quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

LIMITES




Para tudo existe um limite.
Os limites só aparecem no futuro, quando já é passado, quando já é história, como um simples registro, um rastro, vestígios.

Estão aquém dos nossos poderes sensoriais, não fazem parte do nosso agora, não podem ser sentidos nem vistos a olho nu.
Mas existem.

Sentam-se à mesa do café, a cada manhã, nos fazendo companhia em um mundo paralelo.
O mesmo mundo em outra época.
O mundo nos jornais.
Diversos limites ficam lá registrados, os de outros, os de coisas, mas nunca os nossos.
*
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De acordo com James Howard Kunstler, e eu estou inclinado a concordar com ele, a implosão da “bolha imobiliária” está amplamente mal-entendida.
Não representa apenas o colapso do mercado de uma espécie de commodity, sim o fim de um sistema urbano, o modo de vida que representa, e de uma inteira economia a ele conectado.
É o craqueamento de um sistema em que os EUA tem investido grande parte de sua riqueza desde 1950.
Parece trágico que os investimentos desastrosos somente se aceleraram à medida que o sistema inteiro vem abaixo, mas parece ser uma lei natural que as ondas só elevam suas cristas quando prestes a quebrar.
É o fim do “american way of life” baseada na indústria automobilística, construção das “highways”, do petróleo farto e barato, que o mundo inteiro se ocupou em copiar.
Agora, paciência.
O pior, continua Kunstler, ao invés de iniciar o duro processo do recomeço para um novo estilo de vida, empreenderemos uma campanha para sustentar o insustentável estilo de vida atual a qualquer custo.
O colunista da Fortune, Stanley Bing, escreveu que Bush foi pedir misericórdia no deserto. Bush falou ao rei que o óleo está muito caro e que está sendo difícil para a economia americana.
Pediu para que a OPEC aumente a produção, fundamentando que se a economia de um grande comprador fosse abalada eles poderiam ter suas vendas diminuídas e também serem afetados de alguma forma.
Uma lógica pueril.
Como Bing disse, é um modelo para atitude de todos nós. Quando algum produto te parecer caro, não compre, simples, e assim tudo se resolve.
Se a despeito da enorme crise de energia que ameaça a se abater pelo mundo, alguém ainda ousa a se aventurar na Bovespa, este mercado insano, pelo menos que evite as grandes energívoras, como as relacionadas com a indústria do alumínio e do aço, transportes aéreos e por aí vai, e boa sorte.

4 comentários:

Ronaldo disse...

MARTA SALOMON
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Amparado em dados oficiais, mas com conclusões bem diferentes do discurso oficial, estudo da Abrace, associação que reúne grandes consumidores de energia, aponta déficit de energia de 1.743 MW já neste ano. O estudo trata da chamada energia firme, aquela que os geradores podem negociar em contratos. A dimensão do déficit em 2008 corresponde a mais da metade da potência da usina de Santo Antônio, no rio Madeira (RO), que foi a leilão em dezembro.

A falta de energia suficiente para lastrear contratos de comercialização no mercado livre -ao qual recorrem indústrias, shoppings e hipermercados, por exemplo- deixaria os grandes consumidores mais expostos a preços muito elevados, até aqui o maior sinal de problemas na oferta.

Nesta semana, o preço definido pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) para o mercado de curto prazo alcançou R$ 569,59 por MWh (megawatt-hora), o maior valor desde o segundo semestre de 2001, época do apagão.

"O país já não terá neste ano energia suficiente para atender a toda a demanda", diz Patrícia Arce, diretora-executiva da Abrace. O governo insiste em que não há risco de racionamento em 2008.

Procurados ontem, o Ministério de Minas e Energia, a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) não se manifestaram sobre o assunto até a conclusão desta edição.

O estudo ressalta que a oferta de energia firme aquém da demanda não significa "necessariamente" que haverá um racionamento de energia elétrica, mas que não haverá energia suficiente para as geradoras lastrearem contratos de venda para atender integralmente ao consumo da indústria.

Ilusão

"Os consumidores livres foram iludidos em 2005 com dados oficiais que apontavam uma situação de oferta de energia que levou a decisões consideradas perigosas para a competitividade da indústria nacional, uma vez que a situação projetada não se concretizou", conclui o documento da Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia e de Consumidores Livres.

O estudo da Abrace prevê que um "apagão" de contratos de energia para os grandes consumidores se repetiria com intensidade menor em 2009 e em 2011, primeiro ano de governo do sucessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A entidade comparou previsões oficiais feitas pelo ONS em novembro de 2004 e novembro de 2007. A disponibilidade de energia firme para contratos caiu nesse intervalo de tempo.

Entre 2005 e 2007, a oferta de energia caiu 9,4%, enquanto a demanda cresceu 7,9%.

Motivos

O cancelamento de contratos para a importação de gás da Argentina e sobretudo as dificuldades da Petrobras em abastecer as usinas térmicas a gás seriam as principais causas da queda da oferta de energia, aponta o estudo.

