quarta-feira, 14 de outubro de 2009

CARNE - COMER OU NÃO







“Não coma os animais, não mate seus irmãozinhos pois eles são seus amiguinhos.”

“Que ridículo... num país onde grassa a impunidade em todos os níveis, mesmo quanto aos crimes mais hediondos contra os humanos, os nossos digníssimos representantes se preocuparem com esse tipo de problema. Não que eu seja a favor de que sejam perpetrados crimes contra animais, isso é um outro problema, porém convenhamos... temos outros problemas mais graves a resolver primeiro...”

No livro “O Caçador de Pipas” , certo personagem vem e diz: Só existe um crime que é roubar, todos os outros são variações desse primeiro e único, e passa explicar com exemplos, matar é roubar (quando não se mata para roubar) o tempo que pertence a outro, e assim por diante.

Na verdade, o autor quis dizer uma só coisa; em matéria de mandamentos morais não pode haver hierarquia entre eles, somente entre os amorais.

Kant disse: “Duas coisas enchem o espírito de uma admiração e de uma veneração sempre novas e sempre crescentes, na medida da freqüência e da perseverança com a qual a reflexão a elas se apega: o céu estrelado acima de mim e a lei moral em mim.”

Um homem amoral é uma criatura imperfeita, eu mesmo não posso crer na existência de uma simples espécie, mas infelizes aqueles que vivem com a moral alheia, que remetem à outros a responsabilidade pelos seus atos e os imorais.

Matar é errado?

Shakleton, em sua expedição à Antártica (1908 ao pólo magnético sul), mandou em dado momento que sacrificassem todos os cachorros (levados para puxar trenós) para que os expedicionários tivessem mais alimentos além do que seria poupado para alimentar os animais.

O desenrolar dos eventos provou ter sido uma atitude necessária.

O indivíduo adulto é guiado por valores morais, “matar é errado”, aprendemos desde cedo. Por menos que se pareça um pedaço de bife a um boi morto é inevitável não pensar na morte do ser que dá o alimento.

É necessário o consumo de carne?

“ O corpo humano não necessita de proteína animal para atender suas necessidades nutricionais.”

Isto acima se tornou uma verdade um tanto inconveniente para o agronegócio, já que o consumo de carne pode ser uma questão de vício.




“Todos sabemos que a carne faz mal à saúde. Todos sabemos que a pecuária e os pastos destroem o meio-ambiente. Mas o motivo que me faz radicalmente vegetariano é a impossibilidade de aceitar que se mate um animal para comer.”
Cláudio Cavalcanti



Neste ponto, eu emendo meu texto com o excelente de Charles Eisenstein - The Ethics of Eating Meat: A Radical View – que traduzo abaixo.
O original em inglês ou espanhol pode ser obtido diretamente no site: http://www.westonaprice.org/healthissues/ethicsmeat.html



A ÉTICA NO COMER CARNE - UMA VISÃO RADICAL


Por Charles Eisenstein

Muitos vegetarianos que conheço não são primariamente motivados pela nutrição. Apesar deles argüirem dos benefícios da dieta vegetariana para a saúde, muitos vêem boa saúde como a recompensa para a pureza e virtude da dieta vegetariana – desde dos idealistas no colégio aos ativistas ambientais, aos aderentes das tradições espirituais orientais, como o Budismo e Ioga – é o moral ou o caso ético que prevalece em o não comer carne.


Enunciado com grande autoridade por pessoas espiritualmente iluminadas como Mahatma Gandhi, ou por guerreiros pró-ambiente como Francês Moore Lappe, o componente moral contra o comer carne parece à primeira vista ser sobrepotente. Como um comedor de carne que cuida profundamente de viver harmoniosamente com o meio ambiente, e como uma pessoa honesta que tenta eliminar a hipocrisia como meu meio de vida, eu me sinto compelido a tomar esses argumentos seriamente.


Um argumentação típica se parece com o seguinte: Para alimentar a sociedade moderna em seu enorme apetite por carne, os animais suportam um sofrimento inimaginável em condições de extrema imundície, superlotação e confinamento. Frangos são colocados em 20 por gaiola, os bezerros entre paredes de concreto em espaço tão estreito que não lhes permite nunca dar a volta.

O Argumento a Favor do Ambiente


A crueldade é espantosa, mas não menos que os efeitos ambientais. Os animais são alimentados com 5 a 15 kg de proteínas vegetais para cada Kg de carne produzida, uma prática desmedida em um mundo onde tantos vivem famintos. Enquanto um sexto de acre de terreno pode alimentar um vegetariano por um ano, mais de três acres são necessários para prover os grãos necessários para criar a quantidade anual necessária de carne para um carnívoro mediano.


Muito freqüentemente esse espaço é tomado das florestas.


O consumo de água é outro fator de espanto, 20.000 litros por 1 kg de bife, cem vezes mais do que o necessário para a produção de 1 kg de trigo. Combustíveis fósseis são outros insumos nocivos ao ambiente na produção da carne. E não podemos esquecer os resíduos de antibióticos e hormônios sintéticos cada vez mais presentes em nossa água potável, além, claro, do esterco de onde aparecem esses resíduos.
Mesmo sem considerar a questão do tirar a vida (tratarei do assunto adiante), os fatos acima por si só deixam claro que é imoral a conivência e incentivo a esse sistema, comendo carne.

Fabrica ou Fazenda?


Eu não contestarei nenhum dos dados estatísticos acima, exceto para dizer que eles somente descrevem a industria da carne tal qual ela existe hoje. Eles são argumentos poderosos contra a industria da carne, não o consumir carne. De fato, existem outros meios de criar animais para o consumo, maneiras que fazem com que a criação constitua um patrimônio do ambiente ao invés de sua depredação, em que os animais não convivam com tanto sofrimento. Considere, por exemplo, uma fazenda tradicional que combine uma variedade de culturas, pastagens e hortos florestais.


