sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O PICO DO PETRÓLEO




Desde que a humanidade se tornou ciente de que o petróleo é um recurso natural limitado, vários estudos têm sido efetuados para, primeiro, estimar a data ou período em que os primeiros sinais de escassez seriam observados e, segundo, criar instrumentos de regulação em um mercado de escassez, porque sendo o óleo um bem mundial e considerando que ele está desigualmente distribuído sobre o Planeta por razões geológicas bem entendidas, com grande parte dele estando concentrado em cinco países junto ao Golfo Pérsico.

Um dos pioneiros neste estudo foi o geofísico M. King Hubbert. Em 1956 Hubbert previu corretamente o pico da produção de petróleo nos EUA com 15 anos de antecedência, lançando as bases teóricas do que mais tarde seria chamado de “Pico de Hubbert. O Pico de Hubbert, também conhecido como Pico do Petróleo, é um modelo matemático que trata e explica a taxa de extração e esgotamento a longo prazo de petróleo convencional e de outros combustíveis fósseis.


Este modelo mostra que a produção petrolífera mundial alcançará no futuro um pico e depois declinará ao longo de poucas dezenas de anos. Baseando-se nos dados disponíveis sobre a produção a Associação para o Estudo do Pico do Petróleo e do Gás, uma associação internacional criada em 2001, projeta, para os arredores de 2010, o pico para o petróleo e algumas dezenas de anos mais tarde para o gás natural.

Isto conduzirá inevitavelmente a gigantescas conseqüências econômicas para o mundo já que a civilização moderna depende de combustíveis fósseis baratos e abundantes, especialmente para os transportes, produção de alimentos, processos químicos industriais, tratamento de água, aquecimento doméstico e geração de eletricidade.


Em suma, o petróleo é o combustível para o desenvolvimento, ou seu alimento.


Particularmente, gosto de traçar um paralelo entre o consumo do óleo e do leite pelas várias crias de uma única fêmea. Cada teta representaria um campo petrolífero que decrescerá de produção e se esgotará em algum tempo futuro, e o desafio é que todas as crias (povos ou paises) tenham seu alimento e a garantia de desenvolvimento que o alimento proporciona. As leis naturais, no caso da fêmea, cuidará para o alimento dos mais fortes fazendo parte do processo de seleção natural como observado por Darwin, mas aos homens, animais dotados de consciência, será inviável a entrega aos instintos sob pena da auto-destruição.

A palavra "escassez" não é bem-vinda ao discurso político contemporâneo. Este fato retira capacidade ao governo de admitir e mitigar os emergentes problemas sociais e econômicos associados ao pico do petróleo. Este é o maior entrave para que se deflagre um programa de conscientização e racionamento. Ao contrário, interesses econômicos, principalmente mais fortes nas nações mais ricas, tudo farão para negar qualquer tipo de escassez e razões para frear o consumo, diminuindo seus lucros em favor do bem coletivo. O sistema vigente de economia de mercado tem como pedra fundamental o egocentrismo: maior-produção-maiores-lucros-menores-preços-maior-distribuição-desenvolvimento.

A queda de produção do principal produto de consumo tenderá a quebrar esta cadeia.
A administração global da escassez só será possível com a assinatura de um protocolo para manter os preços, sendo que as nações mais desenvolvidas entrarão em um período de pequeno índice de desenvolvimento ou estagnação em favor das mais pobres para que diferenças mais acentuadas sejam mitigadas e o globo acertar o passo em termos energéticos.

Concordo que isto mais parece uma utopia.

De acordo com o modelo matemático proposto por Hubbert, inicialmente um pico na produção petrolífera manifestar-se-ia através de uma escassez estrutural de petróleo por todo o mundo. Esta escassez, como a que parece estar acontecendo no momento, diferenciar-se-ia de outros períodos de escassez do passado devido à sua origem fundamentalmente geológica e não política. Enquanto as anteriores se materializaram numa insuficiência temporária do aprovisionamento, ao cruzar o pico de Hubbert isso significaria que a produção de petróleo continuaria em declínio e que a procura deve ser reduzida para equilibrar o mercado. Os efeitos de tal escassez dependem da taxa de declínio e do desenvolvimento e adoção de alternativas. Se as alternativas não forem impulsionadas, então muitos produtos e serviços, produzidos com petróleo, tornar-se-ão igualmente escassos, levando a um declínio do nível de vida em todos os países importadores. Os cenários previstos vão desde os "apocalípticos" até à "crença que a economia de mercado e novas tecnologias vão resolver o problema".

