terça-feira, 2 de outubro de 2007

OS DONOS DO OLEO



A demanda mundial pelo óleo vem crescendo. Estaria a produção crescendo também?

Hoje, o mundo vem consumindo um pouco mais que 84 mb/d (cerca de 30 bilhões de barris anuais).

Pelo ano de 2025, a demanda global estima-se se situar na casa dos 121 mb/d (44 bilhões de barris ao ano) A demanda crescente nos EUA, China, India e outras nações em desenvolvimento deverão contabilizar um aumento de 60% no consumo até 2025.


De onde virão estes 40 mb/d adicionais?

É deveras incerto que óleo bastante será descoberto para atender a esta demanda. Apesar da Superintendência Geológica dos EUA, assim como o Departamento de Energia (EIA) e a indústria petroquímica acreditarem que ainda restam 3 trilhões de barris esperando para serem extraídos, sendo que 1/3 deles ( 1 trilhão) já se tem conhecimento onde se localizam.

Outros afirmam que a produção dos maiores campos já encontraram seu pico produtivo ou em breve encontrarão. Várias grandes descobertas da ordem de bilhões de barris seriam necessárias apenas para repor o declínio de produção destes campos mais antigos, e bem poucas descobertas dessa magnitude têm acontecido em décadas recentes.


Muitos predizem que o pico da produção mundial de petróleo deve acontecer entre os anos de 2010 e 2020.
Um dos que comungam com essa idéia é Richard Heinberg do Post Carbon Institute e autor de três livros sobre o pico da produção do óleo.
Heinberg diz que o mundo nunca chegará a produzir alguma coisa da ordem de 120 mb/d como divulgado pela EIA.
Diz ainda que o pico da produção mundial já ocorreu em maio de 2005, a produção de 33 dos 48 maiores paises produtores está em declínio e que as descobertas globais encontraram seu pico em 1964.

Mais importante de tudo, ele diz que as reservas no Oriente Médio, onde a EIA prediz que suprirá o aumento da demanda, foram sistematicamente superdimensionadas.

“Todo mundo toma suas figuras pelo valor de face”, disse Heinberg. “Mas elas são companhias nacionais, não podem ser auditadas”

Ao invés de uma produção chegando a 121 mb/d, Heinberg vê uma produção estável no patamar atual nos próximos poucos anos, e então, um declínio gradual começando em 2010.
Pelo ano de 2015, ele diz que a taxa de declínio acelerará a medida que um poço atrás do outro parar de produzir e pouquíssimas novas descobertas acontecerão.
Lá pelo ano de 2030 o mundo terá que se virar com uma produção em torno de 30 milhões de barris ao ano.

“Vai ser um enorme choque para o sistema global,¨ diz Heinberg. “ Estamos falando de alguma coisa parecida com a grande depressão ou muito pior.”

Qualquer que seja o resultado de quanto petróleo ainda resta, o que realmente está interessando aos analistas, neste momento, é o desenvolvimento sensacional da China e sua demanda fabulosa pelo óleo.

A acelerada injeção de capital estrangeiro e tecnologia, engordando as reservas internacionais, e ainda a larga mão de obra disponível, a China vem se tornando mais um gigante industrial. Sua economia cresceu mais que nove porcento em 2003, e se espera que se torne a terceira maior do mundo em 2015.
As vendas do setor automotivo vem crescendo a uma taxa incrível; 2 milhões de novos carros foram vendidos em 2003, com crescimento de 75% em relação ao ano anterior. A demanda por eletricidade tem excedido a oferta em muitas das áreas industriais, levando a apagões e o conseqüente crescimento do mercado de geradores a diesel. Como conseqüência, a demanda pelo petróleo subiu para 5.5 mb/d em 2003, ultrapassando o Japão para se tornar o segundo maior consumidor mundial, atrás somente dos EUA.
A China não é somente uma economia emergente. Com o colapso da União Soviética, somente a China tem potencial de se rivalizar com os EUA em termos de potência militar. Com sua crescente capacidade tecnológica, enorme população, e rápido crescimento industrial, China eventualmente poderá estabelecer um poder militar no leste da Ásia e ameaçar o domínio americano naquela região, se ela se decidir a agir desta maneira.
Entretanto, China tem um calcanhar de Aquiles: ela não tem grandes reservas de petróleo necessárias para impulsionar sua economia crescente. Em 2003, China importou 35% de suas necessidades de petróleo; pelo ano de 2025, a sua demanda total esperada será do dobro da atual e ela deverá encontrar a necessidade de importar cerca de 70% de seu consumo.
Assim como os EUA, a China olha com interesse o Oriente Médio para seus suprimentos futuros, enquanto vasculha o mundo da África à Rússia passando por Caspian Basin.