Aqui, esterco deixa de ser poluente para se tornar uma valiosa contribuição à fertilidade do solo. Ao invés de tirar os grãos dos desnutridos, animais de pastagens produzem alimento em terras impróprias para o cultivo.


Quando os animais são usados para o trabalho ou para comer insetos eles reduzem o uso de combustíveis e a tentação do uso de pesticidas. Também, animais soltos requerem muito menos água para assepsia.


Uma fazenda não é apenas uma unidade produtiva mas um sistema ecológico e animais desempenham uma função benéfica. Os ciclos e relações entre os plantios, árvores, insetos, esterco, pássaros, solo, água e pessoas residentes na fazenda formam uma intricada rede “orgânica” em seu sentido original, de uma beleza ímpar, nada comparado com uma fábrica de carne com 5.000 animais apinhados entre paredes de concreto.


Qualquer ambiente natural é lar de plantas e animais, e parece razoável que uma agricultura que procure estar o mais próximo possível da natureza para que ela incorpore ambos. De fato, uma fazenda puramente de horticultura, animais selvagens podem representar um grande problema, e medidas artificiais podem ser necessárias para mantê-los à distancia. Fileiras de alface e cenouras podem ser um irresistível buffet para coelhos, por exemplo, que podem dizimar plantações inteiras da noite para o dia.


Hortigranjeiros devem se fiar em cercas elétricas, armadilhas, e mais do que pessoas possam imaginar, armas para proteger suas culturas. Se o agricultor evita a morte dos animais, cultivar vegetais à uma margem rentável requer manter o terreno em um estado altamente artificial, apartado da natureza.

Sim, alguém pode dizer, mas as fazendas idílicas do passado são insuficientes para atender a alta demanda de nossa sociedade viciada em carne. Mesmo que você coma somente carne oriunda de processamento orgânico, você não está sendo moral a menos que seu nível de consumo seja consistente com todos os outros seis bilhões de pessoas compartilhando sua dieta.


Produção e Produtividade


Tal argumentação repousa na hipótese de que nossa atual indústria de carne procura maximizar a produção. Na verdade ela procura maximizar o lucro, o que significa maximizar não a produção e sim a produtividade – unidades por dólar.


Em termos de dinheiro é mais eficiente ter mil cabeças de gado em uma manjedoura de alta densidade, comendo milho oriundo de uma monocultura quimicamente dependente em fazenda de 5.000 acres do que ter 50 cabeças por 250 acres de pasto em propriedades familiares.


É mais eficiente em termos de dinheiro, e provavelmente mais eficiente em termos de trabalho humano também. Menos fazendeiros são necessários e para uma sociedade com cada vez menos presença no campo, isto é considerado uma coisa boa. Mas em termos de carne por acre (ou por unidade de água, combustíveis fosseis ou outro capital natural) não é mais eficiente.


Em um mundo ideal, talvez, poderia haver carne para todos, mas ela teria que ser bem mais cara. Isto é realmente o que deveria ser. Sociedades tradicionais sempre entenderam que carne é um alimento especial; elas a reverenciam como um dos mais valiosos presentes da natureza.




Por extensão, como nossa sociedade traduz, maior valor maior o preço, carne deveria ser cara.
Os preços praticados pela carne ( e outros alimentos) são extraordinariamente baixos relativamente ao total dos gastos do consumidor, tanto por séries históricas como em comparação à outros países. Preços ridículos para os alimentos empobrece os fazendeiros, degrada o alimento em si, e faz com que menos “eficientes” modos de produção se tornem antieconômicos. Se o alimento, carne em particular, fosse mais cara talvez não houvesse tantos fatores de desperdício ao avaliar sua sustentabilidade.


O Imperativo Moral


Até agora tenho tratado das cruéis condições e sustentabilidade ambiental, motivações morais importantes para o vegetarianismo, sem dúvida. Mas o vegetarianismo existe desde antes dos tempos das fazendas indústrias, e foi inspirado pela simples, primária convicção de que matar é errado. É incontroverso o repúdio que causa a retirada de vida desnecessariamente; é sangrento, brutal e bárbaro.


Claro que as plantas são seres vivos também, e a maioria das dietas vegetarianas envolvem a morte de plantas. Muitas pessoas não aceitam que matar animais e plantas seja a mesma coisa, e poucos sustentariam que a forma de vida animal não é a mais organizada, com mais capacidade de sentir e de sofrer. Compaixão emerge mais prontamente aos animais que gritam de medo e de dor, apesar de pessoalmente, eu sentir pelas ervas quando as arranco pela raiz em meu jardim.
Entretanto, o argumento “plantas também vivem” é impotente para abalar o impulso moral por traz do vegetarianismo.


Devemos também notar que as culturas mecanizadas envolvem a morte massiva de organismos presentes no solo, insetos, roedores e pássaros. De novo, isto não impressiona a motivação vegetariana porque este matar é incidental e em princípio pode ser minimizado. O solo ou a Terra pode, pelo que sabemos, ser um ser sensível, e seguramente um sistema agrícola, mesmo que seja totalmente orientado ao cultivo de plantas mas que envolve a morte do solo, de rios e da terra é tão moralmente repreensível quanto um sistema orientado para produção de carne, mas de novo não atinge o cerne da questão:


Não é errado matar um ser sensível desnecessariamente?