A economia de mercado, como já se tem dito, é incapaz de lidar com um produto essencial e com a produção em declínio, os preços tendem para o infinito inflacionando a economia como um todo. Já a tecnologia não pode fazer milagres. Os poços são abandonados quando a energia despendida para trazer o óleo à superfície é igual ou maior que a energia obtida armazenada em forma de combustível. Da mesma forma, para a exploração do petróleo não convencional (areias betuminosas, óleo extra-pesado e xisto betuminoso), avalia-se o custo energético e rendimento, mas bom que se saiba a produção é muitas vezes menor e mais complicada, retardando um pouco os efeitos da escassez mas nunca evitando.

Com o propósito de resolver esses problemas do pico do petróleo, Colin Campbell propôs o protocolo de Rimini. Um protocolo que basicamente propõe um acordo entre países produtores e consumidores para diminuírem em conjunto o consumo e produção de petróleo à taxa de declínio prevista pela curva de Hubbert.

É improvável que o próprio pico do petróleo seja o catalisador direto do declínio econômico global. Em vez disso é provável que a grande turbulência econômica comece com a percepção de que o pico do petróleo (e de gás natural) é iminente ou já ocorreu por parte da comunidade financeira. As indicações de volatilidade econômica já se manifestaram na mais alta subida na taxa de inflação mundial em 15 anos (setembro de 2005), que se deveu sobretudo a altos preços de energia e agora com as altas sucessivas a partir de agosto passado em que o óleo vem quebrando recordes atrás de recordes no mercado internacional aproximando-se dos US$ 100 por barril.

Lembrando também que o gás natural é o maior e mais importante material na produção de fertilizantes, uma escalada nos preços de gás natural pode trazer uma grande pressão inflacionária nos preços dos alimentos, para além do aumento nos custos de transporte.


O problema é sem dúvida afeto aos bancos centrais. O aumento indiscriminado nos preços em dólar e a não retração do consumo provocará um desequilíbrio na oferta da moeda inundando o mercado de um papel que há muito é emitido sem lastro. As reservas dos países emergentes têm crescido abruptamente, 1,4 trilhões de dólares por conta somente da China. Não subestimando a economia americana mas enquanto ainda não existir um banco central mundial, cabem a todos os bancos centrais o estudo profundo do assunto que promete se configurar no maior desafio do século.

6 comentários:

Idalvo Toscano disse...

Ronaldo postou o excelente artigo "O pico do petróleo", mas quem o assina??? O próprio Ronaldo? E quem é Ronaldo???
Peço permissão para divulgar este blog nas Redes de que participo (basicamente voltadas à economia solidária).
Parabéns ao autor.
Idalvo Toscano

Ronaldo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ronaldo disse...

Muito me envaidece, mas o que mais agrada é saber de mais seres preocupados com o assunto, a meu ver, um dos preponderantes para o destino da humanidade.
Quem assina sou eu mesmo, Ronaldo Pignataro, formação em engenharia e analista de uma instituição governamental, embora eu tenha inserido dizeres não assinados extraídos de site internacional da Associação para Estudo do Pico do Petróleo e do Gás, que faço referência no artigo.
Não só tem minha permissão para a divulgação como incentivo e sinceros agradecimentos.
Ronaldo

Marlene Koch disse...

marcando os pontos interessantes::
“Pico de Hubbert. O Pico de Hubbert, também conhecido como Pico do Petróleo, é um modelo matemático que trata e explica a taxa de extração e esgotamento a longo prazo de petróleo convencional e de outros combustíveis fósseis.
---- e vou ter que prosseguir com essa leitura para somar.. e sonhar. Abços para vc guerreiro.

Ronaldo disse...

