sexta-feira, 31 de outubro de 2008

MONEY TALKS


O Brasil pode ter maioridade econômica de fato, mas psicologicamente está preso à época do império. Diante de tanto barulho não consegue discernir para que lado a banda toca.
Dizem os mestres que o primeiro passo para a reabilitação de um erro é reconhecer que errou, e não estar infantilmente à caça de justificativas, mesmo porque o passado já não interessa, e o tempo é precioso.

A recessão chegou para os EUA e pelo jeito bateu forte para inverter o caminhar de uma economia tão gigante, tão pesada.

Segue o pânico e desespero. O primeiro monstro a enfrentar, a deflação.

A primeira evidência de que o desespero tomou conta, é o corte pelo FED da praticamente inexistente taxa básica de juros, e a segunda derramar mais dólares no mercado global.
A escassez da moeda americana vem forçando os preços (em dólar) para baixo e a tendência do cambio dos parceiros comerciais é, ainda, reforçar menores preços para os produtos exportados por aquela nação.

Diante disso, veio o ato desesperado de conter a valorização cambial via swap entre bancos centrais, últimos países contemplados: Brasil, México, Coréia do Sul e Singapura. Trata-se de uma operação de crédito em que se tomam dólares a pagar com as respectivas moedas locais.

Não se trata de um acordo, e também não visa conter efeito da turbulência sobre a economia desses países, como se tem noticiado, mas, sim agir sobre o cambio tentando minimizar os efeitos das variações cambiais nas relações com esses países. ( No Brasil, por exemplo, a moeda americana chegou a valorizar perto de 50%, significando que os produtos importados também ficaram mais caros em cerca de 50%).

É ingenuidade pensar que um país em crise estaria a administrar a crise de outros, mesmo que quisesse não lhe sobraria tempo

Enquanto isso, permanecemos sentados à beira do cais a olhar navios, ou melhor, caravelas, ou mesmo moinhos, embora torcendo para que tudo dê certo.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O OLHO DO FURACÃO



O olho do furacão é saudado pelo bom tempo que proporciona, mas o ar é sinistramente carregado. Com o passar do olho, o vento volta com igual fúria de antes e em sentido contrário. O que se viu fragilizado antes, se verá arrancado depois com a mesma perícia que os mestres de carpintaria extraem um prego.

Após a passagem do furacão só resta aos flagelados, um árduo trabalho de reconstrução.
A atual turbulência no sistema financeiro vem ganhando proporções de furacão, talvez até mais intenso que o que ocorreu em 1930, e o que se especula, não é quando passará e sim, o quão distante do “olho” estamos.

Cresce o temor de que a recessão realmente se instale gerando no primeiro momento um processo deflacionário decorrente da falta de crédito e liquidez no mercado. Sem dinheiro e sem crédito, os preços só podem mesmo recuar, esmagando os lucros do sistema produtivo e inviabilizando empreendimentos, enquanto permanecer a força atuando neste sentido.

Segue um breve período de paz, com a passagem do “olho”.

A necessidade de reconstrução num cenário de infra-estrutura desolada, proporcionará o surgimento da força em sentido contrário, a inflação.

Essa pode ser perniciosa a ponto de tomar décadas antes que o mundo se organize de novo em algum tipo de progresso sustentável.
Os indicadores econômicos apontam para alguma coisa parecida com a depressão de 1930, mas com um cenário muito menos favorável energeticamente falando, uma população muito maior para um planeta bem mais depredado, além de um povo muito mais cansado.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A CRISE FINANCEIRA AMERICANA II



O que temos visto noticiado pela imprensa da área econômica é, em suma, um contínuo bombear de dinheiro do governo, ou seja do público, para os bancos privados.

As cifras são astronômicas, e por isso, muitas vezes traduzidas em porcentagem do PIB.


Fala-se em meio a muito alarde, de planos de resgate do sistema financeiro mundial, uma coisa de tamanha complicação que só mesmo os computadores entendem. Porém, as razões e os efeitos deste atual desvario mundial não podem estar apartados dos fundamentos a partir dos quais foram montados. Sendo o sistema financeiro uma criação humana, ele deve ser compreensível e acessível pela mente humana a partir de um raciocínio simples.