Alguém ainda poderia questionar quando matar é realmente necessário. Apesar do aspecto nutricional parecer favorável ao vegetarianismo, uma significativa parcela de pesquisadores questionam veementemente seus benefícios para a saúde. Uma avaliação apurada neste debate foge ao escopo desse artigo, mas após anos de experimento próprio, estou convencido que a carne me parece “necessária” no tocante à saúde, força e energia. Então minha boa saúde pesa mais que o direito de viver de outro ser? Esta questão nos devolve à questão central sobre o matar. É tempo de abandonar certas suposições e enfrentar o assunto diretamente.

A Questão Central


Comecemos com uma questão provocadora: “Exatamente, qual é o mal em matar?” e por extensão, “O que tem de ruim em morrer?”

É impossível analisar as implicações do comer carne sem pensar sobre o significado da vida e da morte. De outra maneira se estará no perigo da prática da hipocrisia, proveniente da separação do fato morte por detrás de cada ´pedaço de carne que comemos

A distância física e social do matadouro de nossa mesa de jantar nos isola do medo e sofrimento dos animais quando eles são levados ao abate, tornando o animal num simples “naco de bife”. Tal distancia é um luxo que nossos ancestrais não tiveram: nas antigas sociedades rurais e caçadoras, matar era uma experiência pessoal, sendo impossível, portanto, ignorar o fato de que recentemente havia ali um animal vivo.

Nosso isolamento da morte como um fato se estende muito além da industria alimentícia.
O acumular de riquezas mundanas – dinheiro, status, especialização, reputação – ignoramos a verdade de que tudo é passageiro, e portanto, no final, sem valor algum. “Você não pode levar isso com você”, diz o ditado, ainda que no sistema de consumo, com base no ter, é dependente da falsa impressão de que se pode, e que essas coisas tenham um valor real. Freqüentemente somente com “um quase morte” é que a pessoa se toca no que é verdadeiramente importante. A realidade da morte é que revela a futilidade de valores e metas convencionadas pela sociedade moderna, tanto coletiva quanto individualmente.

Não é de se admirar, então, que nossa sociedade, sem precedentes em sua riqueza, tenha também desenvolvido um medo também sem precedentes em relação à morte. Tanto a nível pessoal quanto institucional, o prolongamento e segurança de vida se tornaram mais importante de como se vive a vida.

Isto se mostra mais óbvio em nosso sistema médico, claro, em que a morte é vista como o máximo dos “prejuízos”, em que mesmo uma agonia prolongada é preferível a ela. Eu vejo o mesmo tipo de pensamento em certos estudantes, que preferem uma “agonia prolongada” em estudar matérias que odeiam, no intuito de conseguir um emprego de que não gostam realmente, para se ter uma certa “segurança” financeira.

Eles tem medo de viver corretamente, medo de exercer seu direito de ter nascido, que é trabalhar em uma função prazerosa e excitante. O mesmo medo se estende por baixo de nossa obsessão lunática por “segurança”, como sociedade. O programa americano em sua totalidade é para se isolar o que for possível da morte para se obter “segurança”. Ele alimenta o ego tentando fazer permanente o que nunca poderá ser.

O Dualismo Moderno


Indo fundo, a raiz desse medo, eu acho, repousa em nossa separação dualística do corpo e alma, espírito e matéria, homem e natureza. O legado científico de Newton e Descartes sustenta que somos finitos, seres separados; que a vida e seus eventos são acidentais; que se pode explicar os processos da vida em termos de leis objetivas aplicadas ao inanimado, partes elementares; e portanto o significado e Deus uma projeção de nossas ilusões. Se tudo o que existe é matéria, e a vida não tem nenhum propósito real, então, claro, a morte é a calamidade máxima.

Curiosamente, o legado religioso de Newton e Descartes não é assim tão diferente. Quando a religião se abdica de explicar de “como o mundo funciona” – da cosmologia à física, se afastou do reino do “não-mundano”. O espírito se tornou o oposto da matéria, alguma coisa elevada e dela separada. Não interessa muito o que você faz no mundo material, não tem a mínima importância, desde que sua “alma” (imaterial) esteja salva. Na visão dualística da espiritualidade, viver corretamente como um ser de carne e osso, no mundo material, se tornou menos importante. A vida humana se tornou uma incursão temporária, uma distração inconseqüente da vida eterna do espírito.

Outras culturas, mais antigas e inteligentes, não viram dessa forma. Elas acreditavam em um mundo sagrado, de matéria imbuída de espírito. Animismo, como a chamamos, a crença de que todas as coisas possuem alma. Mesmo essa definição delata nossas presunções dualísticas. Talvez uma melhor definição seria de que todas as coisas são alma. Se todas as coisas são alma, então a vida na carne, no mundo material, é sagrada. Essas culturas também acreditavam em destino, da futilidade de tentar viver além de seu tempo.


Viver corretamente no tempo que te é dado vira uma questão de fundamental importância, e a vida uma jornada sagrada.

Quando a morte, ao invés da vida vivida erroneamente é a maior calamidade, é fácil perceber porque uma pessoa ética escolheria o vegetarianismo. Privar uma criatura da vida é o maior dos crimes, especialmente dentro do contexto de uma sociedade que valoriza mais a segurança que o bem-estar e o seguro mais que o risco inerente à criatividade.
Quando o resultado é a desilusão, tudo que sobra é o ego – a representação interna do eu em relação ao do não eu. A morte nunca é natural, parte de uma harmonia maior, de um propósito maior, de um projeto divino, porque não há um projeto divino; o universo é impessoal e desprovido de alma.

A Ciência Obsoleta

Afortunadamente, a ciência de Newton e Descartes está obsoleta. Seus pilares de reducionismo e objetividade se encontram fragmentados sob o peso das descobertas do século 20 na termodinâmica, mecânica quântica e sistemas não lineares, nas quais a ordem emerge do caos, a simplicidade da complexidade, e a beleza de lugar algum e de todos ao mesmo tempo; onde tudo está conectado; e onde alguma coisa sobre o todo que não pode ser perfeitamente entendido em termos de suas partes.

