A demanda mundial pelo óleo vem crescendo. Estaria a produção crescendo também?
Hoje, o mundo vem consumindo um pouco mais que 84 mb/d (cerca de 30 bilhões de barris anuais).
Pelo ano de 2025, a demanda global estima-se se situar na casa dos 121 mb/d (44 bilhões de barris ao ano) A demanda crescente nos EUA, China, India e outras nações em desenvolvimento deverão contabilizar um aumento de 60% no consumo até 2025.
De onde virão estes 40 mb/d adicionais?
É deveras incerto que óleo bastante será descoberto para atender a esta demanda. Apesar da Superintendência Geológica dos EUA, assim como o Departamento de Energia (EIA) e a indústria petroquímica acreditarem que ainda restam 3 trilhões de barris esperando para serem extraídos, sendo que 1/3 deles ( 1 trilhão) já se tem conhecimento onde se localizam.
Outros afirmam que a produção dos maiores campos já encontraram seu pico produtivo ou em breve encontrarão. Várias grandes descobertas da ordem de bilhões de barris seriam necessárias apenas para repor o declínio de produção destes campos mais antigos, e bem poucas descobertas dessa magnitude têm acontecido em décadas recentes.
Muitos predizem que o pico da produção mundial de petróleo deve acontecer entre os anos de 2010 e 2020.
Um dos que comungam com essa idéia é Richard Heinberg do Post Carbon Institute e autor de três livros sobre o pico da produção do óleo.
Heinberg diz que o mundo nunca chegará a produzir alguma coisa da ordem de 120 mb/d como divulgado pela EIA.
Diz ainda que o pico da produção mundial já ocorreu em maio de 2005, a produção de 33 dos 48 maiores paises produtores está em declínio e que as descobertas globais encontraram seu pico em 1964.
Mais importante de tudo, ele diz que as reservas no Oriente Médio, onde a EIA prediz que suprirá o aumento da demanda, foram sistematicamente superdimensionadas.
“Todo mundo toma suas figuras pelo valor de face”, disse Heinberg. “Mas elas são companhias nacionais, não podem ser auditadas”
Ao invés de uma produção chegando a 121 mb/d, Heinberg vê uma produção estável no patamar atual nos próximos poucos anos, e então, um declínio gradual começando em 2010.
Pelo ano de 2015, ele diz que a taxa de declínio acelerará a medida que um poço atrás do outro parar de produzir e pouquíssimas novas descobertas acontecerão.
Lá pelo ano de 2030 o mundo terá que se virar com uma produção em torno de 30 milhões de barris ao ano.
“Vai ser um enorme choque para o sistema global,¨ diz Heinberg. “ Estamos falando de alguma coisa parecida com a grande depressão ou muito pior.”
Qualquer que seja o resultado de quanto petróleo ainda resta, o que realmente está interessando aos analistas, neste momento, é o desenvolvimento sensacional da China e sua demanda fabulosa pelo óleo.
A acelerada injeção de capital estrangeiro e tecnologia, engordando as reservas internacionais, e ainda a larga mão de obra disponível, a China vem se tornando mais um gigante industrial. Sua economia cresceu mais que nove porcento em 2003, e se espera que se torne a terceira maior do mundo em 2015.
As vendas do setor automotivo vem crescendo a uma taxa incrível; 2 milhões de novos carros foram vendidos em 2003, com crescimento de 75% em relação ao ano anterior. A demanda por eletricidade tem excedido a oferta em muitas das áreas industriais, levando a apagões e o conseqüente crescimento do mercado de geradores a diesel. Como conseqüência, a demanda pelo petróleo subiu para 5.5 mb/d em 2003, ultrapassando o Japão para se tornar o segundo maior consumidor mundial, atrás somente dos EUA.
A China não é somente uma economia emergente. Com o colapso da União Soviética, somente a China tem potencial de se rivalizar com os EUA em termos de potência militar. Com sua crescente capacidade tecnológica, enorme população, e rápido crescimento industrial, China eventualmente poderá estabelecer um poder militar no leste da Ásia e ameaçar o domínio americano naquela região, se ela se decidir a agir desta maneira.