Se o cenário de 2004 tivesse se confirmado, avalia Patrícia Arce, a energia estaria sendo negociada no mercado livre nesta semana a cerca de R$ 170 por MWh, menos de 30% do custo atual.

Os grandes consumidores, que negociam contratos no mercado livre, compram cerca de 25% da energia produzida no país.

A maior parte da energia vai para o chamado mercado cativo, ao qual pertencem os consumidores residenciais.

Ronaldo disse...

CIRILO JUNIOR
da Folha Online, no Rio

O nível dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste está 0,5 p.p (ponto percentual) abaixo do nível mínimo de segurança estabelecido pela Curva de Aversão ao Risco, segundo o Informativo Preliminar Diário da Operação da última quinta-feira, divulgado nesta sexta-feira pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

O documento indica que os reservatórios da região estão com 44,8% de sua capacidade preenchida, diante de um nível mínimo de 45,3% estabelecido para esta época do ano.

Com isso, o ONS poderá pedir para que mais térmicas da região sejam ligadas para poupar o nível dos resevatórios. Outra solução que poderá ser aplicada é o aumento da transferência de energia da região Sul para o sistema Sudeste/Centro-Oeste. Os reservatórios do Sul estão com 69,1% da capacidade ocupada, e o nível mínimo exigido é de 19,8% nessa parte do ano.

O baixo nível dos reservatórios, ocasionado pela falta de chuvas, fez com que o governo optasse pelo uso de usinas termelétricas para evitar o uso dos reservatórios. Recentemente, foi definido que serão acionadas usinas térmicas movidas a óleo no Sul e no Sudeste, que darão um incremento de 800 MW à geração do sistema.

A opção pelo uso das térmicas movidas a óleo está ligada à falta de gás natural para o acionamento de todas as unidades que operam com esse combustível. O uso de óleo combustível poderá implicar em tarifas mais caras para o consumidor, já que a utilização deste tipo de insumo tem um custo mais alto do que o do gás.

Na quinta-feira, as térmicas do sistema Sudeste/Centro-Oeste tinham previsão de despacho de 4.078 MW, mas geraram um pouco abaixo do previsto, totalizando 3.820 MW gerados. A usina Norte Fluminense, por exemplo, gerou um pouco abaixo do previsto em boa parte do dia devido à indisponibilidade de gás.

No Nordeste, o nível dos reservatórios também está baixo, com 27,1% do total da capacidade preenchida. O nível mínimo de segurança exigido, no entanto, é de 10% nessa época do ano. mesmo assim, o governo decidiu ligar as térmicas da região para preservar os reservatórios.

Ronaldo disse...

21/02/2008 - 08h21
Crise energética causa "tensão" na América do Sul, diz "El País"


da Folha Online

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina e a questão do abastecimento de gás vindo da Bolívia é destaque na imprensa internacional nesta quinta-feira.

"A crise energética sul-americana deixou de ser um cenário hipotético para se transformar em ameaça real, diante da qual todos os governos da região estão adotando medidas de urgência para evitar que dentro de poucos meses comecem os cortes expressivos de fornecimento de energia. E a tensão política já começa a notar-se", afirma o diário espanhol "El País"

O jornal aponta para o convite feito a Evo Morales, de participar de um encontro com os dois presidentes no sábado, como um sinal do agravamento da crise.

Brasil e Argentina importam gás da Bolívia --o governo brasileiro importa um volume quase dez vezes maior que a Argentina--, mas o governo boliviano já avisou que não vai poder cumprir os contratos iniciais, a não ser que o Brasil abra mão de parte de seu gás para a Argentina.

"Em privado, representantes brasileiros não escondem o mal-estar pelas pressões que Lula vai receber em Buenos Aires. 'Este ano há uma grande seca no Brasil, o que significa que produzimos menos eletricidade do que o normal. Eles querem que a gente corte, voluntariamente, a energia de nosso povo para evitar problemas para a presidente argentina?', disse uma fonte brasileira a este diário".

O "El País" ainda aponta que, neste ano, será ainda mais difícil para a Argentina recorrer ao Brasil caso precise de energia, já que o país não terá muitas condições de ajudar, e afirma que Kirchner poderá então recorrer à Venezuela, com quem ela deve assinar um acordo de intercâmbio de energia por alimentos no mês que vem.

"E é essa perspectiva, de que a Argentina se jogue ainda mais nos braços da Venezuela, que pode mudar a postura de imobilidade brasileira na negociação do sábado".

Chile

No Reino Unido, o "Financial Times" destaca os problemas que o Chile enfrenta por conta da crise entre Brasil, Argentina e Bolívia.

Segundo o jornal, o Chile "é o último e vulnerável elo de uma corrente sobrecarregada de fornecimento de gás na região em que políticas populistas seguraram o desenvolvimento das reservas de energia".