Para as Nações dependentes do óleo, todos os caminhos as levam de volta ao Golfo Pérsico.

O Financial Times em um artigo diz: “ Os executivos do Petróleo aceitam o fato de que poucas grandes descobertas deverão acontecer, e que o futuro será crescentemente ditado pelos líderes do Oriente Médio que mantêm sob estreito domínio as reservas ainda por explorar."

Enquanto isso as reservas antes abundantes no EUA, Alaska e Mar do Norte já mostram sinais da idade. Aproximadamente 65% ( e subindo) das reservas restantes mundiais são controladas pelos governos do Golfo Pérsico, e destes, a Arábia Saudita é a campeã com muita vantagem.


Não somente a maior reserva mas a mais barata para explorar.

Baseada nas projeções de crescimento da demanda de óleo dentro de EUA como no restante do mundo, a “Energy Information Agency (EIA)” projeta uma produção do Golfo Pérsico em 2025 como o dobro da atual, assim como as compras dos EUA. A participação da OPEC saltará de 44% em 2001 para 60% ou mais em 2025.
Este grande aumento da produção não será possível sem um investimento significativo na estrutura produtiva da região. Desde os anos 70 quando a produção na região foi nacionalizada, a maioria dos governos decidiram a não investir na expansão da capacidade produtora, gastando a receita proveniente da venda do óleo em armamentos, serviços públicos, programas sociais ou enriquecimentos isolados. A conseqüência disto é que a produção somente será possível com a infusão de capital estrangeiro e expertise proveniente dos EUA, Rússia, Europa e China através de suas companhias.

E sera que os regimes políticos do Golfo e da OPEC irão cooperar?


Eles têm seus próprios interesses a perseguir, que podem não coincidir com os interesses das nações importadoras. O interesse deles é manter um suprimento apertado em conjunção com um preço maximizado. De forma alguma eles têm interesse em expandir a produção muito rapidamente.
E o que eles farão com a receita proveniente do comércio do óleo? Muitos são sociedades fechadas altamente controladas. Muitos aproveitam para adquirir armas para uso em conflitos com vizinhos. Todos discordam da política americana de suporte a Israel em investidas deste país na palestina e Líbano e, claro, da invasão do Iraque.

O que o povo árabe comenta nas ruas?


O sentimento popular na região vem se tornando mais e mais contrário aos regimes impostos pelo dinheiro americano ou pelo oeste de maneira geral. Enquanto isso, grupos extremistas como o Al Qaeda tem encontrado terreno fértil para o recrutamento diante do descontentamento gerado por este estado de coisas. Não se pode retirar a razão deles, como declarou Noam Chomsky:

“It might be an interesting research project to see how closely the propaganda of Russia, Nazi Germany, and other aggressors and occupiers matched the standards of today’s liberal press and commentators..”

“ A comparação é, claro, injusta”, continua ele. “Diferentemente dos invasores alemães e russos, as forças americanas estão no Iraque por direito, em princípio, demasiado óbvio mesmo para enunciar, que os EUA são os donos do mundo. Assim, pela lógica elementar, os EUA não podem invadir e ocupar outro país. Eles só podem defender e libertar outros. Predecessores, mesmo os mais monstruosos, que ocuparam pela força, têm comumente se utilizado do mesmo princípio, mas de novo a diferença óbvia: eles estavam errados e os EUA estão certos. QED”

Um comentário:

Ronaldo disse...

Mundo caminha para o terceiro choque energético
Ao contrário das outras crises, demanda puxa alta do petróleo, e não razões geopolíticas

A alta atual parece não estar prejudicando o crescimento econômico, mas já se questiona até quando essa situação pode continuar
M. Spencer Green - 7.nov.2007/ Associated


Refinaria nos Estados Unidos; preço do petróleo se aproxima da marca simbólica de US$ 100 por barril, com alta de 365% na última década

JAD MOUAWAD
DO "NEW YORK TIMES"

