sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O QUARTO SELO





“When the third horse loose its black color, there will be sit upon it, The Death.”


Era uma vez, em que eu navegava pela internet empenhado na pesquisa para avaliar o alcance da visão das autoridades brasileiras do setor energético, quando me detive diante de um artigo, de autoria do Sr. Newton Müller Pereira, geólogo pela UFRGS, mestre pela UFBa, doutor pela EPUSP, pós-doutorado pelo SPRU, UK. Professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica do IG/Unicamp. Embora sem data, pude perceber que foi escrito no ano de 2001 onde se lia:


“Com tantos finais a rondar, fomos também contemplados com outra pérola do apocalipse, mais uma daquelas que põem fim a alguma coisa cara à humanidade, à sociedade, e que, recorrentemente, é alardeada na mídia nacional e internacional. Refiro-me, desta vez, ao Fim do Petróleo.”


Mais a frente, neste mesmo artigo, ele passa a combater as idéias de Colin Campbell e Jean Laherrère que, no final de milênio, publicaram na conceituada revista de divulgação Scientific American, sob o título O fim do óleo barato, segundo ele, “a mais recente peça apocalíptica sobre o assunto”. Já na parte final de seu artigo, ele coloca uma visão, a seu ver, não tão otimista:


“Cenários publicados recentemente pelo Grupo Shell e pela Agência Internacional de Energia, já no presente milênio, dão conta que é muito improvável acontecer escassez de óleo antes de 2025, horizonte que pode ser estendido para 2040 através de ganhos de eficiência em veículos e do lado da demanda de um modo geral. Também informam que o custo de produção do barril de óleo deverá se manter, pelo menos até 2025, num patamar inferior aos US$ 20, pressionado por avanços tecnológicos. Os custos decrescentes do biofuel e da conversão gas to liquids, ambos já bem abaixo dos US$ 20 por barril equivalente de óleo, impõem limites ao aumento dos preços do barril de petróleo”.

Hoje, o petróleo está na casa dos US$ 90 o barril e não se sabe até onde chega.
Inevitável que o homem, pois faz parte de sua natureza, tente antever o futuro. Desde a antiguidade os oráculos eram consultados - o que nos espera? – a pergunta que angustia a todos desde que começamos a tentar entender o mundo ou a nos mesmos. Prognósticos dos mais otimistas aos mais catastróficos tendem a invadir a mídia a cada final de ano.

Mas existem os que não se importam com essa questão.

Num domingo desses, exibia na TV um quadro do programa Silvio Santos em que as pessoas teriam que escolher, diante de uma pergunta, o compartimento relativo a resposta correta. Estando a resposta incorreta, o compartimento era fechado e as pessoas que o adentraram, eliminadas do jogo.
Lembro-me, que em determinado momento, a pergunta era: Qual o maior produtor mundial de tomates? E as opções disponíveis eram Brasil, Itália, China e EUA, parece. Após uma breve indecisão, o grupo se dirigiu em bloco para o compartimento relativo a Itália como sendo a resposta correta. Todos foram eliminados porque a China é de fato o maior produtor de tomates do globo.

As pessoas parecem preferir entregar seu destino a outrem ao invés de enfrentar suas próprias decisões. Ou estão enfadadas ou preferem acreditar que no final tudo vai dar certo, que o governo que resolva e não pensam mais a respeito.

"O wonder!
How many goodly creatures are there here!
How beautious mankind is!
O brave new world
That has such people in't!"

Em 1932, Aldous Huxley publicou sua mais famosa obra, Admirável Mundo Novo, uma utopia pessimista que parodiava a obra de H. G. Wells – Men Like Gods, uma utopia otimista. Enquanto o mundo paralelo criado por Wells era uma visão socialmente avançada, centrada na integração do homem, deixando o mundo real do passado conhecido como “tempos de confusão”, Huxley aparecia com uma proposta inversa.



