas pelo domínio da tecnologia nuclear em transportes marítimos. Um ótimo substituto ao diesel. Para um país de grande costa e grandes cidades litorâneas parece perfeito.

ambém acerta ao sinalizar a vontade de construir mais usinas nucleares. Trata-se da antecipação do futuro, que hoje já vive a Indonésia:

No início do mês (maio), o presidente Susilo Bambang Yudhoyono anunciou que seu país estudava a possibilidade de deixar a OPEP por não ser mais um "exportador líquido da commodity"....

.. . "Nossos poços estão secando"...

Além disso, nos últimos anos se transformou em importador de petróleo, para satisfazer à crescente demanda energética do maior arquipélago do mundo e do quarto país mais povoado do planeta, com quase 240 milhões de habitantes.

A Indonésia, que foi um dos membros mais ativos da organização, admitiu no ano passado que suas reservas de petróleo se esgotarão em 2020.

Em virtude disso, o governo decidiu relançar seu programa de energia nuclear, que tinha paralisado desde a crise financeira asiática de 1997-1998.

E protestos contra a alta do petróleo se multiplicam pelo mundo. Em países importadores que subsidiam seus preços, como China, Índia e Taiwan terão que em algum momento rever sua política.
Acabou o que era doce, voltaremos à era da maria fumaça.

terça-feira, 20 de maio de 2008

O TREM



Palavras descarrilham um trem?
Por certo e por si só, palavras não descarrilham um trem
Mas a palavra pode levar à ação e a ação descarrilhar o trem
Em certo sentido, portanto, palavras descarrilham um trem.
Mas ao trem descarrilhado, para colocá-lo novamente na linha
Palavras, somente, não bastam.

Sabedoria são crenças.
O homem sem crenças está ao sabor das correntes.
O navegador arguto sabe que as correntes andam em círculos
Portanto, as usa somente quando lhe são convenientes.
Os acontecimentos são as correntes.
As correntes, os trilhos
E o amor, o trem.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

A BOLHA


Em todos os lugares (normais) do mundo, uma alta da taxa básica de juros provocaria uma baixa generalizada das ações em bolsas de valores, e vice versa.

Quem acompanhou o Dow Jones nesta seqüência de cortes efetuados pelo FED pôde constatar isto.

Tal movimento está em linha com os fundamentos econômicos, onde altos juros inibem o investimento no setor produtivo.

No Brasil aconteceu o contrário. Não porque nosso parque industrial local não tenha se ressentido, mas porque dois outros movimentos estão compensando, com folga, a deterioração das finanças de nossas industrias.

O primeiro é o fluxo de capital estrangeiro que entra pela bolsa de valores.
O Brasil com a estabilização da moeda, com o crescimento do mercado de consumo interno e seus achados de petróleo, vem atraindo o interesse estrangeiro.
Com a desvalorização do dólar perante às outras moedas fortes este movimento é reforçado e ainda recebe um turbinamento extra quando os juros são aumentados.
Pelos fundamentos, quando a oferta é demasiada o preço cai. Assim foi o que aconteceu com o dólar, a sua queda vem dando origem ao segundo movimento.
È que as multinacionais tiveram seus lucros espetacularmente elevados com as variações cambiais. De repente o mesmo lucro em reais se transformaram em muito mais dólares, valorizando suas ações em seus países de origem e tal valorização propagada para cá.
Essa valorização, porém, é fictícia porque não tem a contrapartida produtiva.
É, como chamam, uma bolha.
A bolha é um fenômeno dinâmico, a manifestação de um desequilíbrio, significando que em algum ponto, em algum momento, se romperá.

No caso, não vejo mais que dois pontos de ruptura, ou o mundo trabalha mais por menos ou os EUA desvalorizam sua moeda, ou seja, eles é que trabalhariam mais, por menos.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

BRASIL NA OPEP







A descoberta de petróleo na bacia de Santos deu destaque internacional ao Brasil reforçado, principalmente, pela atual turbulência no mercado de energia, e pelo crescimento de discussões quanto à estarmos perto ou não de limites de oferta do óleo no mercado global.

Crescem especulações sobre coisas do tipo de o país integrar a OPEP ou se tornar um exportador de peso deste bem precioso.

Mas a coisa não é assim tão fácil. Muito do que se veicula na imprensa não passa de movimento especulativo, visando beneficiar um ou outro grupo.

Recentemente, um desses movimentos, que teve alcance internacional, movimentando as bolsas de valores do mundo inteiro, foi o da Petrobrás e o "vazamento" de informações com relação ao campo Carioca.
Sabe-se da existência desse campo desde setembro de 2007.
Técnicos e estudiosos já falavam em janeiro passado que a reserva na bacia de Santos poderia chegar a 46,5 bilhões de barris.
Nenhuma novidade, portanto, mas soou como tal, levando à supervalorização das ações da companhia.

O que de fato temos?