Uma velha conversa de que os países integrantes da OPEP poderão deliberar sobre o aumento da produção na reunião a ser realizada no início de dezembro volta a ser tema em Wall Street e, com isso, proporcionar redução no preço do petróleo.
O boato novo é que o ministro iraniano, Gholam Hossein Nozari, estaria colocando menos resistência e teria dito que seu país estaria propenso a aumentar a produção se necessário.
Vários operadores acreditam que a Arábia Saudita, incontestável aliada dos EUA, estaria, já, turbinando a produção a despeito da oposição do Irã, Venezuela e de outros membros da OPEP.
Tudo mais parece jogo de cena se a produção mundial de petróleo já está próxima de seu limite, com o objetivo único de acalmar o mercado.
No entanto, um fato novo e interessante entra em cena; a China congelou o preço dos derivados causando uma escassez não vista há anos, com grandes filas nos postos.
Deduz-se daí que, provavelmente, China e EUA entraram num acordo para que a pressão sobre a demanda cedesse um pouco e os preços pudessem inverter a tendência. Este eventual acordo para a China é interessante, pois preserva o valor de suas grandes reservas em dólar (1,4 trilhões), em contrapartida, os EUA ganham tempo.
Certo é que a produção do petróleo parece não suportar o crescimento pretendido pelos dois países, talvez a Índia também tenha entrado neste bolo.
Com a crise de consumo que se avizinha nos EUA, alguns economistas já dizem ser inevitável que a economia americana pare de crescer em algum ponto no decorrer do próximo ano, pela primeira vez desde a meia recessão de 2001. “ No momento, a questão é saber o quão mal será,” disse David Rosemberg, economista chefe do Merrill Lynch. “ A questão agora é de magnitude.”
A configurar tal tendência o sinal para as bolsas do mundo é:

“Longo declive a frente.”

Ronaldo disse...

Australian Guardian

Rowan Callick, China correspondent | November 28, 2007

China está sem combustível. A polícia monta guarda em postos de combustível de diversas províncias para evitar brigas, enquanto a escassez de gasolina e diesel causam grandes filas de caminhões, ônibus e automóveis.

Em Kunming, capital da província sudoeste de Yunnan, 1000 caminhões aguardam para seguir viagem.

Um motorista de caminhão, Li, disse ao jornal Chucheng Evening News que esteve preso no posto de combustível “Stone Tiger Gate” por três dias depois de estar procurando combustível por outros locais e não o encontrando.

Outro motorista, na cidade de Geiju, disse que um trabalho que levava um dia para ser feito no passado, hoje demandam três: um na estrada e dois em filas em postos.

Há nove dias atrás, foi noticiado que um motorista de caminhão foi espancado até a morte na província central de Anhui em conflito na fila.

Poucos dias antes, na província Ezhou in Hubel, 100 mil pessoas ficaram incapazes de ir ao trabalho por falta de combustível nos ônibus

O problema deve se intensificar enquanto se aproxima o inverno, e começa a afetar as exportações, alertou o Ministro do Comércio, desde que o diesel é essencial para levar produtos aos portos.

O sistema sofre de pressão de demanda para sustento do seu crescimento econômico, da ordem de 11,5% - China é hoje o segundo maior consumidor de petróleo depois dos EUA.

As importações de diesel aumentaram 46,5% nos primeiros nove meses do ano comparado com igual período do ano passado.
Outra causa do desequilíbrio oferta-demanda é a transição de preços controlados para preços de mercado.

O governo espera graduar a transição até que o sistema passe a operar com preços livres em vigor no mercado internacional, mas a inflação encontra-se no patamar de 6% ao ano, a maior em dez anos, daí a relutância do governo em “soltar” o preço do combustível.

Duas companhias dominam o mercado de combustíveis, Sinopec e PetroChina, são estatais com ações em bolsas, altamente competitivas e ansiosas por mais mercado. Ambas buscam aumentar as importações, especialmente do diesel.

A inflação começou a acelerar este ano, o governo anunciou estar limitando preços de certas commodities que controla, incluindo o óleo, até o final do ano.

Mas sob forte pressão da PetroChina , Sinopec e outras refinarias e distribuidores, concedeu um aumento de 10% este mês.

Mesmo após o aumento, os preços continuam bem abaixo dos níveis internacionais, e China tem que importar metade do óleo que consome pagando preços vigentes no mercado global.