Ele apresentava uma sociedade em que o homem aparecia totalmente divorciado da natureza em um mundo artificialmente construído em que nem mesmo o transporte se fazia por terra. O homem no grau máximo de encapsulamento, onde todos os conceitos primários, tais como valores e família haviam sido rompidos em favor de uma sociedade totalmente mecanizada. Esta sociedade adorava o automóvel como um tipo de religião única, tendo as “catedrais”, em seu átrio central, a exposição constante de um modelo do Ford T, o “T” substituía a cruz.

Ainda, o tratamento mais respeitoso às autoridades desse mundo era de “Vossa Fordência”.

As visões pessimistas se parecem mais com a realidade que depois se apresenta. Até o lado otimista deste terrível quadro, que consistia em um formidável desenvolvimento tecnológico com melhoria da qualidade de vida, malogrou. Se é que podemos considerar uma vida de qualidade, uma mais reduzida, porém livre do envelhecimento e doenças. Mas a vida inconseqüente e alienada, regada a muitas festas e drogas, esta sim é a que se fez prevalecer.

Na década de oitenta, um proeminente cientista inglês, Sir James Lovelock, apresentou um estudo, a Hipótese de Gaia, onde ele fornecia indícios, derivados de suas observações em campo, de que o planeta Terra se comportava como um ser vivo quando parecia controlar a temperatura e a composição química atmosférica, de modo que os mantivesse sempre em condições ideais para o desenvolvimento da vida.

O nome Gaia foi tomado da mitologia grega, a deusa Terra.

A Hipótese de Gaia se tornou a Teoria de Gaia alguns anos depois, à medida que novas evidências eram encontradas e passava a ter mais aceitação no meio científico.

Janes Lovelock foi um dos pioneiros a tratar com a devida seriedade o assunto do aquecimento global. Suas projeções com relação ao assunto no que se refere às implicâncias na vida do planeta não são nada otimistas – mesmo que a humanidade pare de queimar os combustíveis fósseis neste momento, o planeta ainda continuaria aquecendo por centenas de anos – a humanidade terá que se adaptar a um clima infernal.

Apenas uma idéia levou toda a humanidade a estar diante de uma situação equivalente a estar em um barco com o motor quebrado próximo as cataratas do Niágara, sem se dar conta.

A idéia infeliz de que o planeta é como uma espaçonave.

Enquanto estava no mar navegando, eu me debatia com uma questão recorrente. Por que a criação tinha parado no homem? Digo em grau de complexidade. Dos microorganismos até os insetos e vertebrados uma infinidade de formas de vida para culminar no homem como o vivente mais complexo não fazia sentido. Deveria existir alguma coisa mais complexa e acima desta coisa mais complexa outra ainda mais complexa até o infinito.

De repente eu descobri o por quê.

Comecei a imaginar como o macaco, por exemplo, poderia ver o homem. Claro que ele não poderia ver o homem como um animal superior e sim como uma forma peculiar de macaco.
Assim, não caberia em nossa cabeça conceber uma coisa superior a nossa porque nossos padrões de referência são inferiores e não entenderíamos como esse ser superior funcionaria.
Colocamos até os deuses na forma humana. A teoria da evolução contraria as escrituras com relação a existência da figura física do Adão e que tenha Deus criado o homem à sua imagem e semelhança.

Entender como seria a vida de um planeta, um ser que poderia ver com muitos olhos e pensar com muitos cérebros e se multiplicasse internamente e não externamente, seria uma tarefa sobre-humana e absolutamente sem amparo no meio científico.

Sir Lovelock, por isso, teve sua teoria marginalizada por um bom tempo, muito em decorrência do próprio nome. O que leva o nome de uma deusa da mitologia não poderia ser levado a sério no meio científico, estando mais para o mundo das crenças e religiões. Eu seu último trabalho, a Vingança de Gaia, o cientista enfatiza a natureza metafórica da alusão ao planeta como um ser vivo.