Esteje avisado que meus pontos não são aceitos pela maioria dos cientistas, porém acredito que muito na ciência moderna aponta para um mundo provido de alma, onde a consciência, ordem e propósito cósmico estão escritos no tecido da realidade. Na visão holística e animística a questão não é se existe matança, mas sim se está correto e harmônico o alimento que se toma. A vaca é uma alma, assim como é a terra e o ecosistema e o planeta. A vaca levou a vida que ela tinha o direito de levar? Foi bem ou mal criada (de acordo com meu entendimento)? Unindo a intuição com o conhecimento dos fatos, eu pergunto quando comer essa comida contribui para o desenvolvimento do projeto divino que acho existir.

O Projeto Divino

Há um tempo para viver e outro para morrer. Esta é a natureza. Se voce pensa sobre isso descobre que o sofrimento prolongado é raro na natureza. Nossa industria da carne lucra do sofrimento prolongado dos animais, das pessoas e da Terra, mas este não é o que tem que ser.

Quando uma vaca vive uma vida que uma vaca tem o direito de viver, quando a sua vida e morte estão consistentes com um mundo belo, então para mim não existe um dilema ético em matar essa vaca para comer. Claro que existe sofrimento e medo quando ela é levada para o matadouro e isto me deixa triste. Tem muita tristeza na vida, mas também existe a alegria que não é dependente em evitar o sofrimento e maximizar o prazer, mas no viver de maneira correta e bem.

Seria hipocrisia aplicar isto a uma vaca e não a mim. Para viver com integridade como um matador de animais e plantas, é necessário para mim em minha própria vida viver corretamente e bem, mesmo e especialmente quando tais decisões parecem comprometer meu conforto, segurança, razão e interesse próprio, mesmo ainda se viver corretamente representar risco de vida. Não apenas para animais, mas para mim também , há um tempo para viver e outro para morrer. È o que digo: O que é bom o bastante para uma criatura viva é bastante para mim.


Comer carne não necessita ser qualquer espécie de arrogante “ismo”, mas consistente com a cândida submissão às marés da vida e da morte.

Quando vivemos corretamente, decisão por decisão, o coração canta mesmo quando a racionalidade da mente discorda e o ego protesta. Ademais, a sabedoria humana é limitada. A despeito de nossas maquinações, somos incapazes de evitar o sofrimento, a perda e a morte.


Para os animais, plantas como para humanos, há mais para viver do que para não morrer.


Sobre o Autor
Charles Eisenstein vive na Pennsylvania. Ele ensina na Penn State e é autor do livro, The Yoga of Eating, publicado pela New Trends Publishing, site http://www.newtrendspublishing.com/YOGA/.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

IMAGENS


Essa pergunta foi a vencedora em um congresso sobre vida sustentável.


"Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos.... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"


Acabei de ler o texto do Nildson sobre preconceito e a geração do século XXI. E, coincidentemente, recebi há pouco a mensagem que reproduzo a seguir. Tudo a ver. Regredimos. Muito.

.....Infelizmente, a educação e o respeito cederam lugar à permissividade, ao preconceito. O "ser" não é mais tão importante quanto o "ter". A sociedade regrediu, sob muitos aspectos.
Aurora


Hoje, apenas transcrevo, “uma imagem vale por mil palavras”

quinta-feira, 30 de julho de 2009

SEIS POR MEIA-DUZIA

João, coincidência ou não, do PMDB e prefeito de Salvador, descobriu uma variante do abrir buracos durante o dia para fechá-los à noite.

Os governos de regiões desenvolvidas tomam este tipo de medida, em tempos de crise, para criar empregos onde a infra-estrutura urbana está pronta e mão de obra e dinheiro sobrando.

Claro que não é o caso da capital da Bahia.

Nessa cidade, o que não falta é buraco, abertos de longa data. Contudo, o exemplo pode servir aos europeus que por aqui passam, como forma de estimular a economia deles e a gente também exportar descaramento.

Passemos a descrever a invenção:

Retira-se as guias em perfeito estado, recém-pintadas, de uma grande avenida, de preferência em horário de grande movimento para obter bastante notoriedade a custo dos transtornos aos motoristas.

Em seguida, coloca-se novas guias, idênticas, aproveitando parte do buraco deixado pelas anteriores.



E assim concluida mais uma obra inútil.


segunda-feira, 27 de julho de 2009

ARATICUM




O articum, como minha mãe a chamava , é uma fruta do cerrado. Parece uma pinha de tamanho avantajado, só que uma coloração amarelada e de um cheiro maravilhoso. Deliciosa.


Uma vez, quando eu tinha cerca de 13 ou 14 anos, minha mãe pediu-me que eu a comprasse numa na feira que acontecia a poucos metros de onde nos morávamos – nos arredores da Praça da Estação em Belo Horizonte.


Fui lá. Andei por entre as barracas da feira com alguns trocados no bolso, andei e andei até que me detive em uma das barracas que estava repleta dessa fruta e pedi por uma delas.
O vendedor, diante de meu interesse me ofereceu uma, madura, que exalava um cheiro estonteante de bom, a casca da se soltava de tão pronta para o consumo, maravilhosa, e a estendeu em minha direção.
Eu recusei.

Ao contrário, me interessei por outra que parecia ser um melhor negócio. Escolhi uma outra que estava mais firme, menos “desmanchante”, mais bonita e valiosa aos meus olhos.


