sexta-feira, 28 de novembro de 2008

DESERTOS


“O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, exaltou nesta quinta-feira a forte regulação e o provisionamento dos bancos brasileiros, que conseguiram manter o sistema bancário local afastado do epicentro da crise financeira global. "A prudência compensa", disse Meirelles em discurso no jantar anual da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).”

O que teria querido dizer a eminente autoridade com as assertivas acima?

Exaltou a forte regulação e o provisionamento.

Segundo o Aurélio, quem exalta torna alto, sublime, grandioso, alguma coisa. No caso, o que a autoridade diz ser grandiosa ou sublime é a forte regulação e o provisionamento dos bancos brasileiros. Podemos entender que a regulação é efetuada pelo BC, só que aí deparamos com o primeiro entrave em nossa análise; qual seria o objeto da exaltação?
Descartada a hipótese que o presidente estaria a exaltar si mesmo, nos resta somente a de que ele estaria a exaltar, na posição de presidente da instituição reguladora do sistema financeiro nacional, o bom trabalho das entidades reguladas em se auto-regular e no tocante à questão do provisionamento.


Mas o que seria provisionamento?

O nosso habitual socorro, o Aurélio, falha em nos transmitir o significado de tal vocábulo. Talvez tenha sido inventado em função de algum tempero excêntrico presente nas iguarias servidas no jantar.
O que nos salva, contudo, é que a raiz da palavra é conhecida, e tem a ver com provisão.

A idéia coloquial de provisão é de abastecimento, fornecimento, sortimento, provimento, mas no caso, conhecido o ambiente contábil em que se desenrolava a conversa, a idéia é de separação de um valor para uma determinada conta, como na “provisão para devedores duvidosos” em que se separa um valor que se acredita perdido mas que ainda os custa a admitir o fato.

A dificuldade, agora, em nossa análise é que a provisão, qual como é definida, sempre antecede o que se quer prover, ou antever um valor para. Assim, é desprovido de qualquer sentido o fato da provisão acompanhar o que se quer “provisionar”, como o ilustríssimo senhor deixou a entender em sua fala:

“Meirelles ainda defendeu, durante seu discurso, que o Brasil poderia ter um sistema de provisionamento de crédito que acompanhasse a concessão deste crédito. Atualmente, os bancos fazem o provisionamento de acordo com o tipo de financiamento dado e com o nível de risco que considera ter ao fazer a operação.”

Contabilmente, o financiamento é que teria que acompanhar o “provisionamento”.

Contudo, analisando no contexto e atento à chave “A prudência compensa” o Sr. Presidente, de fato, elogia a atitude dos bancos em se expor menos a riscos, separando uma parcela (provisão) menor do dinheiro disponível para financiamentos e empréstimos apesar dos tentadores ganhos prometidos pelas taxas de juros (prudência).

Embora, se saiba que menos dinheiro para o financiamento do desenvolvimento significa mais dinheiro para a especulação e para outros fins menos nobres, a seguir passam para as apostas em quanto deverá crescer o país em 2009, apesar de todos esses entraves.

“Já o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse durante a sua fala que as conseqüências da crise são menores no Brasil, inclusive na comparação com os demais países emergentes. Por esse motivo, continua mantendo a sua aposta de que o PIB (Produto Interno Bruto) crescerá 4% em 2009.
A maioria dos analistas apostam que o PIB ficará em 3%, segundo o último boletim Focus, do Banco Central. "É uma meta ambiciosa, mas exeqüível", disse o ministro.”

Qual seria a aposta do ministro, 3 ou 4% ?

Outra coisa a lamentar é a redação dos jornais. Ao final da leitura, a impressão que se tem é que ficou um espaço em branco na memória. Mas é só impressão porque, em raros casos, existe alguma matéria que a inteligência aproveite.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A FILA DA SOPA


O grande problema desses planos de resgate é, que conhecendo um pouco da natureza humana, uma operação deste tipo tende a se transformar em buraco negro.
Depois de ajudar os bancos, formou-se rapidamente uma fila que vem aumentando de tamanho de forma estonteante e de final incerto, podendo culminar estar todo o país disputando por um lugar nessa fila como na outrora sopa do Zarur.
Isto, apesar do país ter antecipado a ajuda aos bancos,de antes da crise, permitindo a cobrança de juros escandalosos e tarifas indecentes e ter durante muitos anos sustentado as empreiteiras que, organizadas em cartel, manipulavam os resultados das licitações mantendo os preços em patamares ultrajantes, e as multinacionais banido qualquer ameaça de existência de uma montadora genuinamente brasileira O ciclo da baderna se fechava na majoração dos velhos impostos e não bastando, na criação de novos.

Sabemos que depois de algum tempo e, muitos devem ter experiência própria deste fato, a ajuda vira obrigação. Da mesma forma que quase toda ajuda de custo virou salário, o governo se verá de alguma forma construindo uma estrutura de novos subsídios e a coisa pode mesmo não ter fim.

O próximo, por favor.

Aparecem as montadoras. Isto tem muito a ver com os nossos irmãos do norte e a triste situação em que se encontra a GM. A gigante está enfileirada para quebrar, e se isso realmente acontecer, as conseqüências serão catastróficas lá, e caóticas aqui. Diferentemente de outras companhias, como as aéreas por exemplo, o público não costuma adquirir produtos de fabricantes que estão passando por dificuldades e com futuro incerto na manutenção de suas garantias, inviabilizando uma possível recuperação da empresa. Ao contrário, levando-os por uma espiral rapidamente à extinção.


Com os lucros, em dólar, decrescentes em todo o mundo devido à valorização da moeda americana, queda nas vendas e crédito difícil já são ingredientes bastante para uma perfeita tempestade, quero dizer, a tempestade ainda não chegou.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

NOTICIAS ENLATADAS


Por que temos que ajudar as montadoras?
As últimas novas são que O BCE (Banco Central Europeu) decidiu nesta quinta-feira reduzir a taxa básica de juros na zona do euro em 0,5 ponto percentual, para 3,25% ao ano, e o Banco da Inglaterra ( O BC Inglês ) também decidiu hoje reduzir sua taxa básica de juros do país de 4,5% ao ano para 3%.
E Mantega confirmou
R$ 4 bilhões do BB, para ajudar os bancos de montadoras a elevar o crédito aos consumidores. No discurso, Mantega afirmou que o dinheiro é suficiente para garantir as vendas nos meses de novembro e dezembro --após esse período, o ministro disse esperar uma normalização do crédito nesse setor. Haja otimismo.

Enquanto isso, o BC já fez atuações no mercado de câmbio no valor de US$ 39,95 bilhões entre os dias 19 de setembro e 05 de outubro para segurar a disparada do dólar.

Está, portanto, aberta a temporada de ajuda aos pobres ricos.

Corre nessas conversas de botequim, uma lenda em que um certo parlamentar nos idos anos 70, um dia se deparou com uma Mercedes conversível na porta de casa, presente para sua esposa segundo a boca rota de alguns, “só para não mencionar a palavra “ferrovia” no plenário” . Coincidência ou não, nossas ferrovias foram desaparecendo a ponto da CSN única fabricante de trilhos nacionais ter abandonado o negócio.
Trilhos, hoje, só chineses.
A construção das estradas de rodagem, ao contrário, tomaram um ímpeto desenvolvimentista espetacular junto com a indústria automotiva, e hoje nos achamos com os pilares de nossa economia assentados sobre essa coisa... movediça!
Curioso, é que, diferentemente da China, da Índia e da Rússia, nossos parceiros na palavra “Bric” , não conseguimos desenvolver uma indústria genuinamente brasileira, ou se desenvolvemos, foi às custas do trabalho heróico do engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, mas que no final deu atolado na praia do Ceará.

Mas por que temos que ajudar as montadoras?

Segundo alguns piadistas americanos, os EUA devem querer nacionalizar ( sim, nacionalizar, porque lá não é politicamente correto falar em estatização) a industria automotiva para continuar fabricando seus jeeps militares, mas é claro que no Brasil isso não faz qualquer sentido.
Também não faz sentido entupir as saturadas vias de mais veículos, pois olhando o minhocão de longe, mais parece uma imensa composição ferroviária tal como andam engatados os carros. A única diferença é que se fosse um trem, se moveria.

Por que temos que ajudar as montadoras?

Sim, acho que posso responder. Deve ser tal qual a ajuda que o psicólogo, místico ou religioso prestam aos doentes terminais, no final de linha, segurando suas mãos para transmitir uma certa sensação de conforto...