Com os preços do petróleo se aproximando da simbólica marca dos US$ 100 por barril, o mundo está caminhando para seu terceiro choque de energia em uma geração. Mas a alta atual é fundamentalmente diferente de passadas crises do petróleo, e suas conseqüências mundiais serão mais amplas e mais duradouras.
Da mesma forma que nas crises de energia dos anos 70 e 80, os elevados preços atuais do petróleo vêm causando ansiedade e sofrimento aos consumidores e gerando temores mais amplos quanto ao seu impacto sobre a economia como um todo.
Ao contrário de outros choques do petróleo, causados por súbitas interrupções nas exportações do Oriente Médio, desta vez os preços vêm subindo firmemente à medida que cresce a demanda por gasolina nos países desenvolvidos, centenas de milhões de chineses e indianos ascendem da pobreza à prosperidade e outras economias em desenvolvimento crescem em ritmo escaldante.
"Esse é o primeiro choque de energia causado por demanda que o mundo já enfrentou", disse Lawrence Goldstein, economista da Fundação de Pesquisa de Política Energética.
As previsões quanto ao preço futuro do petróleo variam amplamente. Alguns analistas consideram que ele pode cair a US$ 75 ou até menos no ano que vem, enquanto uns poucos observadores projetam preços da ordem de US$ 120 por barril.
Virtualmente ninguém diz acreditar em um retorno ao preço praticado há uma década, de US$ 20 por barril, o que significa que os consumidores precisam se preparar para uma era de custos muito mais altos para os combustíveis.
A raiz dessa alta chocante do petróleo -que já ultrapassa os 50% neste ano e atinge os 365% na última década- é um desdobramento positivo: a expansão sem precedentes que a economia mundial está vivendo.
A demanda da China e da Índia deve dobrar nas duas próximas décadas, à medida que essas economias continuam a se expandir e seus cidadãos optam por comprar mais carros e por viver em cidades, em busca de um estilo de vida que os ocidentais vêem como comum.
Mas, à medida que sobem os preços, a economia mundial passa a navegar por águas inexploradas. A alta até o momento não parece estar prejudicando o crescimento, porém muitos economistas se questionam sobre quanto tempo mais essa situação pode durar. "Os preços atuais são muito altos e terminarão prejudicando igualmente a todos, produtores e consumidores" , disse Faith Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia.
O preço do barril de petróleo terminou a última sexta-feira cotado a US$ 96,32 na Bolsa de Nova York e durante a semana passada chegou a valer US$ 98,62, antes de recuar. O preço do produto se tornou volátil, e muitos analistas esperam que o marco dos US$ 100 por barril, considerado importante em termos psicológicos, seja superado em algum momento das próximas semanas.
"Os mercados atuais se parecem com a torcida que se levanta para incentivar seu time a atacar nos minutos finais de uma partida de futebol americano", disse Daniel Yergin, historiador do petróleo e presidente da consultoria Cambridge Energy Research Associates. "As pessoas chegam a parecer mais relaxadas quanto ao preço de US$ 100 por barril do que pareciam diante de uma cotação de US$ 60 ou US$ 70."
O petróleo não está distante de seu pico histórico de preços, atingido em abril de 1980, um ano depois da revolução islâmica iraniana. Considerada a inflação, o barril então chegou a ser cotado a US$ 101,70, em dólares atuais.
Pela maior parte do século 20, enquanto promovia a transformação do mundo moderno, o petróleo foi tanto barato quanto abundante. Ao longo dos anos 90, por exemplo, os preços médios do petróleo foram de US$ 20 por barril. Mesmo com os altos preços praticados agora, ele ainda sai mais barato que água mineral importada, que custaria o equivalente a US$ 180 por barril, ou que o leite, cujo barril custaria US$ 150.




Expansão tornou China importadora de petróleo
DO "NEW YORK TIMES"