Eu me achava muito esperto e achei que estava me esquivando de ser enganado por um comerciante inescrupuloso, e acabei levando para casa uma fruta totalmente imprópria para o consumo.
Lembro-me, ainda hoje, do olhar decepcionado do comerciante, mas ele não procurou me convencer de não levar a fruta ruim em detrimento da maravilhosa que tinha me oferecido.
Ele aquiesceu, pegou meu dinheiro, e tratou de seguir tocando seu comércio.
Ele tinha feito a sua parte.


Não sei se hoje faria diferente.


Minha mãe, lógico, ralhou comigo por ter levado para casa um produto tão miserável, completamente fora do que ela sonhava, ou esperava (ela adora articum), mas o evento por ser tão marcante em minha vida me trouxe muita sabedoria.
Não só no concernente à escolha de uma fruta, mas aprender a reconhecer um anjo quando tiver a graça de me deparar com um.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

2001


Há cerca de 14 anos, surgiu na Starnet uma polêmica sobre o significado da cena dos macacos e do osso (que vira uma espaçonave) no filme 2001 Uma Odisséia No Espaço, clássico de Stanley Kubrick. Quem não se lembra daquela cena intrigante?

Destarte sua pouca idade, o enredo do filme é tão bom quanto qualquer história mitológica ou bíblica em desenterrar arquétipos que se mostram como marcos no mapa da evolução antes presos em nosso subconsciente.

Um evento externo em determinado momento, o aparecimento do monolito no filme, desencadeia uma série de eventos, porém o mistério contido nele permanece ao longo de toda a trama.
O evento catalisador se equipara, na bíblia, à expulsão de Adão e Eva do paraíso, e ao casamento de Pakriti e Purusam no Bhagavad-gita, apenas para citar o texto religioso Védico mais conhecido e o mais freqüentemente traduzido.
Obviamente, o homem como único animal pensante, tenta dar significado à sua existência, consciente de sua superioridade aparente, mas esbarra sempre no incompreensível e o que vem a seguir é a conseqüência da falta de aceitação de suas limitações.

Paralelamente, correndo por fora, aparece a ciência, que através de gerações, o homem vem construindo a compreensão em que pese somente a racionalidade e a lógica. A ciência parece, no decorrer dos tempos, a ocupar o espaço do misticismo sem a existência de um confronto direto, exemplo, embora não negando a cronologia inserida nas escrituras de Adão à Cristo, sugere que Adão pode ter realmente existido, mas de forma alguma foi o primeiro homem e muito menos cearense.

Quando Galileu negou a existência de algum céu no qual estariam pregadas as estrelas, aquilo foi um choque aos poucos que lhe deram algum crédito. Para outros, no entanto, preferiu continuar no conforto psicológico das velhas crenças, assim a Terra continuou chata, ainda, por um longo período para a maioria esmagadora da população em que a informação e a compreensão não alcançavam.

Muita coisa mudou de Galileu para cá. A informação, hoje, é muito mais veloz, mas a população pouco informada também cresceu de forma estonteante e ainda representa a grande maioria. Tem-se, ainda, o agravante que o mundo ficou dividido em épocas e cativo de comportamentos que se solidificam a cada geração, comportamentos esses, muitas vezes contrários aos cientificamente e logicamente corretos com a previsão catastrófica de seus efeitos.

A Paleontologia, por exemplo, sugere que muito provavelmente, todos nós, seres viventes, somos provenientes de uma única célula que brotou na Terra bilhões de anos atrás, podendo ser coincidente com a própria idade do planeta, ou seja, a Terra já teria nascido com a semente da vida.

No entanto, a crença vigente é que os homens foram jogados à Terra.

A crença de que o homem foi criado e colocado no planeta foi contestada por Charles Darwin em 1859 em seu trabalho “A Evolução das Espécies” incontestável em suas bases até os dias de hoje, mas mesmo assim ainda prolifera consciente ou inconscientemente, inclusive, entre as camadas mais esclarecidas 150 anos após.

Tal crença traz em si um sentimento destrutivo.

No decorrer da proliferação humana em tempos mais recentes, essa foi ponteada por grande degradação ambiental, parecendo a olhos vistos, similar a uma praga que acomete a um jardim ou uma invasão nefasta de microorganismos em um corpo são, provocando, invariavelmente, perda da auto-estima aos seus seguidores. Grandes atrocidades que reclamam milhares de vidas são muitas vezes desculpáveis por essas pessoas, consciente ou inconscientemente, em prol de controle quantitativo ou mesmo qualitativo da população.

Vimos isso no holocausto, no lançamento das bombas em Hiroshima e Nagasaki, no bombardeio de Dresden entre outras ações destrutivas absolutamente desnecessárias. A lista continua nos tempos atuais e, pior, promete crescer em tempos futuros.

Há somente uma alternativa a esse caminho, a conscientização de que somos uma manifestação do planeta ao invés de uma praga que o acomete, algo que passa próximo à Teoria de Gaia de James Lovelock, algo que mostre que tudo que fazemos contra o ambiente é contra nós mesmos.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

ESTRELAS

Estrelas em ti

Diga que eu adoro.

domingo, 12 de abril de 2009

A QUESTÃO DO CAVALO


A Questão do Cavalo é uma questão para que você se conheça melhor.


Você pode manifestar sua opção aqui e eu vou comentar, mas manifeste também sua opção na enquete do mesmo nome.


Eis a questão:


Imagine que você esteja caminhando pelo campo e encontra um maravilhoso cavalo. Você o pega e leva para o seu estábulo, trata dele, escova-o todos os dias, retira-lhe os carrapatos e o alimenta com a melhor das alfafas.


Um ano se passa.


Certo dia bate em sua porta um senhor que diz que o cavalo pertence a ele.


[Primeiro fato novo] O suposto dono sabia todo o tempo do paradeiro do cavalo!


