quinta-feira, 19 de junho de 2008

MERA COINCIDÊNCIA

O economista chefe do Deustche bank AG, o maior banco da Alemanha, Adam Sieminski, disse que o petróleo a US$ 200 "quebraria a espinha dorsal da economia mundial.” Considerando que não falta analista a dizer que o preço do óleo pode até passar dessa marca, estamos próximos de ver uma economia mundial paraplégica ou mesmo tetraplégica.

Internamente, o país luta para antecipar o dia do juízo quando a autoridade monetária se arrisca a cair do cavalo e fraturar o pescoço em suas investidas contra os moinhos, resultado de sua política quixotesca.

O Dow Jones recua a níveis de 21 meses atrás e atrás dos rebaixamentos promovidos pelo Goldman Sachs ao Citi e à GM, que por tabela dissolve a bolha criada aqui com o grau de investimento.

Tudo volta ao que era, ou melhor, depois da bebedeira a turma acorda sóbrio, mas na maior ressaca, e subtraído de alguns pertences.

A deterioração de nosso comércio exterior acelera com a valorização cambial ainda mais profunda, a inflação mundial já beira o centro de nossa meta de inflação interna, o BC aumentou para 25% as chances de estouro, e pelo andar da carruagem, deverá anunciar, daqui a algumas semanas, chances de 100% em estourar 25% ou mais.

Todo este desespero deverá se transformar em pânico quando as companhias aéreas não conseguirem mais enrolarem as suas contas com o combustível, obrigando os políticos a atravessarem o final de semana inteiro em Brasília.

Por outro lado, se não puderem mais voltar ao trabalho, a coisa pode melhorar.

Enquanto isso, engrossa a fileira dos críticos à atual política monetária:

Numa entrevista à Folha, Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo alertou para o "risco muito grande de déficit externo" que corre a administração de Luiz Inácio Lula da Silva com um câmbio muito valorizado. Defendeu restrição à expansão do crédito. E afirmou que o BC errou ao não reduzir mais os juros quando o cenário externo era favorável e que esse equívoco traz prejuízos hoje. Motivo: eleva o custo de combater a inflação.

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, disse nesta terça-feira que há espaço para que a taxa de juros Selic caia a níveis semelhantes ao que é praticado no México (hoje em 4%), opinião compartilhada com a do ex-presidente do BC, Armínio Fraga.

Alcides Leite Domingues - professor de Mercado Financeiro da Trevisan Escola de Negócios - em artigo publicado no Valor Econômico em 14/5 – disse:

"...quando comparamos a taxa básica real de juros de curto prazo, isto é, a taxa básica de juros de curto prazo descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses, chegamos aos seguintes resultados: 0,84% ao ano nos países desenvolvidos; 0,90% nos países em desenvolvimento (exceto Brasil); e 6,73% ao ano no Brasil.
A análise comparativa nos mostra que há, de fato, um preço que está totalmente fora de lugar no Brasil.
Um ponto totalmente fora da curva. Uma anomalia internacional. Trata-se da taxa real de juros, ou do preço do dinheiro, que no Brasil é cerca de 7 a 8 vezes mais caro que no resto do mundo.

Será que todo o mundo está errado e o Brasil certo?

Cabe ao Banco Central, órgão responsável pela política monetária no Brasil, responder esta questão".

Senão só com o macaco Simão.

4 comentários:

Ronaldo disse...

Nosso valoroso guerreiro parece começar a acordar de seu sonho quixotesco em querer controlar a inflação mundial via arrocho monetário no país do real.
Creio que ele acorda deprimido com a constatação de que era o único a investir contra os dragões e que todos o observavam e até incentivavam com dizeres: “vá primeiro que eu já vou” mas ninguém a acompanhá-lo de fato, a não ser os olhares curiosos e divertidos.
Coragem, bravo guerreiro, poderia ser pior, poderia ter caído do cavalo ou degolado pelas pás do moinho!