Observar um fluxo de dinheiro do sistema público para o sistema bancário privado, considerada a elite do capitalismo ou os donos do dinheiro, é deveras, e a qualquer tempo, uma coisa surpreendente. Como poderia os donos do dinheiro estar a necessitar do que sempre tiveram?
Considerando que o mundo ainda preserva um mínimo de sanidade, podemos deduzir que os ricos perderam muito dinheiro, e pelo pânico, mais que o razoável em uma jogatina em Las Vegas.

Segundo o que se diz, eles foram pouco responsáveis em suas apostas, concedendo crédito à pessoas pouco confiáveis, os ditos “subprime”, que de alguma forma se uniram em um “balão” generalizado, deixando os pobres ricos menos ricos, quiçá pobres.

Sim, é surpreendente, mas devemos acreditar porque os eventos que se sucedem fornecem prova cabal de que o inimaginável ocorreu.

Os pobres, agora, se vêem pressionados a emprestar dinheiro aos ricos, sob a ameaça do colapso total do sistema desenvolvido democraticamente, ou a favor da maioria pobre por definição e por concepção.

Os vários planos de resgate que vem sendo noticiados pela imprensa mundial é literalmente “resgate”, motivado pela dependência psicológica ou apego no que se quer resgatar, não interessando no primeiro momento se a coisa vem viva ou morta, ou se vai continuar operante ou não.

Na língua inglesa, essa alusão é feita pela expressão “shore up” que significa mais ou menos “colocar na praia”.

Como disse Benn Steil, diretor do Conselho de Relações Exteriores EUA “ Isto se parece como alguma coisa levada pelo pânico.” Segundo ele, se referindo ao plano de Paulson , o objetivo do governo é colocar um piso no valor dos ativos antes que virem pó.

A mesma idéia de emergência com o que o plano se reveste foi sentida pelo Premio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, quando disse que o plano “não é mais que uma solução de curto prazo”.

Letras grandes e gráficos coloridos, como se estampam as notícias nos jornais, dão a impressão de que a coisa não é tão séria e até toma um ar festivo quando o que se passa é por culpa daquele vizinho chato.

A verdade é que o produto, que agora explode na mão deste vizinho, nós também temos, usamos e dormimos com ele debaixo do travesseiro, e com isso corremos o risco, de um dia, acordarmos sem a cabeça.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Mary Lu


A ação coordenada dos bancos centrais em cortar a taxa básica de juros significa uma permissão para a entrada da inflação mundial a ser computada como custo para o controle da crise que tomou dimensões tsunamicas e ainda ameaça engolfar o mundo.

A despeito de todo o socorro, a monstruosa e pesada economia mundial vem perdendo velocidade como um navio que tenha desligado os motores. Todo o pânico que acomete os investidores é que o monstro pare (estagflação) ou mesmo ande para traz (recessão).

O que vem a seguir?

Menor consumo significa menor produção. Menor produção significa custo mais alto por unidade produzida, portanto, menos lucro. Menos lucro significa menos investimentos além da prática de preços mais altos pelas indústrias que queiram se manter no mercado.

Assim, os EUA tomam o mesmo caminho das crises anteriores que é a desvalorização de sua própria moeda, agora em consonância com a desvalorização das moedas de outras nações desenvolvidas, ou seja, vem aí uma outra onda de inflação mundial, na melhor das hipóteses.

No entanto, pode ser que a retração do consumo seja tão violenta que não se consiga evitar uma quebra generalizada. A falta de dinheiro no mercado (crise de liquidez) leve a uma continua desvalorização dos ativos, a deflação, e essa leve à máxima: “por que consumir hoje o que estará mais barato amanhã?”

Portanto, o momento é de cautela.

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, lançou um alerta sobre possíveis "emergências bancárias" no mundo em desenvolvimento e crise nas balanças de pagamentos na medida em que a atual crise financeira avance. Já o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, pediu que os países da União Européia colaborem na busca de uma solução para a crise financeira e não adotem medidas unilaterais

E o nosso BC? Queimou largada e disparou na frente, só que para o lado errado.

É curiosa é a posição da autoridade monetária nacional diante destes últimos fatos. Aumentar a taxa de juros. significa colocar o país em recessão e, ainda, com uma inflação enfiada goela abaixo; deixar como está para ver como é que fica, é arriscar-se a ficar com a cara de perdido, como cachorro em procissão; cortar a taxa de juros é admitir que nunca deveria ter elevado e, assim, ficar com a cara de Mary Lu.