[Segundo fato novo] A continuaçao da estória:

Assaltado por muitas dúvidas, você pede para o tal senhor esperar um pouco, e vai ter um momento a sós com o cavalo.
Você o acaricia e expõe para ele a questão.
Não é certo que o cavalo tenha realmente falado mas é possível que estivesse sob o encanto das fadas.
O fato é que ele poderia ter relinchado ou balançado a cabeça três vezes, e sua resposta não poderia ter sido outra senão,

a letra C de cavalo.

O que você faz?



a) Diz que o cavalo é seu e manda o tal senhor embora, sem mais delongas.





b) Deixa que o senhor leve o cavalo já que ele diz ser o dono.





c) Diz que pode levar desde que ele reembolse tudo que você gastou com o cavalo





d) Diz que o animal não é um cavalo e sim um burro





quinta-feira, 26 de março de 2009

GRITO DA TERRA


Imaginem que a humanidade, em um processo individual, tenha se conscientizado de repente da inutilidade de grande parte dos produtos que consome.
Imaginem, só por um momento, que pessoas, em número crescente, começassem a controlar o peso e baixar a taxa de colesterol, e por causa disso, abolissem as carnes de seus cardápios diários.

Imaginem o que aconteceria, se os ricos ao invés de trocar de carro todo ano, trocassem de três em três anos, a classe média de cinco em cinco, e assim por diante, preocupadas, talvez, pela escalada dos preços dos combustíveis, pela poluição ou mesmo pela falta de espaço para mais um carro na garagem.

Talvez os paulistanos, em dado momento, se sintam furiosos em ter cinco carros na garagem, um para cada dia da semana, por causa de um trânsito cada vez mais intenso, e sem mais espaço para pontes e viadutos. E ainda, pagar IPVA integral de um veículo que só pode trafegar em determinados horários e em determinados dias da semana.

O que aconteceria com a economia?

Com menores vendas as indústrias automotivas entrariam em crise, e por efeito dominó, essa crise seria transmitida para a indústria de autopeças, para o aço e para a energia. Com menor procura pela carne, que é uma commodity, seu preço despencaria junto com aço, que é outra commodity.

Neste processo, as pessoas se mudariam para locais mais perto do trabalho, ou do metrô, haveria uma desvalorização de imóveis nas regiões suburbanas.
Haveria demissões pela indústria, queda de seus papeis nas bolsas de valores, e as famílias não mais podendo honrar seus compromissos, pela perda do emprego e vendaval em suas economias, levaria a crise ao sistema financeiro.
Não tem nada demais em imaginar que estas coisas poderiam acontecer, como aliás, de fato acontecem, só que se atribui a fatores outros e explicados por fórmulas matemáticas. Porém a crise é de consumo.

O mundo está consumindo menos, gastando menos energia, e isto é terrível. Terrível para quem?

A crise é de consumo e foi deflagrada pela nação mais rica e consumista do mundo.
Um povo que, se economizasse 10%, quase que daria para sustentar com o que deixou de gastar, o consumo de todo o nosso país.
A crise é, portanto, de consumo de bens de luxo, principalmente.
Toda uma série de produtos inúteis, supérfluos, que com eles os ricos não querem mais gastar, por se acharem menos ricos atualmente.

Compreensível.

No entanto, as indústrias de quinquilharias e bens de lixo não conseguem compreender este fato singelo, muito menos os governos que incharam suas estruturas com toda a sorte de empregos idiotas, e agora se vêem subtraídos em arrecadações, tornando toda a estrutura insustentável.
Daí ter surgido o mantra; comprem, comprem, comprem.
O primeiro a ter lançado tal mantra, que na língua de origem é shopping, shopping, shopping, foi George W. Bush logo após os ataques às torres gêmeas em onze de setembro.

Naquela época, com o medo suscitado pela onda de terror, o encolhimento da economia americana foi dramático, obrigando o último presidente daquele país a freqüentar as redes de comunicação com o famoso mantra, ao invés de mensagens de luto e solidariedade aos parentes das vítimas, parecendo ainda mais insano do que deveria ser, a julgar por aquele sorrisinho idiota pouco tempo após a tragédia.

Nosso Lula, também, ensaiou o mantra comprem, comprem, comprem, em tempos recentes, mas a única resposta que obteve foi um outro, greve, greve, greve.
Coisa também compreensível para a nossa realidade.

"A situação é extremamente preocupante e difícil. É o primeiro revés em mais de 50 anos para o crescimento mundial", declarou Strauss-Kahn em uma reunião em Genebra da OIT (Organização Internacional do Trabalho) na segunda-feira passada, em uma referência à previsão do FMI de uma contração da economia mundial em 2009 de entre 0,5% e 1%, divulgado no evento.

"É preciso agir agora estimulando a demanda, porque as políticas monetárias atingiram seus limites", concluiu.
Ou seja, mais uma personalidade a entoar o mantra, comprem, comprem, comprem.

Enquanto isso, o grito do planeta, doente, é poupem, poupem, poupem, provando que a falta de visão não é a única deficiência dessa galera.

quarta-feira, 11 de março de 2009

ERRO TIPO CRASSO


Há um ano atrás, a taxa Selic era de 11,25%, e foi exatamente em março que o primeiro ato de desatino, a subida para 11,75%, deu origem ao fruto indesejável nove meses depois.
O rebento, um retrocesso brutal na economia no último trimestre.
Diante do fato de ainda estarmos no patamar de 12,75%, ainda, mais de 1% do mais pernicioso veneno para o desenvolvimento, qualquer variação próxima de zero no PIB neste ano, será mesmo uma dádiva da fortuna.

O mais provável, de fato, é que o país se afunde numa recessão em 2009 e se perca parte do avanço alcançado em 2007/2008.