Falta de ação de BCs "prejudica controle da inflação no Brasil"
CAROLINA GLYCERIO
da BBC Brasil

A falta de ação dos Bancos Centrais de outros países no combate à inflação obriga o Brasil a aumentar os juros de forma mais drástica do que seria necessário se houvesse uma articulação internacional para conter as elevações de preços no mundo, dizem especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
"Quanto menos os BCs subirem suas taxas de juros, mais vamos ter que subir no Brasil", afirma o economista Ricardo Amorim, chefe da área de análise econômica para América Latina do banco West LB. "O BC fez as coisas certas, mas não contou com a ajuda de fora."
"Se eles apertassem mais, daria para apertar menos aqui", concorda Alcides Leite, professor de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios.
A lógica do argumento dos dois economistas é que assim como o BC brasileiro tem elevado os juros para desaquecer a economia nacional, só uma ação coordenada dos principais BCs nesse sentido provocaria uma redução da atividade econômica global, e portanto, uma menor elevação dos preços das commodities no mercado internacional.
"O Brasil não controla a demanda na Ásia, mas o aumento da demanda lá faz com que parte da oferta aqui seja exportada e a oferta local caia", diz Amorim.
Na semana passada o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em entrevista ao jornal Financial Times, fez um apelo a outros bancos centrais para que se unam no controle da alta dos preços.
"Se cada dirigente de BC decidir que esse é um problema de outros países, ninguém fará nada e haverá uma inflação em todo o mundo", disse Meirelles.
Presidentes de BCs se reuniram nesta quinta-feira em Lausanne, na Suíça, numa conferência do Bank for International Settlements (BIS), o BC dos BCs, para discutir desafios na política monetária da próxima década.
"Efeito incerto"
O economista José Ricardo Fucidji, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), questiona a eficácia do corte de juros num contexto de inflação gerado pelo aumento "estrutural" da demanda.
"O impacto do aumento de juros é desconhecido, espera-se que a contenção da demanda contenha a inflação, mas esse efeito é muito incerto."
"Se ataco o efeito e a causa real é a especulação de commodities e a falta de oferta, o efeito é incerto. O remédio deve ser uma combinação prudente entre taxa de juros e expansão da oferta."
Para Fucidji, um corte de juros generalizado poderia provocar um desaquecimento excessivo da economia mundial. "Remédio na dose errada é veneno."
O economista Eduardo Strachman, colega de Fucidji na Unesp, concorda e diz que o Brasil deve tomar o cenário internacional como dado já que China e Índia, países importantes nessa dinâmica inflacionária, não compartilham da "obsessão" brasileira com a inflação.
"Se Estados Unidos e Europa não conseguiram fazer pressão sobre a China, comos nós vamos fazer? A postura deles é 'não vamos comer nem 0,5% de crescimento por causa da inflação'. Eles não mudam a política de câmbio e juros, isso não está em questão. Esses juros exóticos são coisa do Brasil."
Leite, da Trevisan, concorda que não só a China, como a Rússia e a Índia, querem "crescer a qualquer custo" e, portanto, admitem crescimento com inflação.
Grandes consumidores de commodities, como Estados Unidos, China e Índia, têm grande influência na formação dos preços desses produtos, explica Leite. Ao não apertar os cintos dentro de casa, eles mantêm uma demanda alta, que pressiona os preços.
Outra forma de impacto citada por Leite decorre da diferença nas taxas de juros, quando apenas alguns BCs utilizam esse instrumento no combate à inflação.
"O efeito secundário é que, com juros muito baixos lá fora e muito altos aqui, vamos atrair muito capital especulativo, o que pode levar a uma depreciação da moeda e prejudicar as exportações."

Ronaldo disse...

Falta pouco para o mundo compreender que um limite foi alcançado. A situação é peculiar, portanto, ninguém vai poder utilizar-se de experiência passada para resolver a atual crise. Também não existe nenhuma fórmula ou estudos anteriores, salvo os fundamentos da lei de mercado. Dois pontos necessitam ser compreendidos; primeiro, não há petróleo suficiente para todos. Isto deve ser provado em novembro quando a IEA (Agência Internacional de Energia, sigla em inglês) emitir seu relatório, resultado de estudos sobre as reservas mundiais e a capacidade produtiva mundial; segundo, o petróleo é insubstituível. Pelos fundamentos de mercado só há dois modos de fazer baixar o preço, ou pela destruição da demanda ou pelo aumento da oferta. Como a produção mundial permanece por volta de 86 milhões de barris diários já por três anos, pode-se deduzir que o mundo está encontrando dificuldades em produzir mais óleo. Isto pode ser visto com mais detalhes no blog Dream in Love. Assim só nos resta a destruição da demanda. Destruir a demanda implica produzir menos veículos via aumento de preços em conjunto com um aumento dos preços do combustível e da energia, implicando no desaceleramento da economia ou recessão. Fora de controle, a forma de destruir a demanda, e é esta que devemos a todo custo evitar, é a inflação (destrói a demanda via perda de poder aquisitivo). Mas a inflação só será evitada se houver uma articulação entre os bancos centrais de todo o mundo para diminuir as pressões inflacionárias mundiais. Não adianta tentar controlar a inflação internamente se ela é imposta pela comunidade internacional. Ou o mais difícil, uma consciência mundial de que devemos economizar, muitissimo difícil no atual modelo de sociedade baseado no consumismo.

Ronaldo disse...

Tenebrosas transações
CÉSAR BENJAMIN

O BANCO Central (BC) vem realizando operações heterodoxas e desnecessárias que resultam em prejuízos reiterados de bilhões de reais repassados ao Tesouro Nacional. É o chamado "swap" cambial. A tecnicalidade dos procedimentos e a blindagem nos meios de comunicação têm garantido a impunidade.
Economistas e jornalistas, implacáveis com qualquer aumento nos gastos públicos, ignoram a suspeitíssima sangria.
Na linguagem do sistema financeiro, agentes privados fazem uma operação de "swap" quando trocam ativos com diferentes rentabilidades e prazos de vencimento. Problema deles. O "swap" cambial é uma aposta nas variações das taxas de câmbio e de juros: ganha quem acerta no comportamento futuro dessas duas variáveis.
É uma operação puramente especulativa: um lado ganha exatamente o que o outro perde. No Brasil, porém -e só no Brasil-, quem oferece o negócio é o BC. É, pois, problema nosso. Estranha operação. Pois o próprio BC, numa ponta, fixa a taxa básica de juros; na outra, como gestor das reservas cambiais, interfere decisivamente na taxa de câmbio. É como se, em um jogo qualquer, um dos times pudesse escalar também o juiz. Os especuladores aceitam uma aposta contra um adversário que controla as regras do jogo. Incrivelmente, ganham!
Essas operações foram introduzidas por Armínio Fraga, então presidente do BC, em pleno curso da campanha eleitoral de 2002. Com a crescente possibilidade de vitória de Lula, temia-se uma corrida para o dólar.
Fraga decidiu inaugurar uma operação heterodoxa em que o BC arbitraria suas perdas, garantindo aos especuladores o reembolso de prejuízos com a desvalorização do real, de modo a induzi-los a permanecer na moeda nacional. Lançou operações de "swap" em que o BC ganharia se houvesse valorização do real, cabendo aos especuladores a posição oposta.
Quando a pressão dos credores internos paralisou o refinanciamento da dívida pública a partir de maio daquele ano, a cotação do dólar disparou, como se previa, subindo de R$ 2,50 em abril para R$ 3,63 em novembro. Quem tinha contratos de "swap" cambial ganhou com essa diferença, dando um prejuízo de R$ 10,9 bilhões ao Banco Central.
Nos dois primeiros meses do governo Lula, o prejuízo com essas operações foi de R$ 4,6 bilhões. Porém, as condições mudaram. A rápida recuperação da balança comercial e dos saldos externos induziu à valorização do real. Como os contratos de "swap" cambial haviam sido estabelecidos no regime anterior, quando o real se desvalorizava, os especuladores começaram a perder.
Já sob o comando de Henrique Meirelles, o BC alterou gentilmente as condições dos contratos, oferecendo o chamado "swap" reverso. O BC e os especuladores trocaram de posição, e o BC recomeçou a perder. Estamos diante do único caso, no mundo, em que um banco central aposta contra a sua própria moeda.
Operações de "swap" realizadas por bancos centrais são uma heterodoxia brasileira. Já não existem mais, há muito tempo, os motivos alegados por Fraga para justificar a invenção, mas ela continua a existir e a fazer milionários. Em 2006 e 2007, nessas operações, o BC repassou aos especuladores R$ 14,3 bilhões. De janeiro a maio de 2008, já havia entregue mais R$ 4 bilhões. As perdas são crescentes, pois as taxas de juros voltaram a subir e o real continua a se valorizar.
Na contabilidade do Banco Central, esses resultados têm sido escondidos no meio de números que tratam da contração ou expansão da base monetária, de um modo que ninguém consegue entendê-los.
A política atual do BC só aumenta essas doações. Com o pretexto, agora, de conter a inflação. O papel dos juros no controle da inflação é controverso, para dizer o menos. E a valorização continuada do real, como todos sabem, é o suicídio do país em médio prazo. Quem ganha, com certeza, são os apostadores no "swap".
Recapitulemos: o BC propõe uma aposta viciada, em que ele mesmo pode manipular as variáveis decisivas.
Os especuladores aceitam. E o BC perde a aposta! Joga porque quer -pois isso nada tem a ver com política monetária- e perde porque quer.
O prejuízo -cerca de R$ 18 bilhões em pouco mais de dois anos- é repassado ao Tesouro Nacional.
Nos jornais, sob aplausos dos defensores da responsabilidade fiscal, os dirigentes do BC criticam o aumento dos gastos públicos e solicitam um superávit primário maior. Precisam de mais recursos, retirados da sociedade, para cobrir as bondades que fazem à turma da especulação.
Se diretores de bancos centrais dos Estados Unidos ou da Europa, formalmente independentes, agissem assim, sairiam algemados dos seus escritórios, no mínimo, por gestão temerária. Aqui, provavelmente nada acontecerá.
Sabíamos, há muito tempo, que o Banco Central brasileiro está acima dos Poderes da República. Agora sabemos que também está acima da lei. O Ministério Público deveria agir.