"A crise da energia está pesando nas previsões de crescimento econômico do Chile, enquanto o país tenta assegurar sua entrada na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A expectativa é que a economia cresça 4,6% neste ano, em comparação com 5,2% no ano passado. Maria Olívia Recart, sub-secretária de finanças do Chile, disse este mês que as restrições ao gás podem cortar de 0,5% a 1% do PIB do país".

Segundo o FT, o baixo custo de serviços na Argentina impediu investimentos para aumentar a produção doméstica de gás e o governo vem dependendo de complementos da Bolívia. "Mas a Bolívia fracassou em atrair investimentos estrangeiros para aumentar sua produção desde que enviou tropas para nacionalizar a indústria do gás em 2006 e agora admite que não pode cumprir as ambiciosas metas de exportação --compromissos com a Argentina e com seu outro cliente estrangeiro, o Brasil".

Para o jornal argentino "La Nación", "a chegada de Lula se dá em clima de otimismo. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse aqui que a relação bilateral com a Argentina é 'a mais estratégica' de seu país".

"Por conta disso, ontem, no governo de Cristina Kirchner davam como superadas declarações anteriores de Amorim, em que o ministro havia antecipado que seu país não cederia, a priori, na disputa pelo gás da Bolívia. E que exigiria a mesma divisão, sem ceder parte de seu fluxo à Argentina. Esses comentários haviam gerado mal-estar antes do iminente encontro em Buenos Aires".

Segundo o "Página 12", também da Argentina, o encontro é "para brindar com caipirinha". O jornal ainda destaca os acordos que devem ser firmados durante a viagem, entre eles, o que "busca impulsionar a fabricação conjunta de armamento para defesa e exportação".

Ronaldo disse...

29/02/2008 - 09h06
Brasil adoraria estar "cantando na chuva" para evitar apagão, diz "FT"
da BBC Brasil

"Os brasileiros --e especialmente o governo-- têm que rezar pela chuva", afirma reportagem publicada na edição desta sexta-feira do jornal britânico "Financial Times" ("FT").

Segundo a reportagem, intitulada, "Brasil gostaria de nada melhor do que estar cantando na chuva", a última vez em que o racionamento de energia foi introduzido no Brasil, ele acabou derrubando o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, e por isso, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer evitar uma associação com o apagão a todo o custo.

"Durante 2001 e 2002, a combinação de pouca chuva e má administração forçou distribuidores a limitar o fornecimento de energia para residências e para a indústria", afirma o "FT".

"O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso ficou conhecido como o 'governo do apagão' e seu partido foi derrotado nas eleições de 2002. O governo de seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, quer evitar qualquer impressão de que a mesma coisa possa voltar a acontecer."

Segundo o jornal britânico, apesar de o governo descartar o risco de apagões e afirmar que já está se preparando para 2009, outros discordam, e avisam que as próximas semanas serão cruciais.

"Se a chuva não cair, o país pode sofrer racionamento preventivo já a partir de maio, na pior das hipóteses", segundo alerta de Rowe Michels, do banco de investimentos Bear Sterns, entrevistado pelo jornal.

O "FT" afirma que, para alguns analistas, o racionamento já começou. "Nenhum corte foi anunciado, mas o modo como o mercado de energia do Brasil é estruturado já resultou em aumentos de preços tão altos para a indústria, que pelo menos duas grandes empresas foram forçadas a fechar e demitir funcionários."

Segundo o jornal, é "irônico que parte do problema brasileiro seja o fato de o país ser abençoado com eletricidade barata e abundante das usinas hidrelétricas".

"Elas garantem 85% da eletricidade, mas as grandes represas são caras e levam tempo para ser construídas, e novos projetos enfrentam atrasos e dificuldades, especialmente na emissão de licenças ambientais."

O jornal destaca que apesar de o Brasil usar apenas um terço de seu potencial hidrelétrico, o governo partiu para usinas termoelétricas, cuja construção é mais rápida, para reduzir a dependência da chuva.

"Mas as novas usinas não mantém o mesmo ritmo da demanda", afirma o "FT". O jornal explica que, parte do problema, é a falta do gás natural vindo da Bolívia, provocada, entre outras coisas, pela nacionalização do setor em 2006 pelo presidente Evo Morales, que levou à falta de investimentos.

O "FT" cita ainda o consultor de energia Paulo Ludmer, da Abrace, que diz que a falta de chuva foi exacerbada pelas regulações do governo Lula, que prevê que a indústria pode comprar eletricidade diretamente dos geradores, sem passar pelo distribuidor, para garantir o suprimento.

"Cerca de 25% da energia usada no Brasil é comprada desta forma. Mas com o crescimento econômico, a demanda ameaça ultrapassar a oferta", o que provocaria flutuação nos preços, dificultando a situação da indústria, diz o jornal.

"Com esses e outros contratempos mantendo o perigoso equilíbrio entre oferta e demanda, a segurança do fornecimento depende, uma vez mais, da chuva."