Mais que qualquer outro país, a China representa as dimensões do desafio petróleo caro. Ao se transformar em um dos gigantes da economia mundial, ao longo da última década, a China também se tornou grande usuária de energia.
A economia do país vem crescendo, desde os anos 90, em ritmo furioso, da ordem de 10% ao ano, e isso fez com que 300 milhões de chineses saíssem da pobreza. Mas a rápida industrializaçã o tem seu preço: a demanda por petróleo mais que triplicou desde os anos 80 e tornou o país, outrora auto-suficiente, um grande importador. Índia e China abrigam cerca de um terço da população do planeta. A população desses países exige acesso a eletricidade, carros e bens de consumo e são cada vez mais capazes de competir com o Ocidente pelo acesso a recursos naturais. Ao fazê-lo, os dois gigantes asiáticos estão causando profunda transformação no balanço energético mundial.
Hoje, a China consome cerca de três vezes menos petróleo que os Estados Unidos, responsáveis pela queima de 25% do combustível mundial. Em 2030, Índia e China somadas importarão tanto petróleo quanto os Estados Unidos e o Japão fazem atualmente.
Embora a demanda registre seu mais rápido crescimento em outros países, o apetite dos americanos por carros grandes e casas grandes também vem causando firme alta na demanda do país por petróleo.
A Europa conseguiu conter o consumo de petróleo por meio de uma combinação entre altos impostos sobre a gasolina, uso de carros menores e sistemas eficientes de transporte público, mas o mesmo não pode ser dito sobre os Estados Unidos. O consumo de petróleo no país, que tem gasolina muito mais barata que a vendida na Europa, chegou hoje a 21 milhões de barris diários, ante cerca de 17 milhões de barris no começo da década passada.
Caso os chineses e os indianos venham a desenvolver consumo per capita de petróleo semelhante ao dos norte-americanos, o consumo mundial equivaleria a mais de 200 milhões de barris diários, ante os 85 milhões atuais. Nenhum especialista considera que seja viável produzir esse volume de petróleo.
Em termos mais realistas, a expectativa é a de que a demanda mundial cresça para aproximadamente 115 milhões de barris diários em 2030, nível que provavelmente representa o limite extremo da capacidade humana de extrair petróleo.
O mundo já dispõe de pouquíssima capacidade excedente de produção petroleira, e qualquer interrupção na oferta, causada por furacões ou conflitos armados, causaria disparada dos preços. "Não temos amortecedores" , disse o economista Lawrence Goldstein.
Para as empresas de petróleo, os preços altos geraram uma busca frenética por novas fontes em todo o mundo. Depois de uma longa pausa no investimento, que durou quase toda a década de 90, devido aos preços baixos, as grandes empresas petroleiras estão agora investindo bilhões de dólares para ampliar a oferta.
O problema é que esses grandes projetos exigem tempo, e as empresas também estão sendo prejudicadas por uma alta dos custos. O custo da ferramenta básica do setor, as plataformas de perfuração, por exemplo, dobrou nos últimos anos. Os analistas dizem que vai demorar, mas novas fontes de suprimento encontrarão caminhos para chegar ao mercado.
"A preocupação, hoje, é descobrir como o setor de energia atenderá ao crescimento antecipado para a demanda, em longo prazo", disse Linda Cook, integrante do conselho da anglo-holandesa Royal Dutch Shell, um dos grandes grupos petroleiros. "A demanda por energia está crescendo em ritmo jamais visto. Do ponto de vista da oferta, estamos vendo dificuldades para acompanhar essa expansão. É esse o desafio no mercado da energia."
A oferta também vem sendo prejudicada pela tensão política no golfo Pérsico, pela guerra no Iraque, por furacões devastadores no golfo do México (uma importante região produtora de petróleo), por dificuldades de produção na Venezuela e pela violência na região petroleira da Nigéria. Muitos desses fatores geopolíticos resultaram em ágios por risco que são estimados entre US$ 25 e US$ 50 por barril. Recentemente, o preço do petróleo subiu de US$ 75 para US$ 95 em apenas algumas semanas, sem qualquer motivo aparente.

Queda no preço
"Petróleo a US$ 50 por barril parece algo tão distante a essa altura", disse Thomas Bentz, analista sênior de energia no BNP Paribas de Nova York, mencionando um número que parecia preço impossivelmente elevado para o petróleo há apenas alguns anos. "O petróleo deixará de subir quanto tivermos destruição de demanda. Isso não aconteceu até agora."
E quando acontecerá? Veteranos do setor petroleiro, acostumados aos ciclos de expansão e contração do setor, dizem que ninguém deveria contar com altas perpétuas do petróleo.
Uma desaceleração na economia da China ou na dos Estados Unidos -ou em ambas simultaneamente- provavelmente faria com que os preços despencassem. Isso aconteceu há não mais de uma década, depois que a crise financeira asiática causou colapso em diversas economias. Os preços do petróleo caíram à metade, de US$ 20 a US$ 10, em alguns meses. "Seria um grande erro imaginar que a lei da oferta e procura foi abolida", afirmou Daniel Yergin, historiador do petróleo e presidente de consultoria.

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Tradução de PAULO MIGLIACCI