quinta-feira, 15 de abril de 2010

Consumo de Infelicidade


Angústia da Modernidade

Felicidade Não Se Vende


Barry Schwartz foi ao supermercado da esquina e contou 85 variedades de salgadinhos, 285 tipos de doces e achocolatados, 75 marcas de chá gelado, 65 refrescos para crianças, 13 tônicos para esportistas e 85 marcas de sucos. Chegou à prateleira de sucrilhos e desistiu de continuar a contabilidade. E olha que nem estava numa daquelas portentosas Whole Food’s da Califórnia que fazem da granola mais do que um trivial do dia-a-dia – e, sim, praticamente, uma filosofia de vida.

Schwartz, americano da Filadélfia, doutor em ciências da mente e professor de teoria social, prosseguiu sua pesquisa numa farmácia vizinha. Descobriu 80 analgésicos, 61 tipos de protetor solar, 40 marcas de dentifrício, 150 tons de batom, 116 cremes para a pele e 360 xampus.
Eis aí o cenário do que a revista The New York chamou de “a tragédia da prosperidade”. E que Schwartz, num livro ainda à espera de tradução para o português, denominou “o paradoxo da escolha”. Subtítulo: como a cultura da abundância nos rouba a satisfação. As chances de escolher e de consumir se expandem, nossa demanda de perfeição aumenta e nós sofremos com isso – de frustração e sentimentos de inadequação diante de um mundo que estimula uma voracidade jamais satisfeita.

O estresse da modernidade tem a ver com o excesso, não com a escassez. A propósito, um dos sintomas do Mal da América é o overweight, os gulosos alimentados a fast-food, essa oralidade ansiosa que vai dar em bulimia ou em anorexia, instável balanço entre a fome de experimentar e a busca do corpo ideal, com o amparo da parafernália cosmética e estética. Em um ano, pratica-se nos Estados Unidos 1,2 milhão de cirurgias plásticas. Schwartz acha que, quanto mais opções, melhor pode ser a existência (leia a seguir). A multiplicidade de marcas implica produtos cada vez melhores. Mas, com o desencanto espreitando nas frestas de cada escolha, é bom ficar alerta. “Obtemos o que dizemos querer só para descobrir que o que nós queremos não nos satisfaz no grau esperado”, conclui. A felicidade não é uma pílula à venda na drugstore.


Por Nirlando Beirão

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