Pena.

Falta de aviso não foi. E creio que o resultado não poderia ser pior.
Superou as piores expectativas como diria Mercadante e poderia ser melhor se a máxima, dita por Delfim Neto, fosse seguida; “se você não tem certeza do que está fazendo, faça devagar.

O risco de o país entrar por este labirinto já era bem sentido em meados do ano passado, como pode ser verificado neste trecho da entrevista à Folha de Luiz Gonzaga Belluzzo, no início setembro de 2008:

FOLHA - É possível combinar controle da inflação com crescimento da economia?BELLUZZO - Acho que o Brasil vem tendo um comportamento mais do que razoável. Desde 2004, o país está crescendo a taxas compatíveis com uma inflação baixa. Porém, dependendo da velocidade [da desaceleração global], a política econômica [do país] é outra.


FOLHA - Como seria, nesse caso?


BELLUZZO - Tem que desmontar rapidamente esse diferencial de juros, senão você vai aprofundar a sua recessão, como os alemães fizeram em 1930. Eles acharam que o choque de 1929 era transitório, mantiveram uma política de juros altos para atrair de volta os capitais e conseguiram na realidade agravar a sua deflação interna, o que levou a um desastre. Não digo que a nossa situação é a mesma; porém, se a desaceleração for muita e a aversão ao risco continuar e começar um movimento de capitais daqui para fora, podemos ter uma situação difícil a enfrentar.

Enquanto isso, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) admitiu nesta quarta-feira que a queda do PIB (Produto Interno Bruto) do país foi "muito grande" mas que não vai influenciar no crescimento econômico deste ano. Segundo ela, o Brasil tem "fundamentos fortes" para superar os impactos da crise financeira global.

Se a queda do crescimento ocorrida no último trimestre de 2008 que, com certeza, continuou pelo primeiro trimestre de 2009, acompanhada pelo aprofundamento da crise mundial, não influir no crescimento deste ano, teremos um curioso fenômeno aritmético para estudar.


Esperemos por este milagre.

quarta-feira, 4 de março de 2009

LIMITES III


Não se pode dizer que o capitalismo seja perfeito, mas foi o mais adequado, principalmente no pós-guerra, por alavancar uma recuperação rápida de nações arrasadas economicamente, e promover um estrondoso desenvolvimento mundial num período pequeno, pouco mais de 50 anos.
Duas características deste sistema foram primordiais e responsáveis por todo esse sucesso. A primeira é que o sistema funciona como uma bolha em que os lucros realimentam o sistema, e a segunda a contínua expansão, ou da onipresença do “quero mais”.
O sistema mantém seu equilíbrio pelas leis de mercado e sua sensibilidade em função da atividade especulativa.
Assim, seria impensável a existência do capitalismo sem os especuladores, eles são como sensores que propiciam rápido ajuste do sistema quando ocorre algum fator de desequilíbrio no mercado, como por exemplo, uma quebra de safra.
Mas neste mundo, não se pode preconizar a eternização de nada, muito menos de um sistema.
Assim, existirá um momento em que o sistema não será, simplesmente, o mais adequado, como pela entrada em cena de fatores, que o tornarão desaconselhável ou mesmo nocivo, tendo em mente o bem-estar da humanidade.
Dentro de um mundo limitado, nada pode crescer indefinidamente.
Haverá um momento em que a coisa tenderá a ficar maior do que o que a contém.
Logo, muito antes que isso ocorra, deverá acontecer uma desaceleração e depois uma estagnação ou mesmo uma recessão, se descoberto que já avançamos em demasia.

Se houvesse uma central mundial que coordenasse o crescimento global, muitos alarmes e luzes vermelhas já estariam emitindo seus sinais.
Já estamos cientes, embora não conscientes, que consumimos 20% a mais do que a Terra pode repor.
E o mais assustador, é que esse número vem crescendo rapidamente.
“Comemos” boa parte do planeta em apenas poucas décadas.

Pior que crescer acima do desejável é crescer desigual.
E isto soubemos também fazer colocando nossos extremos na luxúria e na miséria, sem contar os crescimentos desodernados sem infraestrutura própria, que pudesse evitar o envenenamento gradual de nosso habitat, como a poluição dos rios e mares.

Não é certo que saiamos dessa crise, porém, parece certo que, se isto acontecer, a saída deverá passar por uma remodelação total do sistema que, mesmo assim, estará mais fragilizado e muito mais vulnerável à próxima crise que inevitavelmente o acometerá em tempo não muito distante.
Mesmo mantendo a taxa de crescimento mundial positivo, mas muito próximo de zero, já que o sistema, por definição, não funciona no crescimento zero, e muito menos na retração.
Muito do desenvolvimento das últimas décadas se deve à industria automobilística, era que muitos críticos têm denominado de “happy driving” ou “dirigir feliz” na nação mais desenvolvida do mundo.
Lá, o índice número de automóveis por família é altíssimo, índice que, se copiado pelos chineses, seria capaz de transformar a China em um grande estacionamento.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

UM DIA O CAVALO CAI


Sempre que abro a página de meu banco pela internet aparece lá que tenho uma linha de crédito pré-aprovada de x reais à taxa módica de 1,89% ao mês.

Interessante que o valor x corresponde ao saldo de uma pequena poupança que tenho com o banco, e claro que, quando fui investigar, parece existir mecanismos que assegurem a poupança como garantia do empréstimo oferecido.

No frigir dos ovos o banco faz a intermediação entre a pessoa e ela mesma lhe cobrando uma polpuda taxa para que ela tenha acesso às suas próprias economias.


A oferta é perturbadora por levantar a seguinte questão: haveria alguém propenso a remunerar o agente financeiro (nem estamos discutindo o valor das taxas) para utilizar suas próprias economias?