No meu entender, só há duas formas de ver o homem no contexto existencial. Ou é uma espécie de praga que acomete o planeta que levará à destruição de ambos, ou é uma manifestação de vida do planeta e, portanto, faz parte dele.
Desisti, depois de muitos anos, de ver o homem no mundo de acordo com a primeira hipótese simplesmente por não fazer bem à minha auto-estima, mas para os estudiosos das escrituras, existe uma passagem interessante que coorobora com meu pensamento:

Ele tomou o cego pela mão e levou-o para fora da aldeia. Pôs-lhe saliva nos olhos e, impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: Vês alguma coisa?
O cego levantou os olhos e respondeu: Vejo os homens como árvores que andam.

Se assim é, este mundo é predominantemente habitado por cegos, e pior, governado por cegos.

A tarefa dos profetas, hoje, está bem mais fácil. À medida que nossos comutadores ganham mais capacidade de processamento, as visões futurísticas se tornaram mais acuradas. Sabemos, por exemplo, que o nosso tórrido futuro estará em condição irreversível quando a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera atingir 500 ppm e que existe uma relação entre a geração do CO2 e a queima dos combustíveis fósseis.

Curioso é que no presente assim como no passado ninguém dá a mínima para os profetas.

Poderíamos dizer que, como no caso do maior produtor de tomates, o problema reside na desinformação. Mas a verdade é que não. O problema reside na falta de vontade de saber. O saber nos tira a inocência e pode nos obrigar a sair de uma posição confortável de que não queremos abrir mão gerando mais um problema, o de consciência.

O petróleo vai acabar um dia, isto é aceito como fato. Que o óleo pode ser substituído, isto ainda está no campo da ficção.

O petróleo, ao contrário do que se prega, é uma fonte renovável, o problema é que o consumo atual é muito maior do que a natureza pode repor. Hoje, para atender a demanda mundial, o petróleo deve jorrar no equivalente a um décimo das cataratas do Iguaçu. E esta demanda vem crescendo e os campos de outrora grande produtividade estão em declínio.

Vários estudos apontam que neste ano a humanidade atingiu o pico da produção. Daqui para frente teremos que conviver com uma escassez crescente e altos preços.


A alta nos preços abre a oportunidade para a entrada dos biocombustíveis. Mas aos níveis de consumo atuais, a utilização dos chamados combustíveis verdes somente para aplicação no sistema de transportes, isto é, para manter em movimento os veículos leves e pesados, ferrovias, navios e aviões, demandaria a produção de 3 ou 4 gigatoneladas anuais de produtos agrícolas somente para este fim. Como hoje a produção mundial está perto de 0,5 gigatoneladas anuais, quase que totalmente direcionada aos alimentos, precisaríamos de mais dois ou três planetas para saciar tamanha voracidade.

Está claro que necessitamos é de uma redução de consumo. Como dizem, tem gente demais neste mundo e vivendo de forma errada.

Curiosamente, as previsões de crescimento mundial de consumo permanecem a despeito do disparo de preços do óleo e dos alertas emanados do IPCC (Painel Inter-governamental de Mudanças Climáticas). As metas estabelecidas no
protocolo de Kyoto já estão comprometidas, como admitiram vários países participantes.

Os efeitos do aquecimento global no Brasil são potencialmente severos. Alterações nas freqüências das chuvas e níveis pluviométricos deverão ser esperadas. Maior temperatura significa mais água sob a forma de vapor, o que pode levar a secas maiores e mais prolongadas e, por conseguinte, menos energia gerada nas hidrelétricas.

Isto sem falar nas possíveis quebras de safras.


Um cenário perturbador, para se dizer o mínimo, fazendo com que as previsões do Livro das Revelações assuma um caráter otimista. Mas ninguém vai poder dizer que não podia ser evitado. Como está escrito:

E quando ele abriu o quarto selo, ouvi a quarta criatura vivente de muitos olhos bradar: Vem!

“And I saw, and behold, a pale horse: and he that sat upon him, his name was Death; and Hades followed with him. And there was given unto them authority over the fourth part of the earth, to kill with sword, and with famine, and with death, and by the wild beasts of the earth.”

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