CÉSAR BENJAMIN , 53, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária

Ronaldo disse...

Sobre a publicação acima

O autor deixa (por conveniência ou não) de investigar e examinar as causas possíveis do que chamou de “transações tenebrosas”, os swaps cambiais.
Trata-se, evidentemente, de uma jabuticabice, mas não podemos evitar jabuticabices na terra das jabuticabas, e sim entender as suas peculiaridades.
Devemos entender o swap cambial como um tônico, de eficácia discutível, que mascara ou elimina os sintomas de uma determinada enfermidade, sem ação sobre os agentes da infecção, e até de certa forma protegendo os invasores malignos.
Pode não ser, para alguns, uma forma muito inteligente de ação, mas não devemos generalizar as jabuticabices como burras em primeiro lugar.
Como já exposto pelo autor, o swap cambial apareceu quando Armínio Fraga era o presidente do BC, como na época interessava à nação que os investidores estrangeiros mantivessem suas posições em reais, então ofereceu uma garantia ou um bônus a quem temia a valorização, oferecendo uma compensação se ela ocorresse. O que se queria evitar à época? Um ataque especulativo ou uma debandada geral do capital estrangeiro em uma época de transição política. A jabuticabice parece ter evitado desastre maior, já que com toda a tramóia o dólar ainda alcançou R$ 3,63, mas depois foi retornando aos poucos, até a começar a vir demais..
O que acontece agora? O oposto, lógico, o cambio muito valorizado está deteriorando nosso mercado externo, e este fato é resultado de excesso de capital estrangeiro no país. Então, o BC trocou de posição e resolveu mandar esse excesso embora.
O resultado já se fez visível na bolsa de valores, derrubando-a mais de 10.000 pontos em decorrência deste capital em fuga, levantando a ira de muitos investidores que mantiveram os seus “micos” . Isto, no entanto, é apenas um ajuste de curto prazo, procura-se um equilíbrio em uma cotação para o dólar que o BC guarda a sete chaves.
Na verdade, o BC age em conclamar o sistema financeiro a segurar suas posições em moeda estrangeira, enxugando o excesso de dólares no mercado e assim fazer subir a cotação, como se ele estivesse no limite de aquisição de mais moeda estrangeira, para colocar mais reais no mercado e assim bagunçar a política monetária.
Que o BC vai perder, em definitivo, não vai porque compra dólares mais barato para vendê-los mais caro no final da operação.
Se vai dar certo, isto é outra coisa, se não segurar a inflação perde feio e a sociedade junto. Seria muito melhor não ter provocado os efeitos colaterais do primeiro tônico(a subida da Selic), do que estar, agora, ministrando um outro remédio para tratar deles.