O país realmente começou a sua produção de petróleo no mar em 1977 na bacia de Campos. Neste primeiro ano produziu, naquela bacia o equivalente a 2792 barris por dia pulando para 8504 barris por dia no ano seguinte. Isto era apenas 5% do que o país produzia, o óleo de extração mais fácil, em terra, era que dominava as estatísticas, representando cerca de 72% da produção.
Toda nossa produção em 1978 se resumiu ao equivalente a 160.000 barris por dia.
No mar, começamos pelo mais fácil, como era de se esperar, em campos de até 200 metros de lâmina d’água (espaço compreendido entre a superfície e o fundo do mar) e seguimos partindo para profundidade maiores, chegando próximo aos 2500 metros.

Depois de 30 anos, e muitas plataformas lançadas , a bacia de Campos passou a produzir o equivalente a 1.475 mil barris diários, representando 82% da produção total do país.

Neste contexto, nosso principal campo em operação é o de Marlim.

O Campo de Marlim foi descoberto em janeiro de 1985, através do poço RJS219A. Está distante aproximadamente 110 Km do litoral do Rio de Janeiro em lâmina dágua que vai até 1000 metros. Devido ao vulto e à complexidade do projeto, o desenvolvimento deste campo foi planejado em 5 módulos com sete unidades de produção (quatro do tipo plataforma SS "semi-submersível" - e 3 do tipo FPSO "Floating, Production, Storage and Offloading") e 1 unidade de tratamento e estocagem (do tipo FSO "Floating, Storage and Offloading"). O desenvolvimento definitivo do campo iniciou-se pelo Módulo um, com a instalação da plataforma P-18 em maio de 1994. O pico de produção de óleo foi de 586.315 bpd em 2002, quase a metade do total produzido em mar na época.
Hoje, porém, Marlim está em declínio, com produção por volta de 350.000 bpd, mesmo assim, é o campo que mais produz.
A Petrobrás, hoje, explora os limites da bacia de Campos com os campos de Marlim Sul e Roncador.
O Campo de Marlim Sul, descoberto em novembro de 1987 através do poço RJS-382, está situado a cerca de 120 km do litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, em lâminas d’água de 850 a 2400 m e ocupando uma área de aproximadamente 600 km2 .
Em 30 de abril de 1994 iniciou-se a produção do campo com o poço MRL-4, interligado à plataforma PETROBRAS-20, situada no campo de Marlim.
Atualmente esse poço produz para a plataforma PETROBRAS-26, também do campo de Marlim. Ainda em caráter piloto, em agosto de 1997 foi colocado em produção o poço MLS-3B, na área do Módulo 4, conectado a um navio do tipo Floating Production Storage and Offloading (FPSO), o FPSO-II, ancorado em profundidade d’água de 1.430 metros. Sua produção foi encerrada em outubro de 1998, após o término da campanha de coleta de dados.
Em 17 de dezembro de 2001, entrou em a operação a plataforma PETROBRAS-40 (P-40), com o início da produção do poço MLS-10, na área do Módulo 1. O Módulo 1 compreende a produção de poços diretamente para a plataforma semi-submersível P-40, em profundidade d’água de 1.080 metros. O óleo produzido, após sofrer tratamento na P-40, é transferido para um navio do tipo Floating Storage and Offloading (FSO), denominado PETROBRAS-38 (P-38), ancorado em profundidade d’água de 1.009 metros. O óleo armazenado na P-38 é transferido, periodicamente, para navios aliviadores, para transporte até os terminais no continente. O gás produzido é comprimido na P-40 e escoado para a Plataforma de Namorado-1 (PNA-1), no Campo de Namorado, se incorporando, a partir deste ponto, à malha de gasodutos da Bacia de Campos.
O Módulo 2 de Marlim Sul encontra-se em fase de desenvolvimento. Este módulo compreende a instalação de uma unidade de produção designada de PETROBRAS-51 (P-51), em profundidade d’água de 1.250 metros. A previsão é que a P-51, de US$ 830 milhões, deixe o estaleiro Brasfels rumo à locação em setembro. A plataforma deverá entrar em operação até dezembro deste ano. A unidade terá capacidade para processar e tratar 180 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás, além de injetar aproximadamente 282 mil barris de água no reservatório diariamente.
Os Módulos 3 e 4 encontram-se em estudos. Estima-se o pico de produção em 419.000 bpd em 2010.
Hoje Marlim Sul produz cerca de 140.000 bpd