Entretanto, China tem um calcanhar de Aquiles: ela não tem grandes reservas de petróleo necessárias para impulsionar sua economia crescente. Em 2003, China importou 35% de suas necessidades de petróleo; pelo ano de 2025, a sua demanda total esperada será do dobro da atual e ela deverá encontrar a necessidade de importar cerca de 70% de seu consumo.
Assim como os EUA, a China olha com interesse o Oriente Médio para seus suprimentos futuros, enquanto vasculha o mundo da África à Rússia passando por Caspian Basin.
Para as Nações dependentes do óleo, todos os caminhos as levam de volta ao Golfo Pérsico.
O Financial Times em um artigo diz: “ Os executivos do Petróleo aceitam o fato de que poucas grandes descobertas deverão acontecer, e que o futuro será crescentemente ditado pelos líderes do Oriente Médio que mantêm sob estreito domínio as reservas ainda por explorar."
Enquanto isso as reservas antes abundantes no EUA, Alaska e Mar do Norte já mostram sinais da idade. Aproximadamente 65% ( e subindo) das reservas restantes mundiais são controladas pelos governos do Golfo Pérsico, e destes, a Arábia Saudita é a campeã com muita vantagem.
Não somente a maior reserva mas a mais barata para explorar.
Baseada nas projeções de crescimento da demanda de óleo dentro de EUA como no restante do mundo, a “Energy Information Agency (EIA)” projeta uma produção do Golfo Pérsico em 2025 como o dobro da atual, assim como as compras dos EUA. A participação da OPEC saltará de 44% em 2001 para 60% ou mais em 2025.
Este grande aumento da produção não será possível sem um investimento significativo na estrutura produtiva da região. Desde os anos 70 quando a produção na região foi nacionalizada, a maioria dos governos decidiram a não investir na expansão da capacidade produtora, gastando a receita proveniente da venda do óleo em armamentos, serviços públicos, programas sociais ou enriquecimentos isolados. A conseqüência disto é que a produção somente será possível com a infusão de capital estrangeiro e expertise proveniente dos EUA, Rússia, Europa e China através de suas companhias.
E sera que os regimes políticos do Golfo e da OPEC irão cooperar?
Eles têm seus próprios interesses a perseguir, que podem não coincidir com os interesses das nações importadoras. O interesse deles é manter um suprimento apertado em conjunção com um preço maximizado. De forma alguma eles têm interesse em expandir a produção muito rapidamente.
E o que eles farão com a receita proveniente do comércio do óleo? Muitos são sociedades fechadas altamente controladas. Muitos aproveitam para adquirir armas para uso em conflitos com vizinhos. Todos discordam da política americana de suporte a Israel em investidas deste país na palestina e Líbano e, claro, da invasão do Iraque.
O que o povo árabe comenta nas ruas?
O sentimento popular na região vem se tornando mais e mais contrário aos regimes impostos pelo dinheiro americano ou pelo oeste de maneira geral. Enquanto isso, grupos extremistas como o Al Qaeda tem encontrado terreno fértil para o recrutamento diante do descontentamento gerado por este estado de coisas. Não se pode retirar a razão deles, como declarou Noam Chomsky:
“It might be an interesting research project to see how closely the propaganda of Russia, Nazi Germany, and other aggressors and occupiers matched the standards of today’s liberal press and commentators..”
“ A comparação é, claro, injusta”, continua ele. “Diferentemente dos invasores alemães e russos, as forças americanas estão no Iraque por direito, em princípio, demasiado óbvio mesmo para enunciar, que os EUA são os donos do mundo. Assim, pela lógica elementar, os EUA não podem invadir e ocupar outro país. Eles só podem defender e libertar outros. Predecessores, mesmo os mais monstruosos, que ocuparam pela força, têm comumente se utilizado do mesmo princípio, mas de novo a diferença óbvia: eles estavam errados e os EUA estão certos. QED”