Sim, deve ser a resposta, a oferta não permaneceria no ar se não rendesse resultados.

Os agentes financeiros gostam de denominar ofertas deste tipo como “produtos”.

A origem é arquetípica.

Produtos dão a idéia de mercadorias em que haja trabalho humano e, portanto, passíveis de que lhe sejam atribuídas um valor, na visão acertada de Karl Marx.


No entanto, o próprio pensador preconiza que uma mercadoria para ter um valor necessita ser de alguma utilidade.


Imagino as noites de verdadeiro “brainstorm” dos criadores desses “produtos”, muito trabalho intelectual, sem dúvida, mas onde estaria a utilidade para que pudesse conferir algum valor a estes?

É desafiante, chegando às raias do ridículo, imaginar alguma utilidade de um produto que, no final, redundasse no pagamento de uma tarifa para a utilização de um bem próprio, a não ser que imposto pelo Estado.

E quando se fala em “produto de crédito” o pasmo se converte em revolta. Que crédito é conferido a alguém quando se lhe confisca a poupança para retorná-la em forma de empréstimo? Haveria algum exercício de confiança?

Haveria a incursão em algum risco?

Não.

Então, literalmente, as instituições só estão realmente oferecendo crédito a quem não precisa dele e esses “produtos” inúteis, como uma forma cabal de aumentar os lucros a partir do nada, um embuste que vem aderindo aos contornos da confiança, fazendo com que todo o sistema faça água.

Hoje, comenta-se que o sistema capitalista deverá ser protegido dos próprios capitalistas.

Isto faz todo um sentido.

Os especuladores são necessários para dar sensibilidade ao sistema, no entanto, como eles não produzem, realmente esperam ganhar a partir do nada, a sua proliferação descontrolada tende a arruinar todo o modelo, pois rapidamente fazem com que os gastos suplantem a produção gerando crises como a atual.

Não significa que se pode imputar a alguém alguma culpa.

Se há um culpado, este é o Estado que falha em enxergar os desvios de rumo e corrigi-los a tempo.

O país pratica as maiores taxas de juros do mundo e ainda pretende que isto é normal dentro de uma conjuntura própria, um erro crasso.

Por exemplo, se medirmos a temperatura corporal da população de certa região e encontramos, digamos, 42 º C . O que é mais fácil concluir, que é normal para a região devido às peculiaridades climáticas ou esta população está doente?

O patamar dos juros hoje permite que os bancos captem a 6% e emprestem à taxa Selic sem nenhum risco já que o tomador é o próprio governo, ou seja, com um só computador dá para operar um banco lucrativo fazendo somente uma operação.

Mas não poderiam ficar só nisto, tentaram cobrar de seus clientes um excedente na emissão de cheques que foi vedada pelo Banco Central, mas ainda cobram excedente na utilização de caixas eletrônicos que ainda é permitido pela autoridade reguladora, como se pudesse existir diferença no fundamento da cobrança.


Tarifas malucas, e por aí vai.

E foi. uma enorme bandeira de certo banco na frente do trio elétrico da Timbalada, a música era outra, mas a que eu ouvia era um refrão muito divulgado nas rádios de Salvador como parte do comercial deste banco:
E vinha o “i”
depois o “a”
E depois o “uuuu” ....... sugerindo rimas óbvias para a alegria de Joãozinho.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

INDICE BIG MAC


Não sei quem poderia ter descoberto primeiro, se eu ou a revista “The Economist”, o índice Big Mac pode fornecer uma medida bem precisa de como anda a saúde da política cambial de um país. A notícia divulgada pela Folha On Line, de que o Brasil, que tinha no ano passado um dos Big Mac, o famoso sanduíche da rede McDonald's, mais caros do mundo, agora tem um preço menor que o cobrado nas lojas americanas em 4,24%, mostra que o cambio brasileiro está ajustado, levando-se em consideração que variações de 5% para mais ou para menos estariam dentro de uma margem razoável de segurança.
Antes da valorização do dólar o reles sanduba, rico em colesterol e pobre em nutrientes, que como eu, outros hispânicos tinham como a única refeição do dia em Miami, estava custando aqui US$ 4,73, em julho passado, enquanto era devorado por US$ 3,54 na terra do Obama, um ágio de 33,61% !
Engraçado, que nem precisaria ir a Miami. Bastaria abrir a revista The Economist para a constatação de que o câmbio estava totalmente defasado. Isso perturbou por tempo considerável o nosso comércio exterior onde, a exemplo do sanduíche, nossos produtos custavam os olhos da cara para os gringos, mas a quem realmente sofre da falta de visão não são eles.
Tanto a Rússia, como a China e a Índia estão com preços bem menores, tornando o Brasil um dos destinos de toda a sorte de quinquilharias exportadas por esses países, 90% lixo. O que fazer, intervir no mercado para subir mais um pouco a cotação da moeda? Estamos fazendo o inverso, queimando nossas reservas.
Verdade seja dita. Uma maior valorização do dólar iria estrangular ainda mais o país epicentro da crise. Isto tem preocupado um velho mago das finanças, ex-presidente do Fed, chamado por Obama para dirigir o importante Comitê para Recuperação da Economia, Paul Volcker. Como bem analisou Bernardo Kucinski,
“A desvalorização (do dólar) tem também a enorme vantagem de dar um calote disfarçado na gigantesca dívida americana de 4 trilhões de dólares. Será esse o mico que Volcker tentará passar para o resto do mundo? Alguns analistas americanos dizem que ele já está estudando com o FED uma política de estimulo à inflação. Maior inflação nos Estados Unidos do que no resto do mundo é o primeiro passo para desvalorizar o dólar.”
Façam suas apostas.