O Campo de Roncador, localizado na área norte da bacia, a cerca de 125 km do Cabo de São Tomé, foi descoberto em outubro de 1996, com a perfuração do poço 1-RJS-436A.
O Campo de Roncador possui uma área de 111 km² e está sob uma lâmina d'água (LDA) que varia de 1.500 a 1.900 metros.
Devido à extensão de sua área, o desenvolvimento da produção de Roncador foi planejado para ocorrer em 4 módulos.
A produção do campo teve início em 23 de janeiro de 1999, quando o navio de produção de posicionamento dinâmico (DP FPSO) SEILLEAN foi interligado ao 1-RJS-436A por um sistema pioneiro, que representou à época, recorde mundial de lâmina d'água: 1.853m.
Em maio de 2000 entrou em operação o Sistema de Produção do Módulo 1 de Roncador. Composto pela unidade de produção semi-submersível (SS) P-36 e pelo navio de estocagem (FSO) P-47.
As inovações tecnológicas aplicadas pela Petrobras na implantação do Sistema Piloto de Roncador e no Sistema de Produção do Módulo 1 renderam à companhia o Distinguished Achievement Award da OTC 2001.
Após o acidente com a plataforma P-36, em 15 de março de 2001, que resultou no seu naufragio 4 dias depois, a concepção de desenvolvimento de Roncador foi revista e o Módulo 1 foi rebatizado como Módulo 1A, passando a ser dividido em 2 fases. A Fase 1, concebida como uma solução de curto prazo para a retomada da produção do campo, é composta de 8 poços produtores, além do poço produtor RO-42, do Módulo 2 , e 3 injetores interligados a uma unidade de produção do tipo FPSO, com as seguintes características:
Capacidade de processamento de óleo 100.000 bpd

Lâmina D’água 1.290m
Esse FPSO, denominado FPSO BRASIL, foi afretado à empresa SBM - Single Buoy Moorings Inc. e convertido em tempo recorde, tendo retomado a produção dos poços que estavam interligados à P-36 em 8 de dezembro de 2002, cerca de 20 meses após o acidente ocorrido com a plataforma.
Dos 8 poços produtores que integram a Fase 1 do Módulo 1A de Roncador, todos tem suas linhas de produção de óleo conectadas diretamente ao FPSO BRASIL.
A Fase 2, etapa de conclusão do Módulo 1A, foi concluída com a entrada em operação em novembro de 2007, de uma plataforma do tipo semi-submersível (SS), denominada P-52. Essa unidade, ancorada em LDA de 1.800 metros, tem capacidade para processar e tratar 180.000 bpd de óleo, com pico de produção previsto para o segundo semestre de 2008.
O Módulo 2, também concluído, consiste na utilização de uma embarcação do tipo FPSO, denominada P-54, que iniciou produção em dezembro de 2007. Esta ancorada em LDA de 1.400 m, sendo dotada de facilidades de produção para processar e tratar 180.000 bpd de óleo.
Os Módulos 3 e 4 de Roncador encontram-se atualmente na fase de concepção de alternativas de seus sistemas de produção. A Petrobras estima que até 2015, Roncador ultrapasse a marca dos 470.000 barris/dia de produção.

Em resumo:
4 módulos sendo 2 em desenvolvimento e 2 em estudo Pico de produção: 473 mil bpd em 2015
Produção média em março de 2008 : 146.000 bpd
Depreende-se disto que, o que vale realmente não é exatamente a extensão do campo e sim qual a vazão máxima de extração, a dificuldade e a qualidade do óleo.

Somando a lâmina d'água mais a profundidade de soterramento, há poços na Bacia de Santos onde a Petrobras terá de ir a até 7.300 metros de profundidade total.
''É muita rocha'', como já disse o gerente-geral da Unidade de Negócios da Bacia de Santos (UNBS), José Luiz Marcusso.
Na Bacia de Campos, a maior lâmina d'água é de 2.500 metros e o soterramento é, em média, de 1.500 metros. Um ou outro campo ultrapassa três mil metros, mas os grandes campos estão entre 800 e 1.500 metros.
Na Bacia de Santos, no entanto, a média fica na faixa de 4.500 metros, podendo chegar a 5.300 metros de perfuração na rocha.
A profundidade total na bacia de Santos é quase o dobro da de Campos.
Maior profundidade, em regra, representa menor produção.
Numa aproximação bem simples. Se a Petrobrás colocar duas vezes mais dinheiro do que colocou em Campos e na metade do tempo, e também levando em conta os novos desafios que aparecerão na exploração da bacia de Santos, podemos esperar uma produção de algo próximo de 1.000 mil barris diários em 2025 na região, dos quais, 500 mil apenas compensarão o declínio de produção dos campos mais antigos em terra e em Campos.
Assim, tudo correndo bem, o Brasil estará produzindo 2.500 - 2.700 mil bpd em 2025, numa projeção bem otimista.
Considerando que o crescimento do PIB demanda um crescimento de consumo de energia mais ou menos no mesmo passo, estaríamos, naquele ano, apenas mantendo a nossa auto-suficiência.
Mesmo que num esforço supremo nos transformássemos em exportador de petróleo, o que de bom nos traria isto?
Países exportadores, no geral, utilizam dessa receita para enriquecimento de minorias e investimento bélico.
Mesmo que o Brasil se portasse totalmente diferente, seria ainda equiparado a um piloto insensato que, numa prova de distância, vende seu combustível para comprar algum conforto, como um ar condicionado, colocando em risco sua própria permanência na prova.
Ao contrário, se fôssemos sensatos, estaríamos investindo mais na redução do consumo através da melhoria da eficiência de nossos veículos, estímulos à produção de veículos mais econômicos e inibição à produção e importação de veículos gastadores.
Vencedor é o que chegar mais longe.