terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Outras Possibilidades


Em julho de 2006 os campos mundiais bombearam petróleo a uma taxa de 85,5 milhões de barris diários. Desde então, eles não chegaram nem perto disso, mesmo com os preços variando de US$ 75 a US$ 98 por barril. Isto levanta a significativa questão: Estaria a produção indo morro abaixo?


Não é como se ninguém tivesse predito isto. Os verdadeiros crentes no que é chamado “Pico do Petróleo” reúne um grupo de sobreviventes, os avessos ao capitalismo, alguns poucos investidores bilionários e vários respeitáveis geologistas, há muito, esperam por isto no decorrer desta década.


No ambiente das indústrias do óleo e das agências governamentais que trabalham com isto, tal conversa é tida como prematura. Tem havido quedas de produção em tempos passados, acima de tudo, mesmo que acorridas em tempos de crise. Na maioria dos cenários criados por eles, a produção mundial começará a crescer de nove em breve, atingindo um pico de mais de 110 milhões de barris em 2030 ou arredores.


Isto em si, já é mais que alarmante. Mesmo os mais otimistas acreditam que temos menos de três décadas para início de escassez? Mas as conferências da industria neste último quadrimestre têm sido bem mais sombrias. Os executivos da ConocoPhillips e da gigante francesa Total, ambos declararam que eles não vêem a produção atingir 100 milhões de barris diários em qualquer época. A maior autoridade no assunto que é a International Energy Agency dos EUA já alertou que “novos incrementos na capacidade produtiva não estão em consonância com o declínio de produção dos atuais campos e do aumento da demanda projetada”.

Isto não é o mesmo que dizer que a produção já atingiu seu pico e está para declinar rapidamente – visão dos verdadeiros adeptos à teoria do pico. Na teoria do pico “lite”, como alguns a chamam, o cerne da questão não seria tanto geológica quanto política, técnica, financeira ou mesmo relacionada a recursos humanos. Todos estes fatores atrasam a chegada do óleo no mercado, significando que a produção não atingiria um pico mas um platô. Mas com a crescente demanda mundial, principalmente as verificadas na China e na Índia, mesmo a ocorrência de um platô resultaria em suprimento precário.

Não que seja que o óleo esteja acabando. Existem reservas massivas disponíveis como nas areias betuminosas canadenses, Xisto do Colorado, óleo extra-pesado da Venezuela e outras reservas não convencionais. O problema é que este óleo é difícil de extrair e de ainda mais difícil refino, e não se poderá contar com a sua produção em escala mundial em tempo próximo. Quase todos concordam que a produção de petróleo convencional fora dos paises da OPEC já atingiram o pico ou em breve atingirão, uma realidade que mesmo as recentes descobertas de 8 bilhões de barris na costa do Brasil não serão capazes de contrabalançar o declínio de diversos campos em operação.
A questão principal é a OPEP, que representa as forças do óleo no Oriente Médio e outros poucos grandes exportadores, representando 41% da produção mundial de petróleo. Todo cenário otimista diz que esta fatia crescerá dramaticamente nas próximas décadas. Quer dizer, se as coisas se encaminharem bem, EUA assim como as demais nações importadoras se tornarão substancialmente mais dependentes da Arábia Saudita e seus vizinhos.

O quadro se torna sombrio. Em seu livro “Twilight in the Desert” de 2005, o banqueiro e investidor na área energética, Matt Simmons abriu um ainda vivo debate sobre quando a Arábia Saudita, o maior produtor da OPEP, poderia aumentar sua produção atual. Desde o lançamento do livro, a produção daquele país caiu de 9,6 milhões de barris diários para 8,6 milhões, a despeito dos preços ascendentes.

Matt Simmons é um adepto da teoria do pico, pertenceu ao governo americano como conselheiro de Bush para assuntos energéticos. Faz tempo que o assunto deixou de ser tratado pelos “apocalípticos” e passou a ser analisado pelos estrategistas.

Oficiais sauditas proclamaram na ocasião do encontro da OPEP realizado em Riyadh, em meados de novembro, que a produção pode ser aumentada a qualquer tempo. Mas isso levanta a impertinente questão: por que não aumentam?
A resposta dos lideres da OPEP é que os especuladores é que são culpados pelos altos preços e também o dolar em queda, nada a ver com baixa produção. Eles não estão simplesmente soltando fumaça. Lynn Westfall, economista chefe da refinaria Tesoro Corp., diz que existe mais óleo à venda do que o suficiente atualmente. A pressão nos preços, como ele explica, “provem de especulação no mercado financeiro de futuros.”

Se os membros da OPEP não são capazes de incrementar a produção , então será impossível continuar culpando os investidores pela alta nos preços. O que acontece então? “Se tivéssemos melhores informações, poderíamos dizer no encontro mundial da OPEP: “Senhores, não é culpa de ninguém, mas o que acontece é que chegamos no limite,” diz Simmons. “Teremos que adotar algumas práticas de preservação que são draconianas, ou faremos guerra um contra o outro.”

Entre os adeptos da teoria do pico, guerra e catástrofes econômicas são temas preferidos. Eles sustentam que óleo barato é o combustível essencial ao moderno capitalismo, que afundará sem ele. A maior esperança é que a inovação é que seja o combustível essencial ao capitalismo moderno e que os altos preços do óleo levarão a avanços rápidos na direção do desenvolvimento de combustíveis alternativos e preservação do petróleo restante. De outro modo, o início do final da era do óleo estaria bem á frente no cronograma.

A parte:


O último relatório do IEA, mês base outubro, exibe uma produção mundial média diária de petróleo de 86,43 milhões de barris ao dia, superando em quase 1 milhão de barris a maior antes registrada, 85.5 milhões em julho de 2006, como dito no início deste artigo. Ainda não representa evidência que a produção mundial tenha voltado a crescer, por se situar ainda na faixa dos desvios esperados quando se faz a distribuição estatística.
O gráfico acima mostra a evolução da produção do petróleo nos últimos 5 anos, dados da EIA (Energy Information Administration), americana, e da IEA (International Energy Agency) sediada em Paris.

Baseado em artigo de Justin Fox

Nenhum comentário: